Saiu do PS no ano passado e venceu a Câmara do Montijo como independente, com três dos sete mandatos previstos. Há ainda dois vereadores do Chega, um do PSD e outro do PS. Como é que pensa fazer esse exercício governativo? Não é um exercício difícil, até porque uma das nossas prioridades é ouvir e conversar com as pessoas, porque só em conjunto é que se pode produzir algo bom. Não tenho dúvidas nenhumas, embora ainda não tivesse tido tempo para pensar no que quer que fosse, porque as eleições foram ontem [domingo]. A noite acabou tarde, estivemos a desfrutar da vitória, e hoje [segunda-feira] é um dia de relaxe. Só amanhã é que iremos conversar sobre tudo. Mas estaremos sempre disponíveis para conversar com os partidos que, democraticamente, vão agindo desde 1974 até agora. Eu acho que com esta afirmação fui bem explícito daquilo que pretendo, e não tenho qualquer tipo de problemas em falar com o PS ou com o PSD, porque nem há aproximação ao PS se eu falar com o Ricardo Bernardes, nem há afastamento do PS se eu falar com o Pedro Vieira, que é do PSD. Portanto, agora, o que conta é ouvir o que cada um deles poderá acrescentar àquilo que nós queremos fazer. E penso que facilmente iremos encontrar uma solução para governar o Montijo. Isso significa uma linha vermelha face ao Chega?Eu não gosto de utilizar a expressão linha vermelha em relação ao Chega, porque para mim não há qualquer tipo de linha, nem qualquer tipo de cor. Quando disse que irei falar com os democratas que têm, desde 1974, orientado a nossa vida política, acho que fui explícito, fui esclarecedor daquilo que eu queria dizer com isto, porque entendo que, enquanto esse partido mantiver as linhas que mantém agora, e a forma de agir, para mim não conta.Qual é que vai ser a sua primeira prioridade na liderança da Câmara?Temos várias prioridades. Se calhar, a mais fácil de concretizar no início do nosso mandato será a higiene urbana, que nos preocupa bastante, a nós e à população, porque no nosso ponto de vista será simples de concretizar a limpeza que o Montijo necessita nessa área. Depois, iremos conversar, após termos a noção de como é que vamos ter o nosso executivo. Iremos pensar, até porque seria injusto da minha parte estar agora a dizer que vou fazer isto ou aquilo sem ter ainda falado com ninguém. Além disso, teremos de conversar e só a partir de um possível acordo, digamos assim, com um dos partidos que também concorreu à Câmara, é que poderemos começar a pensar e dizer o que queremos fazer. Depois, iremos, a pouco a pouco, fazer o que entendemos que são as prioridades do Montijo. Habitação, saúde, educação, urbanismo, modernizar a Câmara, ha um sem fim de coisas que temos de fazer.A sua vitória representa uma tendência a nível nacional. Face a 2021, há um crescimento de movimentos independentes. O que sente que isso significa?Eu acho que significa aquilo que toda a gente vê, e se calhar alguns não querem dizer. Os partidos estão a perder a confiança do eleitorado, do povo. Cada vez mais se nota que os partidos olham mais para dentro do que para fora. E as pessoas ficam receosas de que aconteça aquilo que não desejam. Continuo a dar aquele exemplo gritante de duas birras entre os dois partidos maiores que nos levou a eleições. Um criou uma moção de confiança, o outro criou um inquérito parlamentar. Acho que isso leva as pessoas a pensarem que estamos a ficar para trás. Eles brigam, querem um doce, digamos assim, em sentido figurativo, mas a preocupação maior que têm não é aquilo que se pretende dar a quem os elegeu. E com essa eleição perdemos tempo, perdemos dinheiro, e não se resolve nada. E é isso que as pessoas sentem. Os partidos estão a ficar um pouco fora da confiança que as pessoas vão depositando ou iam depositando. E isso faz com que apareçam cidadãos independentes, grupos de cidadãos. As autárquicas são diferentes das legislativas. Portanto, é a autarquia que conta, é a terra que mais importa. As pessoas são conhecedoras daquilo que se passa em cada localidade, e isso leva a que muitas vezes fujam dos partidos que têm as suas linhas orientadoras e que se refugiem nas pessoas que olham em primeiro lugar para a terra e só depois para os partidos. Nós temos um único partido: chama-se Montijo, e é por esse partido que nós vamos lutar. Mas esteve 12 anos à frente de uma freguesia, eleito pelo PS. Não tinha esta perspetiva na altura?Não, de todo. Quem me acompanhou e quem assistiu às minhas campanhas e às minhas tomadas de posse, há uma frase nas três eleições que eu tive para a junta de freguesia que foi comum: eu estava com muito gosto no Partido Socialista, mas, primeiramente, sou montijense. Portanto, nunca pus o partido à frente da minha terra. E sempre tomei posse, quando vim trabalhar para a Assembleia de Freguesia. Trabalhei com todas as forças políticas que estavam na Assembleia, porque, para mim, a partir do momento em que os votos foram contados e eu fui eleito, deixei de ser presidente do Partido Socialista para ser presidente do Montijo. Por isso é esse pensamento que me acompanhou durante estes anos todos e que, se calhar, foi também o que levou as pessoas a acreditarem em mim e a darem uma vitória, que não foi muito robusta, mas foi confortável. Deu para entender que as pessoas confiaram em mim e que eu mereci essa confiança..Batalha no Montijo com PS dividido, promessas de renovação e aeroporto no horizonte.Autárquicas: PSD vence nas cinco maiores câmaras, pela primeira vez desde 2005, mas PS trava queda eleitoral