O Orçamento de Estado na especialidade confirmou o cenário já avançado na generalidade. O PS absteve-se, dando garantia anterior, atempada, que iria fazê-lo, de modo a viabilizar o orçamento e, consequentemente, a continuidade do governo de Luís Montenegro, que teve votos a favor de PSD e CDS-PP. O Chega, desta feita anunciando de véspera que iria votar contra o documento, sai com 13 propostas aprovadas pelo Partido Socialista e com críticas tão ferozes ao Executivo como o PS. Em sentido contrário, José Luís Carneiro e a sua bancada viram o dobro, 26, serem aprovadas. Esta conversa a três teve repercussões finais, prometendo cenas para os próximos capítulos e Luís Montenegro, aos jornalistas, admitiu que o “Orçamento não saiu desvirtuado”, mas não gostou de algumas associações das duas maiores forças de oposição nas portagens, propinas e aumentos nas forças de segurança. “Do ponto de vista democrático, infelizmente os dois maiores partidos da oposição não resistiram à tentação de invadir a esfera de atuação do poder executivo”, criticou, considerando que houve “leilão” entre ambos. O sorriso de Miranda Sarmento, porém, não passou em claro aos jornalistas. O Orçamento não teve derrapagem suficiente para ser perigoso e Montenegro reconheceu-o, colocando abaixo de 100 milhões de euros as possíveis alterações de lei, apesar do desconforto com as negociações paralelas. Hugo Soares acusou André Ventura de mentir quando alegou o aumento de impostos e o secretário-geral do PSD chegou irritado ao palanque do hemiciclo depois de ouvir o líder do Chega “O PS é uma muleta inútil e desnecessária de um Orçamento que não desenvolve e que peca por ter vícios nas taxas”, disse André Ventura, explicando que não aprovou a proposta de pensões do PS “pelas artimanhas utilizadas no IRC.” Disse que “coligações só com os portugueses”, aconselhando a negociação à direita para Montenegro.José Luís Carneiro evocou a celebração dos dez anos de governação de António Costa, uma menção elogiosa que não pode ser descurada para o futuro. E, pela primeira vez como secretário-geral, saudou no Parlamento “todas as forças políticas que demonstraram haver política alternativa austeridade de direita”. Um possível piscar de olho à esquerda, é o que se verá no futuro. Ao Governo, disse que “este Orçamento não é do PS, não responde à visão de desenvolvimento do país, de política económica e é contrário às opções de política social”, caracterizou de “caos” a Saúde e promete “atenção ao PRR”. Ao Chega, apontou a necessidade de o PS garantir governabilidade. “Não fosse o sentido de responsabilidade do Partido Socialista, Portugal estaria novamente mergulhado numa crise política com consequências imprevisíveis. O Governo não tem desculpas para não cumprir tudo com o que se comprometeu”, finalizou, reforçando a defesa da estratégia de abstenção e as poucas mexidas económicas no documento.Todas as restantes bancadas votaram contra o Orçamento. Mariana Leitão criticou o aumento de despesa no Estado de 17 mil milhões de euros para justificar o voto da Iniciativa Liberal, repetindo o argumento da “pouca ambição” e lamentando a falta de reforma no Estado; Rui Tavares, que elogiou António Costa noutros tempos, disse que Montenegro “teve sobranceria ao nível de uma maioria absoluta de Costa”, criticando as abstenções do PS. O PCP apontou uma “política de injustiça, do desmantelamento do SNS, do assalto à Segurança Social, da entrega da habitação à especulação”, prevendo a lei laboral concertada entre IL, Chega e PSD. Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, disse que a “história deste Orçamento foi a história de três partidos a gerir o poder”. Por fim, PAN e JPP, que se tinham abstido na generalidade, votaram contra na especialidade. Além da redução do IVA na carne de caça e a manutenção de taxas máximas nos cuidados veterinários, Sousa Real criticou “falta de abertura ao diálogo”. Filipe Sousa crê que a “mobilidade é um luxo para o Governo” e que “madeirenses e açorianos merecem mais.” .Chega e PS convergem em alterações ao Orçamento de Estado, mas estão indisponíveis para negociar entre si.OE 2026: Chega aprova 15 propostas socialistas