Isaltino Morais procura o décimo mandato como presidente em Oeiras. Destaca ao DN que não deseja uma vitória tão contundente como em 2021, acima dos 50% dos votos. Ataca a oposição de esquerda e defende-se das várias polémicas e das acusações de egocentrismo. Nove vezes eleito na presidência em Oeiras. O que falta fazer?O grau de exigência dos cidadãos de Oeiras está muito acima do nível de exigência dos cidadãos da área metropolitana de Lisboa ou da maior parte do país. O grau de exigência dos cidadãos vai evoluindo em função das necessidades que são satisfeitas. Na Educação, há sempre escolas a recuperar, a conservar, a requalificar. Há sempre um pavilhão desportivo que faz falta se aumenta o número de praticantes desportivos. Se fazemos mais bibliotecas temos de contratar mais funcionários. Temos bolsas de estudo para os jovens que terminam o 12.º ano terem acesso à universidade. Definimos que quem tem agregados familiares até 50 mil euros por ano tem direito à bolsa de estudo, ou seja com rendimentos de 3750 euros, mas depois o upgrade tem de se fazer. Iremos para quem tem 4000, 5000 euros, por aí fora. Isto para lhe dizer que falta fazer muita coisa. É o último mandato. Não me posso candidatar mais, é o terceiro mandato desta terceira série. Oeiras já é o concelho com a população mais qualificada a nível nacional. O problema da fixação de jovens a Portugal tem apenas a ver com o rendimento, mas o papel do município de Oeiras é considerar que devemos criar todas as condições para que os jovens realizem todo o seu potencial. Nos últimos quatro anos investimos cerca de 7 milhões de euros só em bolsas de estudo.A aposta nos parques tecnológicos colocou Oeiras no mapa. Essa aposta, hoje, deve ser complementada com o estímulo às pequenas e médias empresas?Oeiras é a segunda economia nacional. Está logo a seguir a Lisboa. O volume de negócios de Oeiras são 35 mil milhões de euros por ano. Num cantinho de 48 quilómetros quadrados, com 170 mil pessoas, nasce a segunda economia nacional. Ora, isto porquê? Justamente porque os parques tecnológicos foram a alavanca. Paralelamente, aparecem barbeiros, restaurantes, gabinetes de estética, a economia, ela própria, se autoalimenta. Respeitamos aquilo que são as necessidades das empresas. Porque gostam os ricos de ir para a Quinta da Marinha ou para Vale do Lobo? Já pensou nisso? Porque se sentem mais seguros. Os ricos sentem-se seguros uns ao pé dos outros.Acha que isso é necessário?Não estou a dizer se é necessário. Uma empresa de prestígio não gosta de estar ao pé de um sucateiro de automóveis. Não gosta de estar ao pé de um clandestino qualquer. Não gosta de estar num território desorganizado, desarrumado. O nosso problema é que o território tem limitações. Há pouca coragem na classe política. Particularmente no centro, no PS e PSD, por se deixarem encurralar pela norma social que determina o politicamente correto. Não há solos urbanos. Acabou-se com os solos urbanizáveis, em 2014, fez-se aumentar o preço. Recusa-se a habitação, a construção, a disponibilidade de terrenos para as empresas tecnológicas, em nome da biodiversidade. Se Portugal não oferece condições na área metropolitana de Lisboa, as grandes empresas multinacionais vão para outro país.O que definiu como prioridade para a habitação? Oeiras vai prosseguir exatamente com o mesmo que tem feito nos últimos 30, 40 anos. É a política mais eficiente a nível nacional. Tínhamos 6000 famílias a viver em barracas, não temos nenhuma. Utilizámos até a exaustão o Plano Especial de Realojamento de 1993. Depois disso, não houve mais políticas de habitação a nível nacional. Já recuperámos mais de 30 prédios degradados, a pensar na habitação jovem, tudo exclusivamente financiado pela Câmara.Tem a meta de atingir mais habitação pública?Temos 750 casas em construção, até junho do próximo ano são entregues mais umas 300. A maior falácia que a extrema-esquerda conseguiu vender a Portugal é de que essa alteração à lei dos solos ia gerar especulação imobiliária. O que não está no mercado não gera especulação. A habitação pública está fora do mercado. Temos 2% de habitação pública em Portugal, isso devia envergonhar-nos. Os privados estão para ganhar dinheiro e constroem para quem tem dinheiro para comprar. Quem não tem dinheiro para comprar nem para arrendar está fora do mercado. Tem de ser o Estado a resolver. Já temos o levantamento de terrenos rústicos que nos vão permitir construir mais 2500 casas, além das 1500 que estão em curso. É possível construir habitação pública a custos controlados desde que haja terreno que não ultrapasse os 100 a 200 euros o metro quadrado.No vale de Miraflores, optou-se por construção em alto. É um modelo a seguir, mesmo tendo em conta que estavam aprovadas moradias para essa zona?O Parque Urbano, na margem direita da Ribeira, tinha torres como tem do outro lado da estrada. E o que o plano de agosto de 1985 fez foi retirar as casas da previsão, porque senão não havia espaço verde nenhum. E muito bem. Este presidente de Câmara nunca teve qualquer responsabilidade naquela matéria. Se o plano está aprovado, se o proprietário faz um projeto de loteamento, a Câmara Municipal tem de aprová-lo.A esquerda mencionou o risco de colapso da ribeira canalizada de Algés e os resíduos com amianto espalhados nas praias. Está sensibilizado para isso?São oportunistas puros. Quando a Câmara Municipal se prepara para fazer qualquer coisa, reclamam. Desde 2009, quando fizemos um acordo com Sócrates, que temos a noção da necessidade de intervenção na ribeira. Era um investimento na ordem dos 30 milhões de euros. Mas esse governo caiu. No tempo da Troika não havia dinheiro para isso. Com António Costa, íamos fazer um contrato e o governo caiu. Assinámos outro acordo com o governo do Dr. Luís Montenegro, passado dois meses o governo caiu. A ribeira está amaldiçoada [risos]. As obras farão a correção de patologias existentes na atual secção da Ribeira, depois ficará concluída a revisão do projeto que vai permitir a duplicação da ribeira até à foz. Já começámos também a limpeza da praia da Cruz Quebrada. A esquerda tenta dar a impressão de que nada acontece se não nos pressionarem. É oportunismo.Falta oposição em Oeiras?Há uma oposição construtiva, que é do PS e do PSD. São dezenas as propostas da vereadora do PSD que foram aprovadas pela maioria na Câmara. São várias as propostas da vereadora do Partido Socialista que foram aprovadas. Das propostas da vereadora da oposição do Livre, BE e Volt, 99% são chumbadas. São apresentadas várias propostas que já estão em andamento. A esquerda faz oposição de natureza pessoal.Acha importante fazer propaganda às políticas? Não considera pouco ético publicitar restaurantes no concelho?O que tem isto a ver com ética?! O meu objetivo não são os votos, tive oito vereadores em 2021, não estou interessado em ter mais. Com seis governa-se, com sete é consolidado. Prefiro ter oposição na câmara a ter oposição nas ruas. Posso é dizer-lhe que existem candidatos e presidentes que já afirmam que usam o meu estilo. Nas redes sociais dizem-se muitas mentiras, mas não podem ser ignoradas. Tem um poder de chegada que milhares de campanhas não conseguem ter. Agora toda a gente me pede para fazer vídeos, mas não tenho tempo. A questão dos restaurantes nasceu daquela rábula do Ricardo Araújo Pereira. Coloco um restaurante de dez em dez dias, não tinha noção do impacto que iria ter. Os restaurantes estão cheios ao almoço e ao jantar e há pessoas que me dizem que vieram de Santarém, de Cascais, de Lisboa para comer lá porque viram o meu vídeo. Numa sondagem interna, percebemos que a larga maioria das pessoas não sabe o que estamos a fazer. Faz parte da cidadania estar informado.Teme que os 139 mil euros pagos em almoços de trabalho em seis anos impactem a eleição?Não tem impacto nenhum. Isso é uma questão para consumo dos próprios partidos políticos e para efeitos mediáticos. Onde há desenvolvimento, não há corrupção. Onde há desenvolvimento, não há desonestidade. Os almoços acontecem em todas as câmaras E bem. As pessoas também não são escravas. Há visitas que duram o dia todo. 20 anos depois volta a ter o PSD ao lado. A que se deve a decisão? Dá-me alguma satisfação. É importante que o tempo também seja responsável por mostrar às pessoas que estão erradas na avaliação que fazem. E, por outro lado, há também alguma hipocrisia, naturalmente. Acho que, ao nível do PSD, não será apenas uma questão de interesse. Há quem diga que o PSD decidiu não apresentar a candidatura com medo de não eleger ninguém. Mas não concordo. Atenção, não tenho qualquer acordo com o PSD, mas em 2021 estava tudo preparado para fazer um acordo, conversado com o Dr. Rui Rio. No entanto, dois membros da comissão política opuseram-se. Todos os líderes do partido, exceção a Marques Mendes, tinham excelente relação comigo.A oposição apelida-o de egocêntrico. Oeiras é governada por um homem só?As pessoas não votam em mim pelos meus lindos olhos. É porque faço as coisas. Mas o nível de descentralização aqui é extraordinário. É uma grande equipa.Dá-lhe gozo que Carlos Moedas tenha requisitado a vereadora Joana Baptista a Oeiras?É uma demonstração do que fazemos. É uma grande aquisição para Lisboa. É uma perda para nós, mas será mais fácil substituí-la do que Moedas arranjar outra pessoa com tanta qualidade. Em seis meses, o espaço público em Lisboa estará mais bem tratado. .Última dança de Isaltino depende muito das polémicas e menos da força da oposição .Ana Sofia Antunes ao DN: "São quase 40 anos de poder com vícios adquiridos e personalidade egocêntrica".Buscas na Câmara de Oeiras visam "almoços de trabalho". Isaltino Morais de "consciência tranquila".Anúncios pagos de Isaltino na Meta violam a lei por ocultar cariz político