Luís Montenegro. Reconciliador quer voltar a contrariar quem duvida dele
Tempos houve em que muitos sociais-democratas não acreditavam que Luís Montenegro viesse algum dia a ser eleito presidente do PSD e, quando finalmente o conseguiu, à segunda tentativa, só após a segunda derrota de Rui Rio em eleições legislativas, não poucos eram os que tinham grandes dúvidas de que viesse algum dia a ser primeiro-ministro. Tudo se alterou com a Operação Influencer, que conduziu à demissão de António Costa e pôs termo à maioria absoluta do PS que supostamente duraria até ao outono de 2026, e o antigo líder parlamentar de Passos Coelho assumiu a chefia do Governo, fruto da vitória da Aliança Democrática, tão distante da maioria absoluta quanto suficientemente acima do PS.
O Luís Montenegro que vai a votos neste domingo libertou-se de dois handicaps que não o impediram de vencer em 2024. Desde logo, a falta de experiência governativa, lacuna que o principal adversário repetiu na campanha eleitoral, alargando-a à míngua de currículo em qualquer tipo de funções executivas. Mas também pôde demonstrar que, após mais de oito anos de stress pós-traumático decorrente da governação tutelada pela troika, o PSD não tinha de esperar pelo regresso de Passos Coelho, interpretando cada gesto e palavra como uma brecha na sua aparente relutância, para impedir a perpetuação dos socialistas no poder.
Reconciliador por necessidade, o homem que se tornou primeiro-ministro no ano passado dedicou-se a reconstruir pontes com eleitores desavindos que estiveram com António Costa desde o tempo em que Geringonça não constava do léxico político. Desde logo os pensionistas, mas sem esquecer os funcionários públicos, dos professores aos polícias, procurando garantir uma paz social que tem sido abalada na fase final da campanha. Seja como for, apresenta-se aos portugueses como alguém que espera terminar o que deixou a meio, num espírito que a sua equipa de comunicação converteu no neocavaquista hino de campanha “Deixa o Luís Trabalhar.”
A abalar o sorriso que o advogado de 51 anos faz por ostentar em todas as ocasiões, até nos debates parlamentares mais complicados, está a Spinumviva, empresa que fundou quando esteve afastado da política ativa. A forma como geriu as explicações sobre as atividades prestadas e a sua carteira de clientes valeu-lhe duas moções de censura, às quais sobreviveu, antes de contrapor uma moção de confiança, destinada ao fracasso, perante a comissão parlamentar de inquérito que avizinhava no horizonte.
Calcanhar de Aquiles em versão espinhense, a empresa que foi detida pela sua mulher, e agora pertence aos dois filhos do casal, fez com que Montenegro tenha tido o nome posto em causa por toda a oposição. Entre acusações de falta de seriedade vindas de Pedro Nuno Santos, associações a corrupção feitas por André Ventura, e a alegação de que terá violado a exclusividade de funções exigida a um primeiro-ministro, boa parte do risco de não poder continuar a contrariar as expectativas daqueles que de si duvidam advém da Spinumviva.
Se voltar a vencer as eleições, como a maioria das sondagens indicam, pode ter um novo teste à capacidade de negociação. Depois do “não é não” ao Chega, as circunstâncias podem forçá-lo a definir os termos da entrada no Governo da Iniciativa Liberal a que tenta conter o crescimento com apelos velados ao voto útil.
Vida política
Depois de ser deputado municipal e vereador do PSD em Espinho, esteve cinco legislaturas na Assembleia da República, sendo líder parlamentar de 2011 a 2017, quando renunciou. Eleito presidente do PSD em 2022, à segunda tentativa, recriou a Aliança Democrática para vencer as eleições de 2024, e é o atual primeiro-ministro.
Vida empresarial
Além da Spinumviva, foi presidente da assembleia geral da Ferpinta e Rádio Popular e fundou o escritório de advogados SP&M, do qual foi sócio até 2022.