Os dois partidos da AD, que governam juntos o país, as duas regiões autónomas e dezenas de municípios, mas são rivais em Vieira do Minho, devem ficar sem os seus cabeças de lista à assembleia municipal nas eleições de 12 de outubro, António Cardoso (PSD) e Julieta Tinoco (CDS-PP). A guerra autárquica, travada a 400 quilómetros de Lisboa, inclui tribunais, telefonemas anónimos e até represálias, com alegações de despedimento da centrista por um superior hierárquico que é candidato social-democrata.O mau relacionamento entre os partidos, que também ali foram parceiros de coligação autárquica até 2021, agravou-se quando o CDS, que teve 3,07% dos votos há quatro anos, requereu ao Tribunal de Braga que declarasse a inelegibilidade de António Cardoso, escolha do PSD para cabeça de lista à assembleia municipal. E viu reconhecido que o ex-presidente da Câmara de Vieira do Minho, que deixou o cargo no início do ano, assumindo a presidência do conselho de administração da Águas do Norte, não poderia integrar o órgão de fiscalização do executivo, pois a empresa é concessionária exclusiva da exploração e gestão do sistema multimunicipal de abastecimento de água e saneamento público, tendo “relações especiais e permanentes” com a autarquia.O despacho judicial foi divulgado a 26 de agosto pela concelhia centrista, defendendo-se que tal decisão veio “garantir a aplicação da lei e a proteção da ética democrática no exercício de cargos autárquicos”. Mas o PSD aguarda pelo recurso interposto no Tribunal Constitucional, sem se conformar com a substituição do cabeça de lista, que surge na propaganda eleitoral ao lado do candidato à câmara, Afonso Barroso, vereador do executivo agora presidido por Elsa Ribeiro.Só que também o CDS deve ficar sem cabeça de lista à assembleia municipal, pois Julieta Tinoco manifestou intenção de desistir, com os dirigentes centristas a relatarem ameaças em telefonemas anónimos, que terão deixado a sua candidata “literalmente aterrorizada”. E na iminência de perder o emprego, enquanto fisioterapeuta da Santa Casa da Misericórdia de Vieira do Minho, cujo provedor é Luís Carneiro, número dois do PSD para a assembleia municipal, logo atrás de António Cardoso.Contactado pelo DN, Luís Carneiro negou qualquer perseguição a Julieta Tinoco - que não respondeu a sucessivas tentativas de contacto, ao longo dos últimos dias -, garantindo que “não fazia a mínima ideia de que era candidata”. E diz que, na carta enviada à centrista, cujo contrato termina no fim de setembro, explicou que a não renovação decorre da falta de inscrição na Ordem dos Fisioterapeutas, para a qual estaria a ser alertada desde o início do ano.Apesar disso, a líder concelhia centrista, Neli Pereira, que apresentou nesta segunda-feira a sua candidatura à Câmara de Vieira do Minho, tendo a seu lado Nuno Melo, presidente do CDS e ministro da Defesa, disse ao DN que teve “imensas desistências” porque as pessoas “têm receio de aparecer nas listas”. .“Patrão” de Hélder Amaral com Fernando Ruas em Viseu .A relação difícil entre algumas candidaturas dos dois partidos da AD, que estão coligados em concelhos como Lisboa, Porto, Vila Nova de Gaia, Braga, Cascais, Coimbra, Aveiro e Faro, é muito evidente em Viseu. Mais uma vez candidato do PSD, Fernando Ruas vai enfrentar o ex-deputado centrista Hélder Amaral, que é assessor de Miguel Pinto Luz. Por coincidência, ou talvez não, o ministro das Infraestruturas foi o escolhido para representar a direção nacional social-democrata na sessão de apresentação da recandidatura para o que o "dinossauro autárquico" garante ser o último mandato.