Manifestação em Lisboa teve milhares de pessoas
Manifestação em Lisboa teve milhares de pessoasPaulo Spranger

Governo desconhecia existência de quarto português na Flotilha

Executivo garantira acompanhar a situação, mas soube pelos familiares do ativista Diogo Chaves. Rebelo de Sousa falou com Bloco. Quarteto está num porto israelita, ainda sem contacto com Portugal.
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A Flotilha Humanitária que rumava a Gaza foi intercetada pela marinha israelita ao fim do dia de quarta-feira, a cerca de 130 quilómetros da Costa de Gaza. A atriz Sofia Aparício e a coordenadora do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua foram detidas inicialmente, mas confirmou-se o mesmo cenário com o ativista Miguel Duarte, que seguia noutra embarcação.

O espanto maior deu-se na manhã de ontem ao saber-se que havia mais um português a bordo: o ativista Diogo Chaves, que terá entrado na comitiva em Barcelona. Os familiares do cidadão informaram o Estado português, que garantira estar a acompanhar, desde início, a campanha humanitária mas que, no entanto, desconhecia a existência de um quarto português a bordo de uma das quase 40 embarcações que rumou a Gaza.

Até ao fecho desta edição os portugueses não tinham acedido aos telefones para comunicações. Foi Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, a comunicar, em reunião com os dirigentes do Bloco de Esquerda Jorge Costa, Joana Mortágua e Fabian Figueiredo o paradeiro dos portugueses, que estarão, alegadamente, no porto de Ashdod, esperando ser repatriados. “Nenhuma informação relevante nos foi comunicada por parte do Governo. Foi pelo Presidente da República, agora, que soubemos que os quatro portugueses se encontram em terra, num porto israelita, e que existe a possibilidade, ainda não confirmada, de serem visitados pela embaixadora portuguesa em Israel”, disse o número 2 do Bloco, Fabian Figueiredo. “Estamos muito esperançados de que, na sexta-feira de manhã [hoje] possamos ter finalmente acesso consular. Queremos garantir que os cidadãos portugueses sejam tratados com dignidade e possam voltar em segurança para as suas famílias”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel, que, recorde-se, se mantivera em silêncio quando a Flotilha foi atacada por drones.

A preocupação internacional com os vários ativistas levou a que os estados procurassem garantir que, apesar de cativos, não existiriam consequências físicas para os cidadãos. Luís Montenegro, a meio da tarde, recusou a expressão “detenção”, falou em estarem a cargo da “responsabilidade de Israel” e garantiu, em Copenhaga, que “todos os que foram intercetados” estavam em boas condições”. Declarações após uma reunião com o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, ainda sem dar certezas do paradeiro dos ativistas.

Em Israel, a polícia poderá apresentar 250 ativistas a tribunal para deportação posterior para Londres ou Madrid. Marcelo Rebelo de Sousa deu novos pormenores ao final da tarde. "Vai ser apresentada uma escolha aos detidos. Ou assinam um documento, dizendo que saem com a sua concordância do território de Israel, e aí, Israel cobre as despesas dessa saída o mais rápido possível. Ou preferem a outra via que é ficar em território israelita e nessa medida iniciar o processo que conduz à intervenção do juiz, que depois decidirá em que termos ocorre essa saída - e aí já o Estado de Israel não cobriria essas saídas”, revelou o Presidente da República.

Dividem-se as considerações: entre detenção, rapto ou até a legalidade da ação de Israel em águas internacionais, mesmo assumindo que há um conflito no seu território. “É um ato ilegal”, disseram Rui Tavares do Livre e Marisa Matias, do Bloco de Esquerda. O PCP mencionou que se tratou de “pirataria” pelo secretário-geral, Paulo Raimundo. Marisa Matias pediu “sanções para Israel” pela ação de detenção e pelo genocídio em Gaza, Rui Tavares apontou “frieza e passividade de Luís Montenegro”, Raimundo considerou que o Governo está “longe do que podia fazer”. Só José Luís Carneiro, do PS, que recuou ao tempo de Secretário de Estado das Comunidades, disse que o Executivo fazia “o que podia fazer.”

O presidente do CDS-PP e ministro da Defesa, Nuno Melo, apesar de um incidente internacional com risco para cidadãos portugueses, caraterizou de “iniciativa panfletária e irresponsável” a ida para Gaza, expressando-se de forma crítica e distinta do Executivo.

Governo e Israel apupados por milhares

Em Lisboa, junto à embaixada de Israel, foi preciso fechar ruas envolventes dada a acumulação de manifestantes pró-Palestina. Mas a ação do Governo português não passou incólume, com apupos sempre que algum manifestante referia a inação do Executivo quanto à proteção da missão humanitária. Foram convocados os movimentos de protesto por vários grupos: da capital a Setúbal, Aveiro, Viseu, Braga, Castelo Branco e Porto houve protestos. Militantes e dirigentes de PCP, Bloco de Esquerda, Livre e PS marcaram presença na iniciativa, tal como alguns familiares dos próprios ativistas portugueses retidos. “Palestina vencerá”, “Israel é um Estado assassino” e “Viva a luta do povo palestiniano” foram algumas das frases de ordem da manifestação em Lisboa que o DN reportou.

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