José Luís Carneiro está há seis meses como secretário-geral do Partido Socialista e, ao DN, fez um balanço interno, abordou, com críticas o governo de Luís Montenegro, lamentando que o PS não seja chamado a intervir em negociações. Perspetiva ainda as Presidenciais de 18 de janeiro, com um pedido de voto útil em Seguro, da esquerda ao centro-direita. O que sente que mudou no PS desde julho?O que tenho sentido é que, pouco a pouco, o PS tem vindo a recuperar uma relação de confiança com os portugueses. O resultado das últimas eleições legislativas - que só aconteceram pela exclusiva responsabilidade do PSD - não foi bom, temos de o assumir. Temos pela frente um caminho muito difícil, que estou a fazer com os meus camaradas e com os portugueses, sem pressas nem hesitações. A recuperação dessa confiança passa por sermos um partido responsável, de oposição firme, mas propositiva, apresentando as nossas soluções para os verdadeiros problemas que afetam as famílias. Estaremos preparados para assumir responsabilidades, quando os portugueses o decidirem.Entende que existe uma pacificação à sua volta, sem críticas, até agora, de militantes com impacto mediático?Sinto o partido unido e tenho sentido dos nossos militantes, sem exigirem contrapartidas, uma grande generosidade e uma perceção clara daquilo que é preciso fazer e trabalhar para voltar a colocar o PS como a principal força política em Portugal. E isso passa por termos também nervos de aço e não irmos precipitadamente ao conflito sem consequências para que muitas vezes nos convocam. Paulatinamente, vamos fazer o nosso caminho, juntos, para afirmarmos as nossas políticas. De uma forma responsável, escutando o que os portugueses nos pedem. É essa a linha que defini e sinto que o PS partilha desta ideia.A abstenção no Orçamento do Estado foi a decisão mais difícil de tomar até aqui?Não particularmente. Foi uma decisão muito participada, com consenso em todos os principais órgãos, e resultado da nossa responsabilidade. O país não perceberia uma nova crise política, poucos meses depois de ter havido eleições. Era preciso evitar que o Governo tivesse desculpas para não cumprir o PRR e as promessas que fez ao país. Se não fosse o PS, Portugal estaria neste momento mergulhado numa profunda crise política e sem saída à vista, até pelas limitações constitucionais que impediriam a convocação de eleições legislativas. A estabilidade é um valor, mas desde que cumpra os objetivos do desenvolvimento, dignidade e justiça social. Quem tem a responsabilidade de construir a estabilidade é mesmo o Governo…Escreveu cartas e pediu mudanças na Saúde, Habitação e Justiça. Acha que Montenegro ouviu as suas preces e vai implementar medidas do PS? Essa é uma pergunta que deve ser feita ao primeiro-ministro. O que lhe posso dizer é que se escutasse mais o PS, o país já teria dado passos mais consistentes para resolver alguns dos seus problemas estruturais, como esses que apontou. Portugal precisa de políticas mais efetivas, que exigem continuidade e menos experimentalismo. Também apresentámos uma proposta importante na área da Defesa, para que possa funcionar como uma alavanca para a modernização e inovação económica, promova o emprego qualificado e a coesão territorial. Na área da Saúde, avançámos com uma proposta, com provas dadas noutros países, que teria tido resultados muito positivos na emergência hospitalar. O Governo não tem demonstrado vontade para que isso aconteça.Para 2026, promete uma oposição mais forte ao Executivo ou isso depende da própria postura do Governo, se estiver mais encostado ao Chega?O Governo tem feito as suas escolhas e, nas matérias fundamentais, tem escolhido o Chega como parceiro, o que aliás já lhe valeu várias derrotas no Tribunal Constitucional. Achamos que é um erro e temo-lo denunciado. Apresentaremos propostas credíveis em todas as áreas do desenvolvimento nacional. Desde a primeira hora da viabilização do OE para 2026 que o Governo tem vindo a faltar à palavra dada e a sua arrogância tem aumentado. Prometeu não aumentar impostos e já aumentou dois: o Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e o IMI. Disse que o PS tinha feito mal as contas sobre o saldo na Segurança Social e os factos demonstram que estivemos certos. E, à conta disso, chumbou as nossas propostas para o aumento permanente das pensões mais baixas e a redução do IVA sobre produtos alimentares.Levar António José Seguro à segunda volta das Presidenciais seria uma vitória do PS?O PS não concorre a estas eleições. Seria um bom resultado para o país e para a democracia. É muito importante que António José Seguro, que é o candidato apoiado pelo PS, fosse à segunda volta e fosse eleito, permitindo algum equilíbrio a um sistema político que está demasiado inclinado para a direita. A AD governa o país, as regiões autónomas, tem mais autarquias. É o único candidato de esquerda, da área do socialismo democrático, que tem condições de passar à segunda volta. Era muito importante que o povo de esquerda, mas também os democratas do centro e até do centro-direita, concentrassem os seus votos em Seguro.."Era muito importante que o povo de esquerda, mas também os democratas do centro e até do centro-direita, concentrassem os seus votos em Seguro"José Luís Carneiro ao DN."Estaremos preparados para as responsabilidades quando os portugueses o decidirem. O país não teria percebido uma crise política"José Luís Carneiro ao DN.José Luís Carneiro apela à mobilização do PS em torno da candidatura presidencial de Seguro.Presidenciais. José Luís Carneiro e António José Seguro afinam ideias em reunião esta segunda-feira .José Luís Carneiro dá liberdade de decisão às concelhias nos orçamentos municipais