Rui Rocha reelege-se com Montenegro na mira e Mariana Leitão nas presidenciais

Rui Rocha derrotou Rui Malheiro na Convenção Nacional da Iniciativa Liberal (IL), que decorreu durante o fim de semana no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, convencendo 73,4% dos participantes a votar na lista que encabeçou para a Comissão Executiva, com o outro candidato a obter apenas 26,6% dos votos. No entanto, nos dois dias de trabalhos, Rocha minimizou a disputa interna, e fez de Luís Montenegro o seu rival, sucedendo-se ataques ao Governo da Aliança Democrática, e ouvindo-se, entre outros “provérbios liberais”, que “a diferença entre o socialismo e a social-democracia é a velocidade com que empobrecemos”. Garantido quase à partida o “detalhe” da sua reeleição, numa Convenção Nacional bem mais pacífica e cordata do que a campanha interna e o único debate com Malheiro fariam adivinhar, Rocha começou por criticar a “publicidade enganosa” do PSD, confessando a satisfação por não ter levado o partido para o Governo, enquanto fazia o balanço do seu mandato. Ainda no sábado, ao defender a moção de estratégia global com que seria reeleito, apresentou a IL como única alternativa à “enorme coligação partidária” do Partido do Estado, concluindo que “mais vale acelerar só do que mal acompanhado”. Contou com alguma inspiração do Presidente da Argentina, Javier Milei, adaptando o “afuera!” do sul-americano ao “acelera!” que repetiu enquanto solução para os mais variados problemas. E com ajuda do antecessor na liderança da IL, João Cotrim de Figueiredo, pois o eurodeputado defendeu que “o PSD não é melhor do que o PS” e diagnosticou “apatia total”aos sociais-democratas, criticados por apresentarem um Orçamento do Estado “igual aos do PS”.Apesar das constantes críticas à Aliança Democrática, que se fez representar na sessão de encerramento pelo ministro dos Assuntos Parlamentares - tendo Pedro Duarte saudado a “atitude construtiva, moderação e equilíbrio” de Rocha -, e de o líder reeleito reiterar que o partido deve ter o princípio de apresentar candidaturas próprias nas próximas eleições autárquicas, os membros da IL deram um sinal de abertura. Na votação das moções setoriais, na manhã de domingo, a única rejeitada por larga maioria, dispensando contagem, no recinto e no Zoom, através do qual muitos participaram à distância, face à floresta de braços levantados, concluía que “os valores da IL não se trocam por Moedas”, apelando à recusa de coligações em concelhos como Lisboa e Porto..Segurança e imigração.Após reconhecer, em entrevista ao DN, que um dos erros do primeiro mandato foi não levar a IL a intervir mais cedo nas questões de segurança, Rocha aproveitou o discurso de vitória, que culminou na confirmação de que Mariana Leitão é a candidata presidencial da IL, para anunciar o agendamento de um debate parlamentar sobre o tema, a 12 de fevereiro, no qual o partido apresentará propostas destinadas a “dar mais segurança aos portugueses”. Além da já conhecida inclusão da nacionalidade dos autores e vítimas de crimes no Relatório Anual de Segurança Interna e outras estatísticas oficiais, disse que será proposto o “agravamento de penas desajustadas da realidade” nos crimes de associação criminosa, tráfico de seres humanos e violência doméstica. Vendo Portugal como “um país seguro, mas que em certas zonas tem dados preocupantes”, a IL defenderá a revisão da pena de expulsão do território nacional de estrangeiros, em caso de reincidência ou de crimes graves.Noutro tema marcante, que se vai juntando à descida de impostos e à redução da dimensão do Estado nas prioridades da IL, Rocha concordou que Portugal necessita de imigração “para que a economia funcione”, mas insistiu no reforço da regulação. “Quem tem trabalho, entra; quem cumpre a lei, fica”, expôs, considerando ser claro que “há valores fundamentais da nossa sociedade de que não prescindimos e que devem ser respeitados”.Certo é que outra moção setorial discutida na Convenção, “Imigração: Um Movimento de Liberdade”, subscrita pelos deputados Bernardo Blanco, Joana Cordeiro e Mariana Leitão, na qual se defende “a inclusão, em vez de exclusão e segregação”, foi aprovada, mas com necessidade de contagem: 347 votos a favor, 215 contra e 296 abstenções.Nada que abalasse a paz de uma Convenção Nacional nos antípodas daquela em que Rui Rocha sucedeu a Cotrim de Figueiredo, com 51% dos votos, à frente de Carla Castro (44%) e José Cardoso (3%), acabando esses dois - e muitos apoiantes - por deixar o partido. Desta vez, mesmo o derrotado Rui Malheiro estava satisfeito com o resultado. Com a lista de Bernardo Blanco a ser a mais votada para o Conselho Nacional (onde passa a haver admiradores de Javier Milei, que exibiram uma motosserra de cartão), Mariana Leitão na corrida a Belém, e a IL focada em ser alternativa à Aliança Democrática, todos saíram de Loures prontos a acelerar. De preferência na direção certa..Mulher nascida após 25 de Abril numa candidatura liberal e que “é diferente de todas as outras”.Ninguém ficou espantado no Pavilhão Paz e Amizade quando Rui Rocha confirmou que Mariana Leitão, acabada de ser eleita vice-presidente da sua Comissão Executiva, será a candidata presidencial apoiada pela Iniciativa Liberal (IL). O perfil da deputada, ruidosamente vitoriada pelos participantes na Convenção Nacional, é visto como uma garantia de diferenciação em relação a outros interessados na sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, desde ser uma mulher a disputar votos a Gouveia e Melo, Marques Mendes e André Ventura, até ter nascido após o 25 de Abril, tendo 43 anos em janeiro de 2026. O critério de “haver um Chefe de Estado que já tenha nascido em liberdade” foi enunciado na noite de sábado por Rodrigo Saraiva, numa intervenção em que o vice-presidente da Assembleia da República se autoexcluiu da corrida ao Palácio de Belém.Em resposta ao DN, logo a seguir ao anúncio oficial, Mariana Leitão disse que irá protagonizar “uma candidatura da liberdade contra o medo, do otimismo, da esperança e da ambição”. E garantiu querer “um Portugal que não se conforma e que se revê nos princípios da liberdade individual”, acrescentando que “não é contra ninguém”, a não ser contra “a ideia que se criou de que o país está estagnado e que não se pode sair daqui”.Garantiu ainda que a sua candidatura presidencial, “diferente de todas as outras”, não foi imposta por Rui Rocha, tendo nascido da sua certeza de que “o partido tinha a obrigação de ocupar o espaço das ideias liberais”,Questionada pelo DN, Mariana Leitão confirmou que, “para já”, continuará líder parlamentar da IL: “Havemos de ter muito tempo para falar nisso, mas para já não faço tenção de sair.”.Figuras da Convenção.VencedoresRui RochaTornou fácil o que poderia ser complicado, contendo-se nos ataques à oposição interna. E aproveitou a oportunidade para vincar diferenças face à Aliança Democrática.Mariana LeitãoNão precisava da candidatura a Belém para ser uma estrela entre os liberais. Passou a ser vice-presidente da Comissão Executiva e muitos olham para si como futura líder.Bernardo BlancoO deputado teve uma prova do seu peso junto dos liberais, sobretudo dos mais jovens, com a sua lista ao Conselho Nacional a triunfar na votação mais renhida da Convenção.Javier MileiO Presidente da Argentina passou a ter admiradoresno Conselho Nacional da IL e entrou no discurso de Rui Rocha, que se inspirou no “afuera!” para o “acelera!”..VencidosRui MalheiroA derrota foi inequívoca, com apenas 26,6% de votos para a Lista U à Comissão Executiva, Ainda assim, ficou acima das expectativas e mantém viva a oposição interna.Pedro FerreiraFicou em segundo na corrida entre as listas ao Conselho Nacional conotadas com a liderança de Rui Rocha, apesar de (ou por) ser mais conciliatório do que Blanco. André Serpa SoaresA Lista T tinha sido a segunda mais votada para o Conselho Nacional em 2023, mas agora ficou em quarta, com 10,7%, mostrando que a mensagem de abrangência não passou. Carla CastroSendo verdade que saiu da IL há quase um ano, não deixa de ser bizarro que o seu nome nunca tenha sido referido na Convenção do partido que lhe deu 44% dos votos em 2023.

Rui Rocha reelege-se com Montenegro na mira e Mariana Leitão nas presidenciais

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