Miguel Albuquerque diz que não recebe lições sobre a gestão política dos incêndios.
Miguel Albuquerque diz que não recebe lições sobre a gestão política dos incêndios.Homem de Gouveia / Lusa

Albuquerque rejeita críticas e diz que combate ao fogo tem sido “um sucesso”

À semelhança do PS, o PAN vai querer ouvir no Parlamento Regional da Madeira as entidades com responsabilidades políticas nos incêndios que deflagram no arquipélago.
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"Se faltassem homens nas zonas cruciais, as habitações e os núcleos habitacionais já tinham sido destruídos”, afirmou esta quarta-feira o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, questionado pelos jornalistas no Funchal sobre se teriam sido necessários mais meios para combater o incêndio que deflagra na região há oito dias. Para o chefe do Executivo Regional, a estratégia passa por “salvaguardar núcleos habitacionais, os bens públicos, e o património das pessoas”, pelo que “os resultados são positivos”. No entanto, nenhum partido da oposição concorda com Albuquerque quanto à gestão do incêndio.

Quando o fogo deflagrou, a 14 de agosto, Albuquerque estava de férias em Porto Santo. Interrompeu as férias no sábado, mas retomou-as passados uns dias. Esta quarta-feira, acompanhava os trabalhos na zona do Pico Ruivo, já na Ilha da Madeira, onde o incêndio lavrava com mais intensidade.

“Se me tentam intimidar, porque pensam que vou ficar com stress  por causa disso, estão enganados”, disse Miguel Albuquerque relativamente à polémica sobre as suas férias, assegurando que acompanhou o incêndio “desde a primeira hora”.

“A mim ninguém me dá lições, porque eu, ao contrário de outros, nunca deleguei as minhas responsabilidades em ninguém, nem disse que a culpa era dos técnicos”, considerou.

Mais tarde, em conferência de imprensa no Funchal - na qual anunciou a ativação do Mecanismo Europeu de Proteção Civil para ajuda no combate aos incêndios -, o líder do Governo Regional voltou a garantir que a “estratégia de contenção” do incêndio adotada “até agora foi um sucesso”, para além de ter sido “inteligente, eficaz e tecnicamente adequada”.

Ao DN, um antigo governante da área da Proteção Civil lembrou que Albuquerque “não deveria estar a fazer briefings  operacionais”, tendo em conta que essa é uma  “medida que até está nas recomendações pós-Pedrógão”, devendo o poder político abster-se “de assumir os briefings  até a situação estar normalizada”.

Além disto, continua, o Governo Regional deveria “ter investido em mais um helicóptero, pois eles atuam muito melhor em parelha, até por razões de segurança”. Entre as sugestões apresentadas, o antigo governante considera que Miguel Albuquerque “já devia ter deixado o discurso de que está tudo a correr bem, pois só mostra que está completamente fora da realidade”.

Quanto às declarações de Albuquerque sobre o “sucesso” das operações, a deputada do PAN-Madeira, Mónica Freitas, diz compreendê-las como forma de evitar o pânico da população. Porém, ao DN, vincou que estas afirmações “pecam pela insensibilidade”.

“Nunca poderia haver esta desresponsabilização pelas perdas de valores incalculáveis que estamos a ter na nossa floresta”, sustenta a deputada, acrescentando que “a postura que [Miguel Albuquerque] tem assumido não tem sido, de facto, a mais correta, porque tem uma responsabilidade acrescida de, não só tranquilizar a população, mas também de prestar os devidos esclarecimentos”.

Questionada sobre se as férias do governante madeirense foram uma opção correta, tal como aconteceu com o secretário regional que tem a tutela da Proteção Civil , Pedro Ramos, Mónica Freitas explica que “embora a presença física possa ou não fazer diferença, pois há decisões que podem ser tomadas à distância, a verdade é que um dos governantes tinha de estar a dar a cara e tinha de estar a acompanhar toda a situação, da mesma forma que nós temos os profissionais no terreno de forma incansável”.

“No final é necessário fazermos uma avaliação da atuação, das decisões que foram tomadas, inclusivamente pelo Governo Regional”, defendeu a deputada do PAN. Por este motivo, continuou Mónica Freitas, o partido vai acompanhar a proposta do PS “para uma Comissão de Inquérito” para apurar responsabilidades políticas. “É importante haver uma reflexão séria sobre os procedimentos que estão a ser executados neste tipo de situações para não estarmos todos os anos a passar pelo mesmo”, justificou.

Mecanismo Europeu ativado

Mesmo com a palavra “sucesso” escolhida por Albuquerque para classificar as operações de combate ao incêndio rural na Madeira, o Governo Regional pediu ao Governo da República para ativar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil para que cheguem reforços ao arquipélago, que incluem dois aviões Canadair, provenientes de Espanha. Além destes meios, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil enviou para a Madeira mais 60 elementos para combater o incêndio.

Questionada sobre se sente haver alguma incongruência nas palavras de Albuquerque perante estes reforços, Mónica Freitas considerou que “há uma arrogância ao falar, porque, de facto, se os meios estão a vir é porque de facto foram pedidos os apoios”.“Aquilo que nós não compreendemos muitas vezes é o discurso que é feito e o porquê de não se admitir que foram pedidos apoios”, concluiu.

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