Sem acordos e negociações avançadas quanto ao próximo Orçamento de Estado. Assim terminou a reunião de mais de duas horas entre o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro. Os dois políticos tinham-se reunido em junho, mas agora, como secretário-geral, foi o líder socialista a reivindicar o diálogo em São Bento. Demorou três semanas até acontecer. A aproximação, cordial em toda a reunião, de acordo com o que o DN pôde saber, visa a procura de acordos em matérias fundamentais, como declarou José Luís Carneiro à saída de São Bento. “Foi uma conversa muito construtiva e voltámos a reiterar a vontade de manter este diálogo, muito particularmente para setembro em que teremos de abordar algumas destas matérias e outras matérias que, entretanto, virão a estar no centro das nossas preocupações políticas. Há um princípio de acordo para os diálogos futuros”, disse José Luís Carneiro, sem nunca responder diretamente à questão de um possível acordo com o governo.No entanto, está claro para o PS, terceira força nas Legislativas 2025, que o papel negocial tem de ser superior ao do Chega, mesmo que abra a possibilidade de “consenso democrático”. “Foi transmitido ao sr. primeiro-ministro que se quer o diálogo com o PS, é com o PS que deve dialogar. O PS não é um partido qualquer. É um partido que, desde a clandestinidade, lutou pelas liberdades, direitos e garantias fundamentais e é esse respeito institucional pelos valores fundadores deste país que exigem que o diálogo deva ser construtivo. Se o diálogo é com o PS, o diálogo deve ser estabelecido com o PS em todas as matérias que chamei em tempos de consenso democrático. Da Política Externa, Defesa, Segurança Interna, Justiça, à reforma do Estado. São matérias para a construção de consensos nacionais”, declarou, contestando, por isso mesmo, a urgência de Montenegro em aprovar no parlamento projetos-lei relativos à Imigração: “A Lei da Nacionalidade foi adiada para setembro. É uma matéria de primeira importância para a forma como Portugal concebe a sua relação com o mundo, como se conserva enquanto país aberto, tolerante, compreensivo e integrador. Naturalmente, é necessário aperfeiçoar a legislação. Estamos de acordo com essa possibilidade, mas temos de ter consciência de que temos relações privilegiadas com os países africanos de língua oficial portuguesa e é muito importante que as alterações que se realizem respeitem a forma como Portugal exerce a sua Política Externa.”. Foram debatidas áreas nevrálgicas como a Habitação, Defesa e Saúde. Nessas, Carneiro foi mais crítico da atuação governativa: “Existem matérias de divergência e de oposição firme. Na saúde, nas questões da habitação, na legislação laboral. Temos de aguardar por aquilo que vai acontecer em sede de concertação social, mas pudemos dar conta da nossa preocupação, nomeadamente com a precariedade e, particularmente, a precariedade nos mais jovens e no prolongamento dos contratos de seis meses para um ano e dos de dois para três anos nos contratos com os mais jovens. Há uma lei de 2021 que regula o alojamento temporário e o alojamento de emergência. É muito importante dar força a essa estrutura normativa com financiamento e permitindo resolver casos de emergência, como aqueles que pudemos vislumbrar há dias, nomeadamente na Área Metropolitana de Lisboa.” A Defesa foi outro tema abordado. "O Governo, por intermédio do senhor primeiro-ministro e também do ministro da Defesa Nacional, encetará um diálogo com os partidos com assento parlamentar, particularmente com o Partido Socialista, para explicitar o modo como alcançaremos os 2% de investimento e como é que, no futuro, há a previsão de garantir que o investimento previsto para a defesa possa contribuir para o desenvolvimento da economia do nosso país, para a modernização do nosso tecido científico e para a criação de emprego qualificado”, comentou.Luís Montenegro reúne esta quinta-feira o Conselho de Ministros e levará algumas destas preocupações socialistas à reunião. .Palestina entrou na conversa de Carneiro com Montenegro.Carneiro depois da reunião de duas horas com Montenegro: "Se quer diálogo com o PS, deve dialogar com o PS"