André Ventura, líder do Chega
André Ventura, líder do ChegaPAULO SPRANGER

Extrema-direita brasileira mobilizada contra AD e PS

“Os Bolsonaro vão voltar a ajudar-nos”. Extrema-direita brasileira mobilizada “em peso” nas redes sociais após a indisposição de Ventura. “Voto de protesto não será tão forte”, acreditam PS e AD.
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Nas legislativas de 2024, no Brasil 13.724 portugueses votaram no Chega. Em França foram 14.215 e na Suiça 16.226. No círculo Fora da Europa, o Brasil praticamente decide a eleição dos dois deputados. Em 2024, a AD, com 22.636 votos, elegeu um e o Chega, com 18.067 elegeu o outro. O PS ficou arredado da eleição - obteve 14.410 votos.

E 2025, como vai ser? O partido de extrema-direita diz ao DN, através do deputado eleito Manuel Magno, que acredita num resultado ainda melhor. O número dois da AD e a cabeça de lista do PS consideram, entretanto, que em 2024 houve “um voto de protesto” que não será tão acentuado nestas eleições.

“Em 2024 ganhamos nas comunidades fora de Portugal mas perdemos, sim, no Brasil, em quase todos os consulados”, lembra Flávio Martins, número dois do PSD no Brasil. “Não há uma explicação empírica para isso, mas o meu sentimento é que se tratou de um voto de protesto, após nove anos de governo do PS”, diz o advogado e professor universitário nascido no Rio de Janeiro. “Porém, os votos no Chega não são de pessoas que estão nas nossas comunidades, derivam, pelo contrário, de pessoas que receberam a nacionalidade há pouco tempo, mas em democracia, claro, todos os votos são iguais”.

“Procuramos aprender com os resultados e acredito que haja agora uma modificação, mas que não sei quantificar, porque as pessoas viram que Luís Montenegro fez um bom Governo, que [o secretário de Estado das comunidades] José Cesário fez um ótimo trabalho e que, com isso, o voto de protesto possa diminuir até porque o Chega não trabalha para as comunidades, o discurso do Chega não é para elas, e os responsáveis do Chega não fizeram nada neste ano pelos portugueses no Brasil, ao contrário de nós que transformámos os vice-consulados em consulados”, conclui Flávio Martins.

Ana Contreiras, cabeça de lista do PS no Brasil, também considera “a votação expressiva do Chega em 2024 como um protesto quanto à forma como António Costa saiu do Governo” mas, sobretudo, “como espelho da união entre a família Bolsonaro e André Ventura”. “A nossa comunidade é, por natureza, muito virada à direita, os portugueses daqui preocupam-se com questões como insegurança e violência e esse tipo de temas é muito falado pelo bolsonarismo, logo, sentiram proximidade com o Chega”, diz a advogada, natural de Faro, há 20 anos em São Paulo.

“José Cesário achou crucial o apoio do bolsonarismo ao Chega”, diz, por sua vez, o candidato do PSD, “mas não temos dados para avaliar”. “Se o apoio de Bolsonaro seria importante para o PSD? Em nome pessoal, não falando pelo partido, acho que ao PSD cabe dialogar com quem for Governo em qualquer país, ouço políticos dizerem que dado presidente se entrar em Portugal será preso, o que é uma bazófia, a nós, políticos, compete-nos é dialogar”.

Manuel Magno, deputado eleito em 2024 pelo Chega, diminui as hipóteses de AD e PS e aposta no tal “fator Bolsonaro”. “Tenho a convicção que este ano teremos um resultado ainda melhor”, diz o advogado, natural de Oura, perto de Chaves, há 60 anos no Brasil. “O PS, pelo menos em São Paulo, não tem grande expressão, a dra. Ana Contreiras é uma boa pessoa, mas aparece apenas nestas ocasiões, e a AD acredito que tenha votação similar à de 2024 até porque as falcatruas do Montenegro impedirão um crescimento”.

Sobre o apoio do bolsonarismo revela que já há até “vídeos gravados”. “Estive em Brasília, almocei com ex-presidente Jair Bolsonaro, com o deputado Eduardo Bolsonaro, com o senador Magno Malta, eles ajudaram-nos em 2024 e vão voltar a ajudar-nos, apoiam-nos, como nós os apoiamos”.

Com serviços de mapeamento da extrema-direita nas redes sociais prestados ao PS, em Portugal, e ao Partido dos Trabalhadores, no Brasil, a mestre em ciência política Fernanda Sarkis vê, entretanto, a formação de André Ventura menos mobilizada no gigante sul-americano este ano do que no ano passado. “No ano passado, atores da extrema-direita do Brasil foram até a Portugal realizar eventos”, diz a investigadora. “E há um agravamento que é o momento interno duro que o grupo enfrenta com o processo de Jair Bolsonaro, estão mais numa dinâmica de defesa nas redes”, acrescenta. “Mas”, adverte, “como no Brasil as pessoas nem sabem que é o Pedro Nuno Santos e a AD também estabelece muito pouco diálogo com quem vota aqui, o Chega ainda é favorito a ganhar de novo”.

Porém, “após a indisposição sentida por Ventura, uma parte do ecossistema bolsonarista apareceu em peso”.

Nas redes, corre a tese de que Ventura teria sido envenenado ao vivo e compararam o episódio aos atentados contra Trump, em 2024, e Bolsonaro, em 2018.

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