Catarina Martins critica investimento na Defesa, Gouveia e Melo valoriza ajuda dos EUA.
Catarina Martins critica investimento na Defesa, Gouveia e Melo valoriza ajuda dos EUA.SIC

Presidenciais 2026. Catarina Martins piscou olho a eleitores do PS e ouviu "marxista" de Gouveia e Melo

Foi na NATO e na economia que divergiram. O almirante é favorável à iniciativa livre e atacou a esquerda. "Não venho de um regime autoritário", respondeu a ex-líder do BE, que elogiou Sampaio e Soares
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Catarina Martins estreou-se em debates contra Gouveia e Melo neste domingo, dia 23 de novembro. Aos primeiros segundos, ouviu um primeiro ataque de Gouveia e Melo, que vinha de um debate com Cotrim de Figueiredo na semana anterior. "Há um oceano de diferenças entre nós", afirmou o almirante, dizendo que Catarina Martins olha para a Constituição de "forma assimétrica", considerando-a "marxista", enquanto se afirma "suprapratidário e pelo mercado e pela propriedade privada."

Catarina Martins respondeu recuando ao almoço de Gouveia e Melo com André Ventura antes da decisão do presidente do Chega avançar a Belém. "Ninguém me diminui por ser eleita nem pelas escolhas que faço. É verdade que não vou passar a falar da extrema direita e o impacto que tem neste governo. Estou aqui para falar sobre a verdade, cumprirei escrupulosamente a Constituição. Gouveia e Melo decidiu ir almoçar com Ventura. Isto sim é falta de independência. Defendeu os magnatas quando decidiu ir almoçar com eles. Não devia almoçar com estas pessoas", ripostou.

Economia marcou maiores diferenças

O tema voltou mais à frente. Na economia, principal área onde divergiram os candidatos. O almirante disse que as "respostas ao crescimento para a economia não vêm de ideologias que não resultaram em Portugal. Por isso temos 20% da população no limiar da pobreza", reiterou. "Não defendo sistemas autoritários. Não sou eu", reagiu Catarina Martins, criticando a postura de Gouveia e Melo, que falou em "derivações de Marxismo", colando a ex-líder do Bloco de Esquerda ao PCP. "Nós já libertámos correios, aviação, energia aos privados. Não percebo onde está Gouveia e Melo. É libertar a economia de quê?", questionou Catarina Martins, ouvindo o almirante defender a libertação "de economia, taxas e impostos."

Catarina Martins tentou apontar diferenças no raciocínio de Gouveia e Melo ao longo de várias intervenções. "Já defendeu o Estado mais pequeno. Já defendeu mais flexibilidade na lei laboral", afirmou.

"Defender o Estado mais eficaz não é defender o que a Iniciativa Liberal defende, de o reduzir muito", responde Gouveia e Melo, que diz não partilhar "a solução do Bloco de Esquerda e de Catarina Martins na habitação porque os particulares não têm de resolver o problema."

Várias menções da eurodeputada a antigos líderes do PS

Quanto aos riscos reais da democracia, Catarina Martins defendeu que "a Justiça tem de estar à altura" e que existe a "degradação do debate político, com ódio, extremismo, indecência." Mas afirma que é na economia que a população perde crédito no sistema político. "Na habitação, temos as casas mais inflacionadas da Europa. Todos temos de ter direito a casa. O descrédito na democracia é quando não há resposta. Jorge Sampaio é um grande caso na coesão. Mário Soares foi também nas comunidades. Não podemos continuar a achar que dependemos do turismo. Quem é que paga o sistema social? Temos um sistema muito injusto. Grandes empresas fogem com 2,9 mil milhões de euros. Por isso digo que não iria almoçar com magnatas. Escolho o meu lado", afirma. Fez três menções a Sampaio e lembrou a ação de Mário Soares a combater os bairros de lata, ex-eleitos pelo Partido Socialista, que têm sido elogiados da esquerda ao centro direita e que podem ser vistas como um piscar de olho ao eleitorado que poderia ser de António José Seguro.

Lei laboral e Saúde com pontos comuns

Martins atacou o projeto de lei laboral que "precariza e não dá condições ao futuro dos jovens, Gouveia e Melo concordou que "os tempos de contrato não deviam mudar" e que o código laboral "mudou há dois anos", não justificando tantas alterações. Também no Serviço Nacional de Saúde, onde a ex-líder do Bloco vincou ser "preciso mexer com as carreiras para que os médicos fiquem no SNS" e onde pediu "autonomia e menos nomeações políticas", vincou que Portugal não pode "continuar a dar dinheiro aos privados".

O almirante critica organização central, pede entidades dispersas pelo território para suplantar a corrida aos hospitais, mas concorda no SNS como ponto essencial. "Na Saúde não faltam recursos, mas falta organização interna. Podíamos meter os recursos todos e não teríamos sucesso. Como marinheiro, digo que temos que definir um rumo e não está claro nesta governação. Defendo esse papel, em que o Estado é essencial. Defendo mais esse, pode ser híbrido, mas o Estado tem de garantir o Serviço Nacional de Saúde de qualidade", acrescenta.

Perigos de extremismo e dissolução do Parlamento

Gouveia e Melo projeta-se "completamente a favor da estabilidade governativa. "Não usaria um mecanismo desses, de dissolução do Parlamento, apenas por mim. Só se fosse muito grave. Até tenho dificuldade em ver isso acontecer. Só em casos de um governo extremista se tentasse alterar na prática a Constituição", afirma, reconhecendo que há "um candidato extremista" a Belém.

Catarina Martins diz que o mesmo uso só em "situação limite", mas lamenta falta de acordos governativos com várias forças. "Sou crítica da forma como Marcelo leu e viu quem eram as forças mais votadas no Parlamento. Foi um jogo taticista e promove-se a chantagem de ir a eleições. No fundo, é preciso um uso mais contido do poder, só em última instância. Sampaio convocou eleições quando Guterres não sentia condições. Fê-lo bem", declarou.

Na Justiça, Gouveia e Melo insurgiu-se com as escutas a António Costa e a políticos sem que estas sejam anunciadas e, sim, feitas por sistema. "Deixámos construir um sistema de vigilância que não está perfeitamente controlado. Na separação de poderes não podemos permitir condicionamento por parte do sistema judicial ao sistema político. Não me deixaram sossegados os esclarecimentos", considerou.

Defesa volta a acentuar diferenças

Por fim, a Defesa. O almirante recusou um "recuo" na questão da NATO e agradece o apoio dos Estados Unidos da América, sem explicar mais em relação à Ucrânia. "Sem os EUA teríamos problemas. Podemos ter um empenhamento mais a Leste, mas temos de cumprir o que os países concordarem", avisou, criticando o "cinismo e incoerência" de Catarina Martins, que diz ter defendido a desmilitarização.

"A aliança com os EUA não garante a proteção à Europa. Vê-se isso no que agora Trump diz. Trump fica com matérias raras, Putin tudo o que quer", disse, criticando as linhas díspares do opositor: "Ouvi Gouveia e Melo dizer que estava contra os 5% de Defesa e que isso favorece as indústrias bélicas e estou de acordo. Nunca defendi o desarmamento unilateral e não me esqueço que Jorge Sampaio travou a ida de jovens para a Guerra do Iraque."

Esta segunda-feira, na RTP, é a vez de Jorge Pinto e Cotrim de Figueiredo debaterem.

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