Finalizados os 28 debates televisivos, sete para cada candidato, é tempo de fazer um balanço para as Presidenciais 2026, especialmente olhando aos discursos e argumentações de cada um dos concorrentes a Belém. Os doutorados em Ciência Política, Paula Espírito Santo e José Adelino Maltez, coincidem em algumas ideias e ao DN valorizam as prestações de António José Seguro e Jorge Pinto, acima dos demais. Começando justamente pelo lote de quatro candidatos mais apontados à vitória, a professora do Instituto de Ciências Sociais e Políticas vê “institucionalidade” e força “informativa” de Seguro, apresentando-se “bem em vários momentos” e destacando a forma como “evitou a politiquice no debate com André Ventura”. Há um ponto de destaque face a Marques Mendes: para Espírito Santo, o social-democrata teve “desempenhos constantes”, mas “derivou para o ataque leve e sem consequência” diante de Gouveia e Melo, que a professora reconhece ser um momento importante para cativar eleitorado. Por isso, Mendes, que se “justificou em demasia das empresas e clientes que tem”, não tem nota tão elevada e até perde numa possível agregação. “Contra António Filipe, Seguro perguntou se [o comunista] dormiria descansado se passassem à 2.ª volta dois nomes da direita, mas teve sempre a preocupação de não hostilizar oponentes à esquerda. Dá para perceber que Cotrim de Figueiredo faz mossa no eleitorado que poderia escolher Marques Mendes e é notório o antagonismo pessoal e político. Será difícil uma agregação, há anticorpos a Marques Mendes”, perspetiva.José Adelino Maltez começou por dizer que, “no campeonato dos pequenos não houve desastres” e que na luta por Belém “estiveram muito empatados”. “Tínhamos Presidentes da República nota 18, agora andamos pelos candidatos com notas entre os 13 e os 14. É a democracia a funcionar”, constata, vendo “uma campanha centrada nos facilitadores”, que “agora saltou para o público, embora sendo prática de há muitos anos na política”. E nesse sentido, o jubilado professor académico reconhece o impacto das acusações na forma de Marques Mendes terminar a ronda de debates. “A situação estragou-lhe os papéis, esteve habituado ao comentário, mas agora tem de ir a confronto. Criou uma larga fonte de opositores e é, talvez, o candidato do PSD que menos agrega dentro do próprio partido”, analisa Maltez, que viu António José Seguro “a representar bem o PS e sem alarido”, convicto de que o candidato “reforçou todo o apoio interno que tem”.Gouveia e Melo flutuante, mas sem ter descapitalizado todo o créditoPara os dois professores, Gouveia e Melo não se destacou positivamente. Paula Espírito Santo categorizou de “flutuante”. “Pode ter ido buscar eleitores ao Chega depois do debate de Marques Mendes, mas terá perdido eleitores também. Passou de institucional e contido a populista, ao colocar dúvidas sobre o sistema. Passou ao mais extremo sensacionalista”, consolida, também tendo bem presente o debate de segunda-feira, em que o social-democrata apelidou o almirante de “desesperado” e de ser “igual a André Ventura”. “Se Portugal ainda é um país de ordens, a nobreza são os militares. E Gouveia e Melo jogou essa ideia. Tem uma certa vingança no discurso, para mostrar que os militares foram injustiçados. Já é uma vitória estar a conseguir estragar o passeio entre os políticos e voltar a colocar um militar entre os candidatos”, anota Maltez, não fazendo uma antecipação de que uma prestação menos boa nos debates condene Gouveia e Melo eleitoralmente. “Se deslumbrou? Não! Se se pautou sempre pela ética? Não! Mas não me parece que tenha delapidado o seu crédito, as pessoas valorizam os militares e há muito que não estava um na corrida”, advoga. “Há uma grande parcela de indecisos e falta muita campanha. Além disso, podem surgir muitos outros casos até à eleição”, concorda Paula Espírito Santo, apontando: “Agora, Gouveia e Melo mostrou ser reativo e deixou de ser visto como uma torre de marfim, inabalável.”André Ventura, de acordo com Maltez, “aproveita as armas que a democracia lhe dá”, frisando que “os debates são já as eleições presidenciais para Ventura”, uma vez que “passou o seu estilo, de propaganda, que é uma forma de implantação.” Considera-lo um dos quatro candidatos a Belém e que “soube, em certos momentos, ser ‘cordeirinho’, evitar os berros e captar votos de outros quadrantes”. Vê na candidatura “a normalização do partido no esquema democrático” e acredita que numa segunda volta o voto cairá “no centrão, seja Seguro, Marques Mendes ou Gouveia e Melo.” Ainda assim, atira: “Mesmo com Ventura a Presidente da República não há ameaça à democracia. Isto confirma que a democracia pós-1976 é o melhor regime político, porque há uma vitória do regime institucionalizado.” .Paula Espírito Santo coloca o presidente do Chega na cauda na avaliação dos debates, juntando Catarina Martins a essa classificação. Ambos abaixo de Gouveia e Melo, inclusivamente. “Ventura tem aquela forma de estar e sabe, todos sabemos, que o cargo a que se candidata não se coaduna com a postura que tem. Faz, de forma semelhante, todas as campanhas, como se estivesse sempre em Legislativas. Mas conseguiu arrastar a Catarina Martins naquele que foi, para mim, o pior debate em termos de esclarecimento”. Apesar da “capacidade retórica”, Catarina Martins “aceitou fazer um jogo de ataque fútil, mostrou desdém a vários candidatos, com um sorriso provocador.” Maltez viu “dialética” na bloquista, mas que se “confundiu com o partido.”A deriva comunicacional de Cotrim de Figueiredo foi notada. “Começou por falar dos maçons, ao dizer que não os queria, e foi perdendo a postura de dândi. Revelou-se reacionário”, aponta o professor jubilado e com formação base em Direito. “Pode valer, sozinho, mais do que a Iniciativa Liberal, mas não saiu muito da lógica transcendental da IL e denotou cansaço, demora a reagir em certos momentos”, analisa Paula Espírito Santo.Os dois politólogos concordam que António Filipe cumpriu o papel e seguiu, cabalmente, a ideologia e sociologia que ele e Partido Comunista Português defendem. Paula Espírito Santo viu algumas “repetições”, apesar da “coerência”. O antigo professor do candidato do PCP diz que é sabido que “o PCP não defende Moscovo nem Putin”, mas continua a ter “dificuldades em justificar a posição na Ucrânia e o modo como chegar à Paz na Europa.”Por fim, o elogio consonante dirigiu-se ao candidato apoiado pelo Livre. “Dentro de quem tem menos possibilidade de vencer, o Jorge Pinto surpreendeu. Não havia tanta expectativa, é verdade, mas foi muito informativo e tentou superar-se até pela impetuosidade e dinamismo”, vinca Paula Espírito Santo, lamentando apenas “um pouco de ego a mais em certas intervenções”. Ainda assim, colocam-o a par de Seguro no topo das avaliações. “Não vou dizer que é surpresa, mas Rui Tavares, não indo ele mesmo, decidiu lançá-lo. Foi uma forma de vermos que não temos sempre os mesmos. Vai ter futuro no partido, é um bom quadro, com sotaque à Amarante, saindo da lógica mais urbana do próprio partido”, termina José Adelino Maltez..Primeira volta das presidenciais deve ter vencedor menos votado de sempre, mas acima do milhão.Presidenciais. Marques Mendes chamou "desesperado" a um almirante ao ataque acusando o rival de "lóbis".21,8 milhões de espetadores viram debates presidenciais. Duelo entre Ventura e Mendes foi o mais popular