Do papel na UE à regionalização, Catarina Martins e Jorge Pinto tentaram marcar diferenças à esquerda

Num debate entre candidatos próximos ideologicamente, ambos tentaram justificar o porquê de estarem na corrida a Belém. E quer Jorge Pinto, quer Catarina Martins recusam desistir a favor de Seguro.
Catarina Martins e Jorge Pinto estiveram no penúltimo frente a frente destas presidenciais.
Catarina Martins e Jorge Pinto estiveram no penúltimo frente a frente destas presidenciais.FOTO: Francisco Romão Pereira - RTP

Boa noite.

Catarina Martins, candidata presidencial apoiada pelo BE, e Jorge Pinto, que tem o apoio do Livre, estarão frente a frente este domingo. O penúltimo debate a dois destas presidenciais tem transmissão na RTP e será acompanhado ao minuto pelo DN.

Dois candidatos de esquerda que têm estado nos últimos lugares das sondagens

Sendo dois dos três candidatos presidenciais apoiados por partidos à esquerda do PS (António Filipe é o outro, com o apoio da CDU), Jorge Pinto e Catarina Martins têm surgido nos últimos lugares das sondagens mais recentes.

No último barómetro DN/Aximage, por exemplo, Catarina Martins tinha 5,9% das intenções de voto e era a sexta de entre oito candidatos. Já Jorge Pinto aparecia no último lugar com 1,9%. António Filipe estava entre ambos, com 2,9%.

Catarina Martins e Jorge Pinto estiveram no penúltimo frente a frente destas presidenciais.
Barómetro DN/Aximage. Com Gouveia e Melo em queda, é André Ventura quem lidera intenção de voto presidencial

Catarina Martins começa o debate. "Temos percursos diferentes"

A candidata Catarina Martins é quem tem a primeira palavra neste debate, moderado por Vítor Gonçaves. Jorge Pinto encerrará.

Questionada sobre "o que a distingue" de Jorge Pinto, Catarina Martins diz que se prefere "focar" na sua candidatura. Puxa a si a "experiência" política fruto de "várias responsabilidades" ao longo dos anos. Conclui dizendo que ambos têm "percursos diferentes", trazendo "coisas diferentes para a campanha".

Jorge Pinto: o "europeísta crítico, mas convicto"

Na sua réplica, Jorge Pinto é mais direto do que a adversária. Identifica desde logo uma "divergência", nomeadamente ao nível do papel de Portugal "nas instituições europeias".

O candidato apoiado pelo Livre identifica-se como um "europeísta crítico, mas convicto". Cita depois uma moção passada, apoiada por Catarina Martins, onde se dizia que "o projeto europeu" estaria condenado. "Precisamos do projeto europeu, e que este se afirme como pólo distintivo no contexto global", responde Jorge Pinto.

Catarina Martins identifica "falta de unidade" dentro da UE, Jorge Pinto promete "não desistir" do projeto europeu

Ainda em matéria de política externa, Catarina Martins (ela própria eurodeputada) identifica "falta de unidade" dentro da União Europeia (UE). Diz que "não existe, é uma disputa política".

A candidata presidencial afirma ser "preciso construir a Europa" que se deseja. Compromete-se a "defender Portugal" em casos como o Banif, quando "a UE se preparava para impor sanções" ao país.

Na resposta, Jorge Pinto puxa a fita atrás no tempo, dizendo que a antiga coordenadora do Bloco de Esquerda propunha um referendo semelhante ao Brexit. Assume "não ter a certeza" se este é o caminho a seguir. "Não vou desistir da União Europeia", afiança. Menciona a nova estratégia de segurança dos EUA e refere que "está em causa um ataque deliberado ao projeto europeu".

"O Presidente vai ser o bombeiro do sistema", considera Jorge Pinto

Passando agora para a política interna, Vítor Gonçalves pergunta diretamente por que acham ser necessário um Presidente à esquerda.

Jorge Pinto refere ser "um perigo para o país colocar os ovos todos no mesmo saco", e relembra que os principais governantes em Portugal (a nível nacional e local) são de partidos à direita. Com isto, havendo "uma maioria de dois terços à direita e à extrema-direita", o Presidente da República "não vai legislar, vai ser o bombeiro do sistema, a última linha de defesa do sistema".

Mas admite desistir a favor de António José Seguro, candidato apoiado pelo PS? "A principal razão para votar em alguém não pode ser quem está melhor nas sondagens. Deve ser sim alguèm com firmeza e coragem."

Catarina Martins diz ser "difícil saber o que Seguro pensa em alguns assuntos sobre os quais será chamado a decidir". Diz que "há uma proximidade clara entre Seguro e Marques Mendes e mesmo assim ninguém vai pedir a um para desistir a favor do outro". "Vamos à luta pelas ideias, sinto a minha campanha a crescer", atira. E se, a 19 de janeiro, os dois nomes para a segunda volta forem de direita? "A escolha do mal menor só tem feito o mal maior crescer."

Já Jorge Pinto diz dormir "descansado" quando a consciência assim o permite" e espera que quem passar à segunda volta "esteja de consciência tranquila de que fará um bom serviço" ao país.

Se for eleita, Catarina Martins promete ser diferente de Marcelo, "que fez dos Orçamentos do Estado autênticas moções de censura"

Na reta final do debate, ambos os candidatos são questionados sobre o perfil que vão ter enquanto Presidente da República.

Catarina Martins rejeita ter um papel como o de Marcelo Rebelo de Sousa, que acusa de ter utilizado "Orçamentos do Estado como autênticas moções de censura". Diz que quer "lançar debates que não estão a ser lançados".

Jorge Pinto compromete-se a "cumprir e fazer cumprir" a Constituição quando assumir funções como chefe de Estado, nomeadamente no tema da regionalização, que considera "o maior falhanço da geringonça".

Na resposta, Catarina Martins diz que há um "bloqueio constitucional" que impede que se avance na regionalização (algo que Jorge Pinto contesta, dizendo que a própria Constituição é contrária a essa perspetiva). A antiga líder do Bloco refere ainda que em Portugal "quem trabalha" sente-se abandonado e que o Estado está a "falhar" nos serviços fundamentais.

Encerrando o debate, Jorge Pinto deixa em cima da mesa a promessa de defender a Constituição, e de querer "um novo modelo para o país". Diz que quer "colocar as pessoas no centro, tendo em conta os mais fracos" e promete ainda convocar Estados Gerais e, no caso da regionalização, uma Assembleia Cidadã para discutir o assunto.

O penúltimo debate a dois destas eleições presidenciais colocou frente a frente dois candidatos à esquerda. E por isso o moderador, Vítor Gonçalves, quis saber desde logo: o que distingue Catarina Martins de Jorge Pinto, e vice-versa? Logo aqui, ambos os candidatos tentaram marcar distâncias entre si, nomeadamente ao nível do papel de Portugal nas instituições europeias.

Catarina Martins, apoiada pelo BE, começou por não responder diretamente, preferindo trazer o foco para a sua candidatura, que disse ser pautada pela "experiência", por ter tido "várias responsabilidades" política ao longo dos anos. Já Jorge Pinto, que tem o apoio do Livre, identificou logo um ponto de "divergência": o papel de Portugal dentro do projeto europeu.

Assumindo-se como um "europeísta crítico, mas convicto", o deputado do Livre defendeu a União Europeia (UE) e relembro que, no passado, Catarina Martins apoiou uma moção "onde se dizia que "o projeto europeu" estaria condenado. Na resposta, a antiga líder do BE e atual eurodeputada, afirmou que "não há" unidade dentro do projeto europeu e que os líderes autoritários, como Viktor Órban (primeiro-ministro húngaro) ou Giorgia Meloni (primeira-ministra italiana) estão dentro das instituições da UE.

Passando depois para a política interna e para a necessidade de ter um Presidente à esquerda, Jorge Pinto assinalou que é "um perigo para o país colocar os ovos no mesmo saco" e que Portugal virou à direita. Isto significa que existe "uma maioria de dois terços à direita e à extrema-direita". Por isso, o Presidente da República será "o bombeiro do sistema, a última linha de defesa". Questionado sobre uma eventual desistência a favor de António José Seguro, Jorge Pinto referiu que quando se vota "a principal razão" deve ser a "firmeza e coragem" dos candidatos e não "quem está melhor nas sondagens".

Já Catarina Martins considerou "difícil saber" o que António José Seguro pensa "em alguns assuntos sobre os quais será chamado a decidir" e acusou o candidato apoiado pelo PS de ter uma "proximidade clara" com Luís Marques Mendes, candidato que tem o apoio de PSD e CDS. "E ainda assim ninguém vai pedir a um que desista a favor do outro", atirou.

Na reta final do debate, a discussão focou-se sobre o perfil que ambos os candidatos poderão vir a ter se forem eleitos como Presidente da República.

Respondendo primeiro (uma vez que a última palavra coube a Jorge Pinto), Catarina Martins rejeitou ter um papel como o de Marcelo Rebelo de Sousa, que acusou de ter utilizado "Orçamentos do Estado como autênticas moções de censura". Já Jorge Pinto comprometeu-se a "cumprir e fazer cumprir a Constituição", ao promover, por exemplo, a regionalização, que acusou de ser "o maior falhanço da geringonça". Isto suscitou mais uma divergência entre os candidatos: Catarina Martins disse existir um "bloqueio constitucional" que impede que se avance na regionalização -- perspetiva que Jorge Pinto contestou, dizendo que a própria Constituição é contrária a essa perceção. O candidato apoiado pelo Livre terminou prometendo "um novo modelo" para o país, com recurso a Assembleias Cidadãs ou, por exemplo, a Estados Gerais.

O próximo -- e último -- debate a dois acontece amanhã, segunda-feira, e vai opor Henrique Gouveia e Melo a Luís Marques Mendes. Em janeiro, todos os candidatos admitidos a eleições vão debater entre si.

Leia em baixo o 'filme' deste debate:

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