O momento é raro, até porque o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, não costuma receber muitos primeiros-ministros em audiência, mas será feita uma exceção para o chefe do Governo português, que começa esta terça-feira, 9 de setembro, uma visita a este país. Luís Montenegro terá de reunir toda a sua capacidade de diálogo, até porque o mundo “precisa de países que sejam capazes de ouvir os dois lados da contenda”, contribuindo “para que partes que estão mais ou menos desavindas consigam conversar”, apontou ao DN o professor de Ciência Política na Universidade Católica e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa Bernardo Ivo Cruz, em alusão à proximidade da China com a Rússia, plasmada na semana passada numa parada militar que reuniu o presidente chinês aos seus homólogos russo, Vladimir Putin, e norte-coreano, Kim Jong-un - como forma de celebrar os 80 anos que passaram desde o fim da Segunda Guerra Mundial no Pacífico -, e tendo em conta que Portugal é um país da NATO, que tem assumido uma posição de apoio à Ucrânia.Esta segunda-feira, 8 de setembro, já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que integra a comitiva de Montenegro, num momento preparatório da visita do primeiro-ministro, tinha sublinhado o “papel único” da China “que poucas outras potências mundiais terão” no que diz respeito a influenciar a “Federação Russa a aceitar um cessar-fogo e um processo negocial tendente à paz” na Ucrânia.Paulo Rangel prestara declarações após um encontro com o seu homólogo chinês, Wang Yi, no Grande Palácio do Povo.“Portugal é um país que não tem dúvidas sobre onde é que se posiciona”, continua Bernardo Ivo Cruz, enquanto elenca os argumentos para sustentar esta análise: “É membro da União Europeia, membro da Nato, um país empenhado no multilateralismo, nas relações internacionais reguladas e no direito internacional.”E Portugal, de acordo com o politólogo, mantém-se assim “há 50 anos e não muda quando muda governos”. De igual modo, “não há como não ser, porque Portugal, para garantir os seus interesses estratégicos, tem que viver num mundo regulado. Nós não temos nem a capacidade nem a vontade de impor os nossos interesses a ninguém”, sustenta o professor, acrescentando que “temos que negociar, fazer isto através do direito, através das organizações internacionais”.Para além disso, Portugal tem uma relação de 500 anos com a China e está a meio do período de transição de Macau, cujo quadro permitiu “um conjunto de fóruns de diálogo”, remata Bernardo Ivo Cruz.Além desta ligação, a “China, devido ao seu posicionamento, face à guerra na Ucrânia, e por ser um dos BRICS - grupo de potências emergentes, como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que tentam ser uma alternativa ao sistema internacional, global, liberal, liderado pelos Estados Unidos, coloca os países europeus numa situação difícil”, explica o professor de Relações Internacionais na Universidade do Minho José Palmeira, lembrando que os Estados Unidos “elegeram a China como principal adversário” na guerra comercial.Momento delicado para o JapãoDepois da China, Luís Montenegro, neste périplo de quatro dias, ruma ao Japão, que atravessa “uma crise política”, lembra José Palmeira”, sugerindo que talvez o momento não seja propício para a visita. Ainda assim, “Portugal tem todo o interesse” em visitar o Japão, porque “é uma potência tecnológica e, ainda por cima, também no plano militar está em crescimento e em investimento”, explica o professor, enquanto esboça o equilíbrio estratégico português. “O Japão, sendo um país oriental, costuma estar incluído no chamado ocidente alargado, isto é, além dos países ocidentais que apoiam a Ucrânia, também outros países orientais, como a Coreia do Sul, e da Oceânia, como a Austrália e a Nova Zelândia, têm feito parte desse” conjunto, conclui..Luís Montenegro encontra-se com Xi Jinping e Shigeru Ishiba em visita à China e Japão.As novas armas que a China mostrou a Putin e Kim Jong-un no desfile militar de Pequim