Ministério da Saúde anuncia investigação ao surto no lar de Reguengos

No início da semana, a tutela pediu uma avaliação à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde para apurar "eventuais responsabilidade" ligadas ao surto no lar de Reguengos de Monsaraz. Esta cadeia de transmissão é responsável pelo contágio de 162 pessoas e 18 mortes.
Publicado a
Atualizado a

"Existem vários documentos que foram enviados ao Ministério da Saúde" e que avaliam a resposta ao surto de covid-19 no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, em Reguengos de Monsaraz, indicou a ministra da Saúde, Marta Temido, nesta quarta-feira, em conferência de imprensa. Estes documentos contam versões diferentes do mesmo acontecimento, algumas contraditórias, por isso, a tutela decidiu, no início desta semana, abrir um processo através da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde para analisar e apurar "eventuais responsabilidades".

O surto do lar em Reguengos de Monsaraz foi a maior cadeia de transmissão do novo coronavírus descoberta em estruturas residências para idosos, em Portugal: provocou 162 casos e a morte a 18 pessoas - 16 utentes, uma funcionária de 42 anos e um homem da comunidade. Motivou ainda várias criticas à capacidade de ação dos responsáveis pela gestão da crise e ao Governo, nomeadamente, à ministra da Segurança Social, que confessou não ter lido o relatório da situação elaborado pela Ordem dos Médicos, o que levou à necessidade de António Costa defender Ana Mendes Godinho.

No documento da Ordem dos Médicos, a que o DN teve acesso, é sugerido que "vários doentes estiveram alguns dias sem fazer a terapêutica habitual por não haver ninguém que a preparasse ou administrasse".

Ou seja, "ficaram por administrar fármacos tão importantes como a varfarina" (medicamento do grupo dos anticoagulantes usado para evitar tromboses), "por se desconhecerem as prescrições (ausência de processos clínicos organizados e atualizados), ou insulina por falta de canetas". São ainda descritas situações de desidratação e de médicos traumatizados.

Além do relatório da Ordem dos Médicos, o único cujo conteúdo foi divulgado, também a Administração Regional de Saúde do Alentejo, a Administração Central do Sistema de Saúde e o Ministério Público abriram inquéritos sobre o mesmo caso.

A estas entidades junta-se agora a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde a pedido do ministério no início desta semana, avançou Marta Temido.

"O Ministério da Saúde, com os documentos que recebeu, acionou a sua estrutura inspetiva - a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde -, pedindo a avaliação das responsabilidades dos intervenientes na área da saúde. Interessa-nos perceber quais são os aspetos que merecem da nossa parte uma responsabilidade específica, designadamente em termos de melhoria de procedimentos e eventualmente em termos de responsabilidades disciplinares", explicou a responsável pela pasta da Saúde, durante a conferência de imprensa sobre a evolução da situação epidemiológica do país.

Marta Temido acrescentou ainda que compreende e acompanha "a sensibilidade que se gera em torno desta situação, porque ela envolve os mais vulneráveis, envolve mortos", mas pede tempo para as autoridades competentes fazerem a avaliação do caso.

ERS "disponível para colaborar"

Uma das hipóteses que tem sido levantadas, nomeadamente pelo ex-presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), Rui Nunes, é que este organismo possa colaborar de forma mais ativa na fiscalização das condições sanitárias dos lares daqui em diante.

A ministra da Saúde lembra que apesar de ser "possível que a tutela seja atribuída a outras entidades", a "ERS é uma entidade que tem um âmbito de setor da saúde. Quando falamos em estruturas residenciais para idosos, estamos, no contexto atual, a falar de apoio social, e é muito importante que isto não se perca de vista".

Já a ERS, questionada pelo DN com esta possibilidade, diz que "está sempre disponível para cooperar com outras entidades, no sentido de garantir os direitos de acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de qualidade e os demais direitos dos utentes".

Ministra destaca "evolução positiva" nos lares

Apesar das atenção que o caso de Reguengos tem gerado e da contínua preocupação com as estruturas residenciais, "neste momento nós temos uma evolução positiva daquilo que são os casos detetados de covid-19 [em lares]", apontou Marta Temido, nesta quarta-feira.

"Foi determinado no final do mês de junho que estas instituições iriam manter-se em vigilância", acrescentou a ministra da Saúde, garantindo que têm vindo a realizar-se as visitas das autoridades de saúde para "antecipar problemas", tal como foi decretado.

"Até ao final do mês estão previstas visitas a quase mil lares - de um universo de 2600 de que o ministério tem conhecimento - e já se realizaram 500 visitas", concretizou a governante.

Há, neste momento, 69 estruturas residenciais para idosos com casos positivos de covid-19 e um total de 563 utentes infetados.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt