A diferença de 8 pontos percentuais (p.p.) nas contas para a Câmara Municipal de Lisboa entre a coligação Viver Lisboa e o reeleito presidente, Carlos Moedas, é alvo de escrutínio pelos partidos que integraram a candidatura de Alexandra Leitão. A primeira leitura retirada dos resultados eleitorais deixa claro que o PS não caiu na liderança de freguesias: tem 12, reconquistou Arroios e perdeu Campo de Ourique e Campolide para o PSD. No entanto, nas 11 vitórias do Por Ti, Lisboa, oito delas foram conseguidas acima dos 45%, sequenciando, portanto, os resultados das freguesias para a Câmara. No PS, o cenário foi mais animador para os autarcas locais do que para Leitão. Das 12 vitórias em freguesias, só em três houve maior votação para a candidata socialista à Câmara do que nos candidatos locais - no caso nos Olivais, com grande destaque, por mais 7 p.p.; Misericórdia e São Vicente deram meio ponto percentual de diferença. Em Benfica, a maior vitória socialista em freguesias, Leitão teve menos 15 p.p. de votação do que o presidente Ricardo Marques. Em Alcântara, ficou 8 p.p.abaixo, na Ajuda 5 p.p. e em Marvila 4 p.p.. Em Santa Clara, freguesia eleita socialista, foi Moedas o mais votado para a Câmara. Se juntarmos as 12 que o PS não venceu, Alexandra Leitão só superou em três casos os candidatos do Viver Lisboa às freguesias, sendo o de Carnide o mais emblemático, com 4 p.p. de diferença, roubando, sim, votos à CDU, que continua líder no local. Campolide e Campo de Ourique representaram 5 p.p. de diferença negativa, em São Domingos de Benfica chegou aos 6 p.p. As freguesias do Lumiar e São Domingos de Benfica foram realmente as grandes perdas da noite e desequilibraram o que se pensava ser um resultado mais próximo, mas que acabou em 20.000 votos de diferença.O discurso de Alexandra Leitão, apontam fontes do partido ao DN, não agregou da melhor forma. Com a crítica direta de Carlos Moedas, de a colocar ao nível de “radical” do Bloco de Esquerda, a ex-ministra socialista não firmou, dizem as fontes do DN, a capacidade de representar a verdadeira solução de esquerda para o município. Por outro lado, tendo o Bloco de Esquerda na coligação, o PS sabia que angariar votos ao centro e centro direita (entre os insatisfeitos com a governação de Carlos Moedas) seria mais difícil.A coligação, apesar de ter PAN e Bloco de Esquerda em 2025, perdeu mais de 12 mil votos comparando com 2021, quando só o Livre estava com o PS. Mariana Mortágua participou nas arruadas com Alexandra Leitão e a sua presença não terá acrescentado, antes, por outro lado, prejudicado as possibilidades de angariar votos mais ao centro. “Os estudos que fizemos quanto à orientação de voto mostravam que teríamos vantagem em ter uma coligação envolvendo o Bloco”, deixa claro André Rijo, coordenador autárquico, ao DN. Para o PS, a discrepância para Moedas no início da campanha era tão grande que qualquer dispersão de voto obrigava a procurar acordos de todos os níveis. Neste momento, porém, a associação ao Bloco de Esquerda tem efeitos perniciosos para coligações que pretendam angariar eleitores indecisos ou tradicionalmente a variarem entre direita e esquerda.Alexandra Leitão fica como vereadora, assim o garantiu, foi escolhida por Pedro Nuno Santos e teve autorização da concelhia, ao que o DN pôde saber, para elaborar parcerias que o próprio ex-secretário-geral corrobora. Essas são decisões que vêm de baixo para cima no PS, sendo depois ratificadas pela Direção Nacional. José Luís Carneiro tem-se posicionado mais ao centro, mas deixou que o processo autárquico em andamento seguisse o seu curso. No final da noite, contudo, falou no Largo do Rato e não no Fórum Lisboa, onde Leitão subiu ao palco acompanhada de Rui Tavares e Isabel Mendes Lopes, do Livre, e com Mariana Mortágua atrás de si, mais resguardada. A candidata assumiu no discurso de derrota que era sua “responsabilidade”, mas a escolha de Pedro Nuno Santos, dizem ao DN, não era unânime e a missão para reconquistar Lisboa seria sempre ingrata dado o mau resultado coletivo nas Legislativas. Duarte Cordeiro e Mariana Vieira da Silva eram os outros nomes apontados.A última mira é partilhada por todos os partidos da coligação. “Não é segredo que queríamos incluir o PCP, aí sim, se estivesse a bordo, tínhamos a certeza de que ganharíamos Lisboa. Tem de ser uma conclusão que a esquerda e o PCP têm de fazer, o comportamento do PCP tem de ser avaliado”, perspetivou André Rijo, constatando a ira coletiva, que o DN pôde testemunhar no Fórum Lisboa, no domingo. Apontam-nos que Alexandra Leitão nunca hostilizou João Ferreira e que isso pode ter sido um erro, mas a postura de isolamento da CDU, que perdeu a vereadora Ana Jara, mas ficou acima dos 10% e a 11 votos do resultado do Chega, poderá ter consequências em negociações próximas. Certo é que se o PS nunca desmontou a crítica do vereador João Ferreira de viabilizar orçamentos de 2021 a 2025. E, agora, Moedas, com oito vereadores, só precisa de um voto favorável do Chega para fazer passar os documentos. Até por isso, a derrota em Lisboa é tida como a maior da noite de 12 de outubro. .A coligação, apesar de ter PAN e Bloco de Esquerda em 2025, perdeu mais de 12 mil votos comparando com 2021, quando só o Livre estava com o PS.Número.A última junta comunista de Lisboa resiste. Ainda e sempre?.Moedas reeleito com 8% sobre Alexandra Leitão.A reação de Alexandra Leitão: “Assumo a derrota, agora serei oposição firme”