Se o mês de agosto costuma ser o mais calmo em termos de atividade político-partidária - pelo menos nas duas primeiras semanas, tendo em conta que há sempre uma Festa do Pontal, organizada pelo PSD, a meio do mês, e as academias e universidades políticas organizadas pelos partidos a encerrar o verão - este ano os partidos não terão oportunidade de cruzar os braços. Para além de haver eleições autárquicas marcadas para 12 de outubro, com uma campanha quer vai necessariamente coincidir com o debate em torno do Orçamento do Estado para 2026, os candidatos presidenciais têm de continuar no terreno e dar-se a conhecer e manter o contacto com a população. A ataviar todo este panorama, há toda uma nova “composição parlamentar”, que, “sem maioria absoluta” do Governo, gera uma “uma luta muito grande sobre a liderança da oposição”, disputada entre Chega e PS, antevê, em conversa com o DN, o professor de Ciência Política na Universidade da Beira Interior Bruno Ferreira Costa. Com a ideia de que “não pode haver espaços vazios” em agosto, o politólogo lembra o que aconteceu na apresentação do “candidato do Chega à Câmara do Porto [Miguel Côrte-Real], que se transformou num comício de André Ventura”, com uma referência à vandalização do monumento ao fundador do PSD, Francisco Sá Carneiro, momentos antes da chegada da comitiva do Chega, que escolhera o local para aquele episódio.Nesta “preocupação de marcar este espaço a esse nível”, continua Bruno Ferreira Costa, surgem também as recentes declarações de Mariana Vieira da Silva, a antiga ministra da Presidência do PS, “sobre o possível posicionamento” socialista “relativamente ao Orçamento do Estado”. Nesta alusão, o professor de Ciência Política evoca uma entrevista que Mariana Vieira da Silva deu ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, onde defendeu que “o PS só deve conversar [com o Governo] depois de ver o Orçamento do Estado”.E falta saber “quem ganha a Associação Nacional de Municípios” e “ver se o Chega consegue a representação expectável em determinadas câmaras, essencialmente a sul do Tejo e, com uma característica própria destas eleições: nunca tivemos tantas coligações.”Como exemplos, Bruno Ferreira Costa fala nos entendimentos entre IL e PSD “nos principais municípios do país”, com os liberais a abdicarem “de ir a votos sozinhos nas principais autarquias”, como em Lisboa.“À esquerda, por exemplo, em Vila Nova de Gaia o BE e Livre, mas a tentar perceber se isto depois pode ter uma forma de entendimento para maximizar um pouco o método D’Hondt”, analisa o professor.Neste último cenário, é importante referir que o Chega é o único partido que não concorre coligado com nenhuma outra força política a nenhuma autarquia.Por fim, resta a corrida a Belém para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa. Aqui, PS, BE, IL e Chega terão de assumir “uma definição relativamente a este cenário”, considera Bruno Ferreira Costa.Também a professora a professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa Paula do Espírito Santo garante que “os partidos vão ter necessidade de pelo menos mostrar alguma presença no espaço público durante o mês de agosto”, mas muito para além da mera rentrée, até porque “há temas como os incêndios, que ocupam o espaço mediático” e que acabam por servir de “arma de arremesso político-partidária”.Além disto, estamos agora a sair de “uma sessão legislativa mais curta, mas muito intensa”, diz Paula do Espírito Santo, lembrando os “temas que têm sido escolhidos para o debate legislativo e a representação também, quer do Governo, quer dos partidos, junto das opções programáticas”, que, considera, acabam por ser “um sinal de que há uma necessidade de algum ajustamento relativamente às urgências e à pressão que temos por ser um ano eleitoral com dois atos”. “Aliás, dois atos eleitorais, mas que no caso autárquico são 308 eleições”, alerta a professora. lembrando os 308 concelhos e 308 assembleias municipais do país, já para não falar no número infindável de freguesias que também vão a votos..Autárquicas. Ana Abrunhosa (PS) anuncia coligação com Livre, PAN e Cidadãos por Coimbra.Presidenciais: Gouveia e Melo critica “bolha mediática” e promete nova fase de atuação em setembro