A geringonça morreu. Ou estará só a hibernar?
Sábado, 23 de outubro
As concentrações dos três principais gases com efeito de estufa - dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) -, que retêm o calor na atmosfera, voltaram a atingir novo pico e nem a desaceleração económica causada pela pandemia ajudou, pois os números do ano passado são até superiores à média registada no período 2011-2020. Estão, cada vez mais, em causa o cumprimento das metas acordadas em Paris 2015 para tentar mitigar uma subida acelerada na temperatura do planeta que a ONU classifica como "catastrófica". O pior de tudo isto é a aparente falta de vontade dos líderes mundiais alcançar um compromisso. Alok Sharma, presidente britânico da próxima cimeira do clima, que arranca amanhã em Glasgow, admitiu no sábado que, desta vez, será "definitivamente mais difícil" chegar a um acordo. Classificando como "brilhante" o acordo-quadro que saiu de Paris em 2015, Sharma diz, no entanto, que "muitas das regras detalhadas foram deixadas para depois": "É como chegar ao final do exame e faltar responder às perguntas mais difíceis, quando já temos pouco tempo. Falta meia hora para terminar e ainda nos perguntamos: 'como vamos responder a esta questão?'".
Domingo, 24 de outubro
Assobios, vaias, pedidos de demissão e palavras de ordem como "vai para a tropa" foram algumas das coisas que o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho (académico e diplomata, doutorado em ciência política) escutou quando discursava nas comemorações do Dia do Exército, em Aveiro. As vaias também se fizeram ouvir quando José Nunes da Fonseca, tomou a palavra. Como o DN destacou, foi a primeira vez que um Chefe de Estado-Maior do Exército foi vaiado por militares. O protesto, convocado nas redes sociais, mobilizou centenas de ex-paraquedistas, a que se juntaram também ex-comandos, contra a alegada "proibição" de os militares paraquedistas no ativo entoarem, durante a cerimónia, o cântico desta força especial, Ó Pátria Mãe. No próprio dia, tanto a porta-voz do Exército como fonte do ministério da Defesa garantiram desconhecer a proibição. Coube a Marcelo Rebelo de Sousa, Comandante Supremo das Forças Armadas, esclarecer que, afinal, o que existia era "uma orientação" dada aos militares tendo em conta o contexto pandémico. Dias mais tarde, ao DN, o Exército confirmou os cânticos não fizeram parte do planeamento para o desfile porque os militares eram em número reduzido e usavam máscara o que se traduziria "num baixo efeito de ações de voz". O coro dos que protestaram deitou por terra essa ideia. E foi tão alto que mostrou que há feridas por sarar na rela- ção entre as forças especiais e a atual chefia militar.
Segunda-feira, 25 de outubro
No mesmo dia em que o PCP anunciou o voto contra o OE 2022, o Conselho de Finanças Públicas (CFP) fazia a sua avaliação. No entendimento do CFP, a proposta do Governo, que se revelou insuficiente para responder às exigências da esquerda parlamentar, implicava "um aumento das pressões orçamentais nos próximos anos", tendo em vista o cumprimento das metas do Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE já em 2023 (obrigação de um défice abaixo dos 3%). Isto porque para o CFP, o OE 2022, tal como estava, faria aumentar de forma estrutural a despesa pública (principalmente através de prestações sociais e salários), mesmo excluindo verbas previstas em medidas de emergência contra a covid-19, apoios a empresas como a TAP ou as despesas ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência. Em conclusão, para no futuro se responder às metas de Bruxelas - principalmente se não houver crescimento econónico que sustentasse o aumento de despesa - ou se voltava a cortar na despesa ou se aumentava a receita através de impostos, ou se faziam ambas as coisas, como explicou o jornalista Luís Reis Ribeiro no DN e DV.
Terça-feira, 26 de outubro
Sem surpresa, foi aprovado o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da pandemia de covid-19 no Brasil. O documento, com 1279 páginas, recomenda o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por nove crimes, que vão do charlatanismo ao emprego irregular de verbas públicas. Um deles, o crime de responsabilidade, é punível com impeachment, mas falta saber se a câmara de deputados fará avançar o processo que pode ditar o afastamento de Bolsonaro da presidência (tal como aconteceu com Dilma Rousseff, em 2016). No documento, aprovado com sete votos a favor e quatro contra, pode ler-se, por exemplo, que Bolsonaro "incentivou de forma reiterada a população a violar o distanciamento social, opôs-se ao uso de máscaras, promoveu aglomerações e tentou desqualificar as vacinas". É também pedido que Bolsonaro seja suspenso nas redes sociais, como aconteceu nos EUA a Donald Trump, o qual não deixou de enviar uma mensagem de solidariedade ao presidente brasileiro. A covid-19, que Bolsonaro chegou a classificar como "gripezinha", provocou até hoje mais de 600 mil mortes no Brasil.
Quarta-feira, 27 de outubro
Nem golpe de mágica, nem magia negra. Não houve salvação possível para o OE 2022 e o país segue para eleições antecipadas, pois nenhuma outra solução seria viável tendo em conta que foi o próprio Presidente da República quem anunciou, muito antes da votação na generalidade, quando ainda tentava pressionar um entendimento, que o chumbo teria como desfecho inevitável a dissolução do parlamento. O governo não se demitiu e António Costa não perdeu tempo anunciar que é, novamente, candidato a primeiro-ministro. Já se percebeu, pelo próprio discurso de Costa na quarta-feira, que o foco do PS para a campanha é subir a fasquia e apontar à maioria absoluta, que liberte o governos dos engulhos de ter de negociar - à esquerda ou à direita. Mas, simultaneamente, sem hostilizar em demasia os antigos parceiros da geringonça, para que esta, mais do que morrer de vez, possa entrar em modo hibernação e depois acordar se essa for a forma de travar o regresso da direita ao poder. Nesse combate político (que também passará por tentar conter o crescimento do Chega), um dos trunfos na manga do PS será, precisamente, explorar a instabilidade que se vive no PSD e CDS, envoltos em disputas internas pela liderança, que irão causar mais divisões e impedir, por exemplo, que se pense desde já se faz sentido avançarem coligados como em 2015, quando a PAF e Passos Coelho ganharam as eleições.
Quinta-feira, 28 de outubro
No meio do intenso ciclo noticioso da crise política em Portugal, da escalada no preço dos combustíveis e no conflito entre Paris e Londres sobre pescas ou dos renovados alertas sobre o aumento de casos de covid-19 na Europa, um casal anunciou que vai ter gémeos e, em segundos, foi notícia um pouco por todo o mundo. Falamos, claro, de Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez, que recorreram às redes sociais para dar a novidade. E se a família cresce, cresce também a notoriedade do casal. O post partilhado pelo futebolista português (que já tem quatro filhos, dois deles também gémeos) no Instagram mostra CR7 e Gio a segurar a ecografia que confirma a gravidez e, em apenas uma hora, recebeu mais de 9,6 milhões de likes (ontem, pelas 19h00, já eram 28 milhões). Um fenómeno de popularidade que promete ter, em breve, novo impulso quando estrear na Netflix a série documental Eu, Georgina.
Sexta-feira, 29 de outubro
No dia em que o outono chegou a sério, com chuva e temperaturas a descer em todo país, arruinando os planos de muitos portugueses para o fim-de-semana prolongado, os números da covid-19 mostraram que, nesta altura, o Alentejo é a única região onde o índice de transmissibilidade (Rt) é inferior a 1 e também que a média de casos diários nos últimos cinco dias foi de 728, mais 100 do que na semana passada. Mais cedo ou mais tarde, era inevitável que chegasse a Portugal a tendência de subida de casos que já se vinha notando um pouco por toda a Europa. Além disso, importa recordar que o país desconfinou, libertando-se das medidas sanitárias mais exigentes que vigoraram durante largos meses. As previsões do INSA, reveladas pela ministra da Saúde, apontam para cerca de 1300 casos diários no próximo dia 7. A boa notícia para o país (e a vantagem em relação aos outros), é que a população com vacinação completa continua acima dos 85,5% e isso reflete-se no número ainda relativamente baixo de internamentos (331), embora também estes estejam aumentar desde segunda-feira.