Presidenciais 2026: Ventura e Seguro com pouco a dizer um ao outro num debate que até teve Bangladesh

Presidenciais 2026: Ventura e Seguro com pouco a dizer um ao outro num debate que até teve Bangladesh

Líder do Chega e antigo secretário-geral do PS protagonizaram o primeiro de uma série de 28 debates entre os oito principais candidatos à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa.
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Imigração marca debate entre dois candidatos com quase nada em comum

O primeiro dos 28 debates televisivos entre os oito principais candidatos à Presidência da República mostrou as claras e evidentes diferenças de tom e ideias entre André Ventura e António José Seguro, provavelmente os dois de entre os mais bem colocados nas sondagens que disputarão menos eleitores entre si.

O antigo secretário-geral do PS optou pela serenidade e por uma interpretação do que deve ser o sentido de Estado, muitas vezes reduzido a "conversa da treta" pelo interlocutor, referindo-se a Ventura como "senhor deputado" e manifestando vontade de o receber em Belém enquanto líder partidário. Seguro foi sobretudo incisivo ao dizer que o líder do Chega estava na eleição errada, visto que a sua ambição passa por vir a ser primeiro-ministro.

André Ventura defendeu uma revisão constitucional que permita um Presidente da República "mais atuante" do que a "jarra de enfeitar" que considera ter sido Marcelo Rebelo de Sousa. No entanto, concentrou-se sobretudo nos temas que são mais caros ao Chega, nomeadamente a imigração. Mais do que às atividades criminosas, ligou os imigrantes ao "bar aberto" que considera existir no Serviço Nacional de Saúde, defendendo que "os portugueses devem estar primeiro" no acesso a tratamentos.

Isso levou a que Seguro o acusasse de estigmatizar os imigrantes, tal como no início do debate Ventura procurara conotá-lo com a governação socialista, com o antigo secretário-geral do PS, afastado da política ativa com a ascenção de António Costa, a oferecer-se para lhe dar o número de telemóvel de José Luís Carneiro.

Ventura quer ser "Presidente dos portugueses de bem" e Seguro acusa-o de "estar sempre com extremismos e ódio"

O debate termina com o tema da imigração muito presente. Depois de André Ventura referir o encerramento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e a "desautorização das polícias" como heranças da governação socialista, António José Seguro defende que os "imigrantes fazem os mesmos descontos". Isso leva o líder do Chega a perguntar se "um português e um do Bangladesh são a mesma coisa" para o outro candidato, que por sua vez recorda os milhões de portugueses que tiveram de emigrar.

"O senhor está sempre a dividir entre os bons e os maus. Para mim, todas as pessoas têm igual dignidade", diz Seguro, o que Ventura considera ser "conversa da treta" que, nas suas palavras, leva a que "os ciganos fazem o que fazem neste país".

"Vou ser o Presidente dos portugueses que querem um país de bem", diz Ventura, conduzindo Seguro a responder-lhe que "o senhor está sempre com extremismos e ódio", mas "o país só é grande quando o seu carácter moral é elevado".

"Não me deixo provocar por si. O senhor nao consegue discutir nos termos da nossa Constituição", disse Seguro.

Acesso a cuidados de saúde traz Bangladesh para o debate

Numa parte do debate em que José Alberto Carvalho quis saber a posição dos dois candidatos quanto ao regime semipresidencialista, com Ventura a defender a alteração da Constituição para que o Presidente da República "ter um papel mais vigilante e atuante", enquanto Seguro não vê "nenhuma necessidade, muito menos no âmbito de uma campanha eleitoral", de seguir esse caminho, ouviu-se falar do Bangladesh.

Quando António José Seguro disse ser inaceitável que se fique semanas à espera de uma consulta ou "meses e anos à espera de uma cirurgia", acabando por entregar a André Ventura um documento com o pacto para a saúde que conta ser a sua primeira prioridade enquanto Presidente da República, o debate derivou para as alegações do líder do Chega quanto aos malefícios da imigração.

Leia em baixo o documento entregue por Seguro a Ventura durante o debate:

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Ventura defendeu que é preciso "pôr os portugueses em primeiro lugar", acusando Seguro de aceitar "que chegue alguém do Bangladesh, da Índia ou do Paquistão e passe à frente dos portugueses na saúde". A esse propósito, o líder partidário descreveu o Serviço Nacional de Saúde como "um bar aberto para o mundo inteiro vir cá tratar-se e curar-se".

António José Seguro disse que o interlocutor, a quem considerou "exímio" a concentrar-se mais nos problemas do que nas soluções, estava a dizer uma falsidade ao repetir que os estrangeiros não pagam pelos tratamentos médicos que recebem em Portugal.

Perante essa acusação, Ventura insistiu que "temos norte-americanos e canadianos a virem para Portugal e a tornarem-se residentes para receber tratamentos para a diabetes ou para o cancro". Seguro voltou a dizer que não era verdade. "Uns pagam e outro não", disse, recordando a tese de doutoramento de Ventura, em 2013, na qual se defendia que "estigmatizar minorias não faz sentido".

Por seu lado, o líder do Chega acusou o antigo secretário-geral do PS de estigmatizar imigrantes ao referir-se-lhes como pessoas que entregam comida ao domicílio. Mas antes dssera que alguns vêm a Portugal para roubar, ouvindo do interlocutor que os imigrantes financiam a Segurança Social com 2,2 mil milhões de euros por ano.

"Sou um Presidente da República que quer dar um murro na mesa", diz Ventura

Ouvindo António José Seguro dizer que quer ser o Presidente da República de todos os portugueses, e que opta por se resguardar no debate com o líder do Chega, "porque daqui a quatro meses irei recebê-lo em Belém", André Ventura respondeu que só está na eleição errada caso se considere que o Chefe de Estado deve ser "uma jarra de enfeitar".

"Sou um Presidente da República que quer dar um murro da mesa", disse Ventura, dividindo ataques entre o interlocutor - "não quer falar de saúde, de corrupção e de justiça", acusou - e aquele que ambos pretendem substituir. Aludindo à deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa às comemorações do 50.º aniversário da independência de Angola, o líder do Chega disse que o Chefe de Estado de Portugal "nunca devia ter permitido a humilhação" de ouvir o homólogo angolano, João Lourenço, criticar a presença portuguesa na sua antiga colónia.

Defendendo que o Presidente da República não deve "andar a beijar a mão a tiranos e a ditadores", Ventura ouviu Seguro garantir que, se estivesse no lugar de Marcelo, também optaria pelo silêncio. Foi quanto bastou para o líder do Chega voltar a agitar o debate. "Eu sei que o senhor não deixa que os seus adversários se possam explicar", disse Seguro, garantindo que não recebe "lições de patriotismo" daquele a quem se voltou a referir por "senhor deputado".

Seguro oferece número de telefone de José Luís Carneiro a Ventura

O primeiro debate entre "presidenciáveis" começou a aquecer depois de António José Seguro dizer que se deve encontrar uma força de levar a que "os nossos jovens não emigrem". Foi o mote para André Ventura dizer que uma das "heranças" deixadas pela governação socialista foi a saída de 30% dos jovens portugueses para outros países, apresentando-o como "o candidato do PS que deixou o país no estado em que deixou".

"Se quer debater com o PS, dou-lhe o número de telefone do secretário-geral José Luís Carneiro. O senhor deputado está na eleição errada", disse Seguro, acusando o adversáro de se "borrifar para os votos dos portugueses" que votaram no Chega nas eleições legislativas.

André Ventura contra-atacou, dizendo que Seguro "tem vergonha da herança do PS" e apresentou-o como "representante de todo o mal que o PS fez ao país".

Ventura diz que "é preciso uma revisão da lei laboral, mas não esta"

André Ventura faz por se distanciar do pacote laboral do Governo, argumentando que não faz sentido reduzir direitos de amamentação num país que sofre com quebra de natalidade, alargando as críticas à "injustiça brutal" que diz existir com quem trabalha por turnos. "É preciso fazer uma revisão da lei laboral, mas não esta", disse o líder do Chega.

No entanto, Ventura também disse, por entre críticas a "tipos que não trabalham há 20 ou 30 anos", que um dos problemas de Portugal passa pela existência de legislação datada. "Não há economia vibrante com leis dos tempos do PREC", realçou, dizendo que, sem pôr em causa o direito à greve, os utentes deveriam ser compensados pela falta de transportes públicos ou de atendimento hospitalar. E repetiu o argumento de que existe um sistema que leva a que seja mais vantajoso receber subsídios do que trabalhar.

Seguro diz que compreende greve geral e apela ao diálogo

Respondendo a uma pergunta sobre se promulgaria o pacote laboral que é defendida pelo Governo da AD, António José Seguro disse que as alterações são "desequilibradas e não foram a votos", pelo que "atentam contra os direitos dos trabalhadores".

Dizendo que a greve geral convocada pelas duas centrais sindicais será um sinal que os governantes "não deram outra saída" aos trabalhadores, Seguro deixou o desejo de que "se chegue a um consenso" e apelou ao diálogo.

Seguro começa e Ventura vai acabar

O debate começa com o moderador José Alberto Carvalho a anunciar que o sorteio ditou que a primeira pergunta será colocada a António José Seguro, enquanto André Ventura encerrará o debate.

Sondagens têm colocado ambos entre os quatro primeiros

Presidenciais 2026: Ventura e Seguro com pouco a dizer um ao outro num debate que até teve Bangladesh
Sondagem. Marques Mendes ultrapassa Gouveia e Melo, Cotrim aproxima-se de André Ventura

A mais recente sondagem da Pitagórica, revelada nesta segunda-feira, coloca António José Seguro em terceiro lugar nas intenções de voto para as eleições presidenciais, com 17,4%, à frente de André Ventura, que surge em quarto, com 14,7%. À frente está agora o social-democrata Marques Mendes, com 22,6%, em empate técnico com Henrique Gouveia e Melo, que tem 21,1%.

Certo é que nas várias sondagens, realizadas pela Pitagórica, Intercampus e Aximage - esta última divulgada pelo DN -, os dois candidatos que vão debater nesta segunda-feira, na TVI, estiveram sempre entre os quatro principais. E, no caso do líder do Chega, em posição de disputar a segunda volta.

Politólogos duvidam que debates tenham impacto 

O DN ouviu os politólogos Riccardo Marchi e Patrícia Calca sobre a importância que os debates entre presidenciáveis terá na definição do sentido. Por motivos diferentes, ambos convergiram na ideia de que poderão ter um impacto reduzido na decisão que será tomada pelos eleitores portugueses.

Primeiro debate entre 'presidenciáveis' é na TVI

André Ventura e António José Seguro vão arrancar a maratona de 28 debates televisivos entre os oito principais candidatos às eleições presidenciais de 18 de janeiro de 2026. O líder do Chega, que foi o terceiro mais votado em 2021, sem evitar a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, encontra o antigo secretário-geral do PS, que avançou para a corrida a Belém muito antes de contar com apoio do seu próprio partido.

O debate vai decorrer na TVI, às 21h00, com moderação de José Alberto Carvalho, e será acompanhado ao minuto no site do DN.

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