O presidente do Tribunal de Contas (TdC), juiz conselheiro José Tavares, vai ser ouvido no parlamento para explicar que medidas tomou sobre as informações alegadamente falsas prestadas a esta entidade pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SG-MAI), tutelada pelo ministro Eduardo Cabrita..Em causa está um pagamento de 15,5 milhões de euros às empresas privadas que prestam serviços ao SIRESP, a rede de comunicações de emergência, com destaque para a Altice, quando foi feito o reforço da capacidade da rede, na sequência das falhas graves de funcionamento nos incêndios de 2017..Presidente do Tribunal de Contas chamado ao parlamento. Alegadas informações falsas do MAI em causa .A votação para esta audição tinha sido adiada a semana passada, a pedido do PS que queria ouvir primeiro o ministro da Administração Interna, mas a audição a José Tavares acabou por ser aprovada antes de Eduardo Cabrita reunir com os deputados, na manhã desta quarta-feira..O PSD conseguiu o apoio da esquerda, como o PCP e BE a votarem a favor da ida do juiz conselheiro ao parlamento, tal como o CDS..O TdC chumbou o pedido de visto para referido pagamento, em 2018, porque no seu entender não estava fundamentado e continha "vícios procedimentais invalidantes do contrato celebrado" - logo à partida pela "violação da lei do Tribunal de Contas que impede que atos e contratos sujeitos à fiscalização prévia com um valor superior a 950 mil euros produzam efeitos financeiros antes do visto ou declaração de conformidade", é lembrado no requerimento..No entanto, no recurso dirigido ao TdC (e que foi também chumbado), a Secretaria-Geral do MAI afirmou que foram os privados a decidir o investimento.."O parceiro privado, face à necessidade reconhecida quanto a dotar o sistema SIRESP de soluções de redundância, iniciou a implementação das soluções por iniciativa unilateral. Os atos praticados por iniciativa e risco do parceiro privado, em momento anterior à pronúncia do Tribunal de Contas em sede de fiscalização prévia, não poderão dar lugar a qualquer tipo de compensação financeira por parte do Estado sem a obtenção do referido visto", alegou este organismo tutelado por Eduardo Cabrita..Esta declaração é claramente contraditória quer com afirmações públicas do CEO da Altice Alexandre Fonseca, quer documentos oficiais da própria SIRESP, S.A..."Na sequência dos incêndios de 2017 o Estado solicitou à SIRESP, S.A. diversos estudos e propostas para implementação de soluções que melhorassem a resiliência da Rede SIRESP. Os diversos estudos apresentados culminaram com os documentos "Redundância de transmissão da Rede SIRESP" e "Reforço da autonomia de energia elétrica da Rede SIRESP", ambos de 26 de março de 2018, que conduziram ao Aditamento ao Contrato SIRESP, o qual foi assinado em 30 de abril de 2018", é referido no Relatório e Contas de 2019 da empresa..SIRESP. Unidade de Acompanhamento das Finanças critica falta de transparência.Por seu lado, disse Alexandre Fonseca na altura em que veio a público o segundo chumbo do TdC que a Altice "sempre considerou que a rede SIRESP se reveste de grande relevância para o país" e "vinha defendendo a necessidade de investimentos adicionais em soluções de redundância, que planeou, desenhou e implementou, nomeadamente através da Rede de Transmissão via Satélite e de Redundância de Energias após solicitação da SIRESP S.A. em consequência de pedido direto do Ministério da Administração Interna"..Quem disse a verdade, quem mentiu? O DN pediu esclarecimentos ao Gabinete do ministro da Administração Interna e à Altice, mas não obteve ainda resposta..Na passada semana, o governo autorizou um pagamento de mais 31,9 milhões de euros até ao final de 2022, para garantir o funcionamento do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP, S.A.)..Os novos contratos, com as mesmas empresas privadas, terão uma duração máxima de 18 meses, contados a partir do dia 1 de julho de 2021, o que corresponde ao período previsto de duração do modelo transitório para o funcionamento da SIRESP (Decreto-Lei n.º 34-B/2021, de 14 de maio)..Também há cerca de três semanas foi publicada a Resolução do Conselho de Ministros n.º 59-A/2021 que atribuiu, durante o segundo semestre deste ano, "uma indemnização compensatória à empresa SIRESP de 11 milhões de euros, pelo cumprimento das obrigações de interesse e serviço público até à entrada em vigor do contrato de serviço público de gestão, operação, manutenção e modernização da rede"..SIRESP. Mais 18 meses de contrato com a Altice em nome do "interesse público".A partir do dia 1 de janeiro de 2023, prevê-se o início da estrutura que concentra o SIRESP, a área tecnológica da Rede Nacional de Segurança Interna, as comunicações, o 112.pt e as bases de dados dos serviços e organismos da Administração Interna..O contrato para o SIRESP, iniciado em 2006, já custou ao Estado quase 600 milhões de euros.