António Filipe e José Seguro: o debate sobre as diferenças na esquerda e quem merece o voto útil
Foto: DR

António Filipe e José Seguro: o debate sobre as diferenças na esquerda e quem merece o voto útil

Comunista acusou o oponente de "não ser carne nem peixe". José Seguro diz que não esconde seu percurso político.
Publicado a
Atualizado a

O debate entre António Filipe e António José Seguro na TVI esta noite, 20 de dezembro, começou com dois temas da ordem do dia: o arquivamento da averiguação preventiva a Luís Montenegro e a prestação de contas dos candidatos presidenciais. Antes de responder à primeira pergunta, Seguro elogiou o companheiro de debate. "[Quero] dizer que tenho uma grande estima pessoal e uma grande admiração pelo António Filipe, e encontrar-nos aqui nesta circunstância hoje", começou por dizer.

Na primeira resposta, ambos foram consensuais e genéricos, mas já no segundo tópico surgiram algumas divergências, que se foram acentuando ao longo dos 20 minutos de debate. "A minha lista de clientes está aqui nesta folha, não é nenhuma, não que eu não saiba fazer nada, porque fui deputado com muita honra, fui professor de diversidade durante 20 anos, mas, de facto, não tenho clientes", afirmou o comunista.

Seguro, que havia prometido divulgar a sua lista este sábado, remeteu-a para domingo ou segunda-feira, justificando que precisa da autorização dos clientes. Ao mesmo tempo, defendeu-se perante o facto de, ao contrário do oponente, ter clientes. "Em 2014 deixei de ter qualquer atividade política e tive que ir à minha vida, tive que ir trabalhar como professor e criei as minhas microempresas, tenho empresas e, portanto, quero que fique também tudo claro", resumiu. De acordo com o candidato, são cerca de "quatro ou cinco clientes" e é "impossível divulgar todos", por vender vinho e azeite.

Seguiu-se a questão de José Alberto Carvalho sobre as sondagens, mais especificamente dirigida a António Filipe: "O que é que aconteceu ao eleitorado de esquerda?". A resposta do comunista foi curta: "O eleitorado de esquerda está aí e, portanto, poderá manifestar-se nas próximas eleições".

O jornalista insistiu em mais reflexão: "Mas quanto é que vale esse eleitorado?". A resposta foi semelhante à anterior: "Isso vamos ver. Neste momento há 0 a 0 e, portanto, os votos vão ser contados no dia 18 à noite e, portanto, os eleitores vão ter de escolher entre os vários candidatos e sobre o seu posicionamento político", argumentou.

António Filipe destacou que se apresentou "desde a primeira hora como a candidatura de esquerda que faltava". Explicou que considera Seguro um "consenso neoliberal" e que "se demarca profundamente" desta posição.

As perguntas continuaram centradas no comunista: "Mantém essa leitura de que António José Seguro não é um candidato de esquerda?". A resposta foi afirmativa, com culpabilização do adversário (e de Marques Mendes) pelas "políticas públicas das últimas décadas" que "conduziram o país a uma situação com a qual eu não me identifico".

Entre estas situações, citou a "subordinação do poder político ao poder económico", a não contestação das privatizações "que têm alienado muito do património público e colocado as alavancas fundamentais da nossa economia nas mãos estrangeiras", acusando as mesmas privatizações de serem "responsáveis por um país de baixos salários e com os direitos dos trabalhadores profundamente fragilizados".

Foi então que mencionou o pacote laboral, salientando que o cenário seria "pior ainda" se as alterações à lei avançassem. Com esses argumentos, destacou que "fazia falta uma candidatura identificada com os direitos e os interesses dos trabalhadores, por uma elevação dos salários e pela concretização de direitos sociais fundamentais".

Voto útil, quando?

José Alberto Carvalho descreveu um possível cenário de segunda volta com "um candidato de direita e outro de centro-direita". O comunista respondeu que a preocupação é a primeira volta. "Neste momento, preocupa-me passar à segunda volta. Tenho dito que a segunda volta, neste momento, não existe sem mim, porque vamos disputar a primeira volta", analisou.

Depois destes minutos centrados nas ideias de António Filipe, foi a vez de José Seguro responder à pergunta sobre o que aconteceu ao eleitorado de esquerda. O candidato preferiu falar sobre o voto útil: "Nestas eleições, o voto útil é na primeira volta, não na segunda volta", vincou.

E lançou uma provocação: "Estou convencido de que António Filipe, faço-lhe essa justiça, não dormiria bem de 18 para 19 se os resultados das eleições fossem entre André Ventura e Marques Mendes a passarem para a segunda volta. Não dormiria, estou convencido disso", disse.

Seguiu-se um argumento sobre as diferenças entre si e o oponente, mas de forma indireta. "Estou convencido de que os eleitores de esquerda moderados e até do centro-direita, que nos estão a ver neste momento, percebem a importância de concentrarem os votos num único candidato de esquerda que possa passar à segunda volta. Porque isso não só é útil, como é necessário para o nosso país", detalhou.

Seguro argumentou sobre as razões que o levam a crer ser o candidato que os portugueses querem, assumindo ser "o único candidato de esquerda", mas afirmando que quer ser "o presidente de todos os portugueses". António Filipe interrompeu e provocou, dizendo que o oponente estava a acenar para os eleitores comunistas "nos últimos dias" e que "isso revela uma grande dificuldade em convencer os eleitores do Partido Socialista".

Ao mesmo tempo, acusou-o de "não ser carne nem peixe" e de "não dizer nada de esquerda", retomando a classificação de "consenso neoliberal". Seguro pediu um exemplo desse "consenso neoliberal" e ouviu como resposta a greve laboral de 11 de dezembro.

Mais diferenças

Ficou clara mais uma diferença entre os dois candidatos de esquerda. Seguro defendeu "a autonomia e a independência do movimento sindical", enquanto o comunista relatou que, naquele dia, a "única atividade" foi estar ao lado dos trabalhadores.

Acabaram por concordar quanto aos problemas dos trabalhadores, mas discordaram sobre como resolvê-los. António Filipe acusou o oponente de ter ideias "coincidentes" com Passos Coelho. Seguro rebateu rapidamente: "Mito urbano".

O debate prosseguiu com mais acusações sobre o período da Troika e a economia. O antigo deputado socialista refletiu sobre outra diferença entre ambos, após ser acusado pelo oponente de "não combater a Troika" no passado. "Sabe qual é a nossa diferença? É que, para António Filipe, é muito fácil estar sempre pelo lado do protesto. Eu não tomo essa opção. Eu, sobretudo quando está em causa o interesse nacional, a defesa do povo português, tenho uma atitude, eu diria, patriótica e de esquerda". O comunista defendeu que a sua posição na Troika foi de "construção".

O voto útil, de novo

Após vários minutos de argumentação de António Filipe sobre a sua visão de ser um presidente "que não se identifica com este estado de coisas e que seja um fator de mudança na vida política nacional, de acordo com as competências que a Constituição lhe confere", Seguro voltou ao cenário que prevê no dia 18, agora de forma direta.

"Elogio o esforço que António Filipe tem tido ao longo deste papo, para tentar justificar a razão da sua candidatura. Mas ele vai dormir mal, de 18 para 19, se nessa noite for André Ventura e Marques Mendes a passar à segunda volta das eleições. É que, desta vez, António Filipe, o voto útil, o voto necessário, é na minha candidatura e na primeira volta. Porque, realisticamente, António Filipe não tem condições de passar à segunda volta, não tem", disse.

Além disso, colocou-se como um candidato da "esquerda moderada", deixando implícito que o oponente não o seria. "Os eleitores que querem que alguém da esquerda, da esquerda moderada, esteja na segunda volta, estarão em mim. Caso contrário, António Filipe, com todo o respeito e simpatia, porque a sua candidatura é simpática, o voto em si ou no outro candidato, da esquerda à minha esquerda, é o mesmo voto na direita", argumentou.

O comunista defende justamente o contrário: "Considero que os votos de António José Seguro estão no mesmo cesto dos de Marques Mendes e do Gouveia Melo". Com o debate a terminar, Alberto Carvalho trouxe um tema também divisivo: a guerra na Ucrânia.

Seguro defendeu que se deve "fazer tudo" para que "Putin saia das terras ocupadas na Ucrânia, posição à qual António Filipe teve muita dificuldade em chegar". O candidato rebateu rapidamente: "Está enganado, está enganado", repetiu diversas vezes. Com o tempo terminado, não se ficou a saber quão profunda é a diferença entre os candidatos que representam duas esquerdas.

Próximos debates

Domingo, 21 de dezembro

Catarina Martins vs. Jorge Pinto (RTP)

Segunda-feira, 22 de dezembro

Henrique Gouveia e Melo vs. Luís Marques Mendes (TVI)

amanda.lima@dn.pt

António Filipe e José Seguro: o debate sobre as diferenças na esquerda e quem merece o voto útil
Marques Mendes abriu e encerrou o "debate bastante vivo" entre André Ventura e João Cotrim de Figueiredo
António Filipe e José Seguro: o debate sobre as diferenças na esquerda e quem merece o voto útil
Gouveia e Melo e Ventura argumentaram que são o candidato "sem partido" e o que tem todos contra si

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt