Quase duas semanas depois das Autárquicas, os partidos políticos afinam armas para a luta presidencial de janeiro e para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Do Parlamento e da sociedade têm sobressaído os temas da imigração, a aprovação da proibição da utilização da burca em espaços públicos, sem esquecer a Flotilha Humanitária para Gaza e a detenção dos quatro portugueses que nela seguiam. Entre os quatro mais bem posicionados para vencer, Gouveia e Melo, António José Seguro, Marques Mendes e André Ventura, o Diário de Notícias ressalva onde têm incidido no discurso, com três conclusões principais: Gouveia e Melo tem tido posições mais associadas ao centro esquerda; António José Seguro, agora apoiado pelo PS, não alterou o discurso de moderação que seduz também no PSD; Marques Mendes tem defendido o governo; já André Ventura, que é líder do Chega e, por isso, indissociável do que é discutido no Parlamento, insistiu sempre num discurso crítico na imigração.Quanto à imigração, o almirante respondeu esta semana, à Lusa, desta forma. “Se me provarem que há um conjunto de imigração que é prejudicial ao Estado, claro que não quero essa imigração. Passados dez anos, o imigrante é tão português como nós. Ou temos um gene português especial?”, comentou, pedindo “integração, conhecimento acrescentado e reversão da pirâmide etária”. Ao Eco, ainda esta semana, vincou que concorda “genericamente” com o controlo, mas diz que a lei foi “movida por pressão ideológica e que pode bloquear a economia.” Se por um lado considera que existe “Estado a mais”, identificando-se como “liberal” na componente económica, Gouveia e Melo foi mais verbal com as políticas de imigração e, em setembro, já pedira “reação imediata e firme” do Estado no ataque à Flotilha Humanitária em águas internacionais, solicitando ação diplomática. .Por isso, André Ventura, há menos de uma semana, elaborou a crítica ao almirante, com quem almoçou no final de agosto, antes de assumir a candidatura presidencial. Já sabia que Seguro era apoiado pelo PS, ainda assim associou o militar aos socialistas: “Gouveia e Melo tornou-se no candidato do PS nestas eleições. É contra a lei dos estrangeiros, é contra a lei que proíbe as burcas no espaço público, diz que o ódio está a tomar conta da sociedade. Tudo indica que António Costa votaria no almirante.”Também o CDS-PP disse não ter intenção de apoiar Gouveia e Melo, exceção ao ex-presidente Francisco Rodrigues dos Santos e Varandas Fernandes. A declaração de que o perfil de Mário Soares é o que mais seguirá enquanto presidente enfureceu a direita. “Tem sido coerente com a ideia de se dizer acima dos partidos, de se dizer fora do sistema, mas tem deambulado do centro-direita para o centro-esquerda. Isso pode ser apontado como falta de coerência. Pode estar a ser mais autêntico, mas sabe que será sempre o mais escrutinado e, como tal, ao derivar para a esquerda pode falhar a meta de ser transversal. Enquanto outros tentam sair do seu espaço político, Gouveia e Melo tenta entrar num eleitorado ideologicamente mais marcado”, analisa Paula Espírito Santo, politóloga.André Ventura, por sua vez, criticou a segunda versão da lei da imigração, que diz ser “mais fraca”, reafirma a importância de perda de nacionalidade durante 20 anos para imigrantes que cometam crimes graves e categorizou de “palhaçada” a Flotilha para Gaza, insistindo que os custos do regresso a Portugal deveriam ser imputados aos ativistas. Como tal, não se tem desviado do caminho. “Está com dificuldade em separar as águas. Achou nas Autárquicas que valia mais do que as candidaturas e ficou aquém nos resultados. Ventura já se candidatou a Presidente, mas dessa vez foi um teste, agora quer ser eleito e não separa eleições, tem dificuldade em inovar e ser disruptivo para mobilizar”, precisa a professora associada no ISCSP, considerando que numa eleição “tão competitiva seria um êxito para Ventura chegar à segunda volta.” .Luís Marques Mendes usou expressões como “equilíbrio” e “moderação” em agosto e setembro para abordar a necessidade de controlo da imigração. À CNN, há quatro dias, foi mais cáustico. “A política de imigração nos últimos anos foi uma calamidade. Não aconteceu integração nem regulação e precisamos disso. Não sabíamos de onde vinham. Qualquer governo tinha de estar a tomar medidas semelhantes a estas”, disse, associando-se a Luís Montenegro, afirmando até que “a primeira versão da lei era melhor”. Prosseguiu nessa entrevista, considerando que “Gouveia e Melo passa os dias” a atacá-lo. Reconhecendo o “massacre inaceitável em Gaza”, disse que a Flotilha Humanitária teve “muito de hipocrisia” e que nos “termos da lei internacional um navio com bandeira portuguesa tinha de ter proteção diplomática”. Quanto a isso defende também a ação governativa. As palavras positivas para o Executivo foram dadas também no reconhecimento da Palestina. “Quando é colocado à prova tem uma inclinação próxima da origem e não se afasta das posições do Governo”, explica Paula Espírito Santo, que valoriza a inclusão de Rui Moreira, ex-autarca do Porto e conceituado no Norte do país, para cativar eleitorado independente. E, quem sabe, piscar o olho ao apoio do CDS-PP: “O regionalismo é muito importante e Rui Moreira mobiliza. É figura influente a Norte, pode cumprir essa lacuna de [Marques Mendes] não ser tão bem acolhido lá.” .António José Seguro tem escolhido a palavra “unir”, tal como Gouveia e Melo. O socialista angaria apoios das federações distritais e das principais figuras do centro do partido e sabe que a mobilização à esquerda, que tem candidatos próprios, tornam difícil que o seu discurso cative bloquistas, comunistas e até o Livre. Ana Gomes, Manuel Alegre, João Soares e Francisco Assis manifestaram-lhe apoio. No livro biográfico apresentado esta semana, repetiu que tentaria novamente “um acordo de salvação nacional com o PSD”, o que continua a gerar divisão entre militantes e que levou Mário Soares a expressar incómodo em 2013 e a eleições internas em 2014. Ter-se posicionado contra a “bomba atómica” e a dissolução de um governo por falta de aprovação de Orçamento do Estado gera críticas de várias falanges no PS. “Passado é marcado mais à esquerda, um centro esquerda, diria, mas tem-se afastado dessa ideologia. Tenta a demarcação ideológica, conquistando ao centro e centro-direita, enquanto o almirante faz o contrário. Terá o eleitorado fiel do PS e tentará ampliar o voto naqueles que flutuam entre PS e PSD”, constata Paula Espírito Santo. À SIC, esta semana, Seguro falou sobre a imigração e disse que, se fosse Marcelo Rebelo de Sousa, “também promulgaria” o documento, embora não associe “a cor e a nacionalidade à insegurança”. Questionou, sim, se a burca era “o principal problema em Portugal”, repetindo a indignação com os preços da habitação e a situação na Saúde. “Para já, nenhum se destaca e todas estas posições podem alterar-se para angariar eleitorado”, avisa Paula Espírito Santo.Jorge Pinto deverá ver apoio confirmadoJorge Pinto, deputado e um dos fundadores do Livre, avançou com a candidatura presidencial na quarta-feira. Em Assembleia, na segunda-feira, o seu nome pode ficar aprovado, dispensando eventual referendo. Natural de Amarante, é tido como ativo forte no Porto, combatendo a portuense Catarina Martins.António Filipe responde ao Partido SocialistaAntónio Filipe recusa abdicar em prol de Seguro por considerar que o socialista está longe da esquerda. “Fico sensibilizado pela importância que o PS me dá. Pode apelar à desistência de candidatos que, politicamente, estão mais próximos dele, designadamente Marques Mendes e Gouveia e Melo”, disse ontem aos jornalistas.CDS e PAN sem decisãoSabe o DN que tanto o CDS-PP como o PAN já reuniram militantes e dirigentes, mas continuam sem chegar a uma maioria suficiente para uma decisão quanto ao candidato presidencial. O PAN descarta apoiar soluções que se lançaram sem o consultarem, enquanto o CDS sabe que Paulo Portas é uma hipótese cada vez mais remota.Cotrim de Figueiredo em oposição ao PCPNos últimos dias, Cotrim de Figueiredo, candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, tem expressado oposições ao PCP. Pronunciou-se sobre a burca, tema que não considerou prioritário, mas dizendo que “votaria a favor”; disse preferir construção de “700 mil fogos habitacionais” à solução pública e de mobilização de devolutos. Admitiu ainda a “revisão da Constituição”, que o PCP nega por completo.Catarina Martins apontou ao ChegaNesta semana, Catarina Martins terá ação em Lisboa depois da apresentação no Porto. A bloquista garantiu que se fosse Presidente nunca deixaria que “o Chega fosse Governo.” .Marques Mendes passou do “equilíbrio” necessário na política de imigração para considerar que a ação dos anos anteriores foi “uma calamidade”. Considerou que a flotilha teve “muito de hipocrisia”. Inclusão de Rui Moreira como mandatário pode ser impulso no Norte.Mudança em Marques Mendes.É difícil dissociar o discurso de André Ventura do Parlamento. “Não separa eleições e tem dificuldade em ser disruptivo para mobilizar. Subiu a pique nas Legislativas, mas ficou muito aquém nas Autárquicas”, explana Paula Espírito Santo.André Ventura sem separar ideias no discurso.“Enquanto outros tentam sair do seu espaço político, Gouveia e Melo tenta entrar num eleitorado ideologicamente mais marcado. Ao derivar para a esquerda pode não ser transversal.”Paula Espírito Santo, docente universitária e politóloga.Presidenciais: Rui Moreira diz que só Marques Mendes poderá ter o seu apoio.Gouveia e Melo recusa discurso anti-imigração mesmo que perca votos.Presidenciais. Ventura insiste em colar Gouveia e Melo ao PS: "Aposto que o doutor António Costa vota no almirante".Ex-candidatos presidenciais Ana Gomes e Manuel Alegre ao lado de Seguro