Catarina Martins considera “caso gravíssimo” escutas com António Costa sem autorização
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Catarina Martins considera “caso gravíssimo” escutas com António Costa sem autorização

"Quando a Justiça não cumpre a Justiça é uma insegurança absoluta", defedeu a candidata presidencial.
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A candidata presidencial Catarina Martins defendeu este sábado, 22 de novembro, em Lisboa, que as escutas com o antigo primeiro-ministro António Costa feitas pelo Ministério Público sem a autorização que a lei obriga constituem um “caso gravíssimo”.

“É preciso perceber que esse é um caso da maior gravidade. Diz-se muitas vezes, e é absolutamente verdade, ninguém está acima da lei e, mesmo o primeiro-ministro pode ser investigado, isso não está em causa, mas a Justiça também não está acima da lei e aquelas escutas foram feitas sem a autorização que a lei obriga de um tribunal, neste caso, o Supremo Tribunal de Justiça”, sublinhou a candidata acerca do caso revelado pelo DN.

Catarina Martins considera “caso gravíssimo” escutas com António Costa sem autorização
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Numa ação de campanha que decorreu ao fim da manhã no Mercado de Benfica, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE) insistiu na ideia de que ninguém está acima da lei, razão pela qual “nem o Ministério Público nem a Justiça também não podem” estar nesse patamar.

“Acho que isto é um caso gravíssimo do ponto de vista do Estado de Direito, porque quando a Justiça não cumpre a Justiça é uma insegurança absoluta. Não é para António Costa, é para todos os cidadãos deste país saber que a Justiça pode estar à margem da lei. É preciso uma discussão profunda neste país e espero que, em primeiro lugar, as instâncias próprias de fiscalização da ação da Justiça atuem rapidamente e deem explicações ao país. Isto é mesmo um problema do Estado de Direito, não é menos do que isso”, frisou a ex-eurodeputada.

Catarina Martins defendeu, por outro lado, que deve haver uma reforma no setor da Justiça, “algo que se tem ouvido há muito tempo”, sublinhando que é igualmente necessário “garantir escrutínio da ação da Justiça e uma explicação democrática mais eficaz da sua ação, porque casos como estes não são possíveis”.

“É preciso uma outra mudança muito grande na Justiça, que é para toda a gente ter acesso à Justiça, porque nós vivemos em Portugal num regime em que, na verdade, há uma Justiça para quem pode e uma Justiça que falta a quem não pode, a quem não tem dinheiro para recorrer aos tribunais”, argumentou.

Questionada sobre se o Ministério Público tem permitido influenciar a política portuguesa nos últimos anos, Catarina Martins lembrou que tem havido “problemas sucessivos”, destacando o exemplo das fugas ao segredo de justiça, “que mostram como pode ser instrumentalizado e que muitas vezes veio diretamente da Justiça”.

“E isso é um problema, porque as pessoas são condenadas em praça pública sem terem direito a defender-se. Depois, há coisas que deviam ser investigadas e que nunca são investigadas. E, portanto, sim, temos um problema com a Justiça, Acho que o problema da Justiça se resolve exigindo uma Justiça mais democrática, mais democrática na transparência dos seus procedimentos e no acesso à Justiça, porque a Justiça não pode ser para quem pode e para quem não pode”, acrescentou.

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OE vai sair muito parecido com o que entrou

A candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda lamentou ainda que haja acordos no parlamento que impedem que as propostas da oposição contribuam para o Orçamento do Estado, o que significa que, “muito provavelmente, sairá muito parecido com o que entrou”.

Catarina Martins sublinhou tratar-se de “um problema”, pois o OE que vai sair do hemiciclo, com acordos entre PSD, CDS/PP, Chega e PS “torna a vida mais difícil para quem vive dos seus salários e da sua pensão”.

“Há acordos no parlamento que estão a impedir que propostas da oposição sejam aprovadas. O que quer dizer que muito provavelmente o Orçamento vai sair muito parecido do que entrou. Não faz nada pelos salários e pelas pensões e também não faz nada pelo preço da alimentação, pelo preço do supermercado, pela fatura da luz, pela renda da casa, pela prestação da casa”, exemplificou.

“É um Orçamento que agrava os problemas do país, torna a vida mais difícil para quem, com o seu salário, tem tanta dificuldade a chegar ao fim do mês”, insistiu a candidata às presidenciais de 18 de janeiro de 2026. 

Preços elevados

Sobre a ação de campanha no Mercado de Benfica, Catarina Martins salientou que saiu de casa para ir às compras para aproveitar para chamar a atenção para o atual custo de vida.

“Precisamos de falar nisso na campanha presidencial e uma candidata a Presidente da República não pode estar alheada de uma das maiores dificuldades do país, que são os preços. O da comida, o dos bens essenciais. As pessoas fazem contas para chegar ao fim de mês. As compras da semana cada vez são mais caras”, justificou.

“É preciso chamar a atenção para isso. Porque a política não pode ser sobre ela própria. Os políticos não podem passar a vida a falar deles próprios. Têm que falar, sim, da vida concreta das pessoas. E eu vim a um mercado, porque num mercado ainda se consegue comprar fruta e legumes, muitas vezes a um preço mais acessível do que noutros sítios”, acrescentou.

Catarina Martins referiu que até as próprias vendedoras do mercado acham que os preços estão caros.

“Não são seguramente elas as culpadas do aumento de preços. Mas nós, em Portugal, temos de enfrentar o facto de termos um oligopólio da grande distribuição. São os poucos grupos económicos que mandam na distribuição alimentar no país e que arrecadam milhões em lucros, por um lado, e, por outro, o facto de termos salários muito baixos”, argumentou.

“Nós temos salários bem mais baixos do que a maior parte dos países da União Europeia e pagamos o mesmo quando vamos às compras. E portanto é preciso que este tema entre definitivamente na campanha presidencial. Porque um dos maiores problemas deste país são as faturas das compras, do supermercado, da luz, tudo cada vez mais caro. E isto tem de ser tema, porque nós precisamos que a política responda pela dificuldade das pessoas. 

Catarina Martins, que se fez acompanhar na deslocação ao Mercado de Benfica por alguns elementos da sua campanha, disse ter gastado quase 30 euros em peixe, legumes para a sopa, alface e fruta. 

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