"O país da função pública tem tudo e o país do setor privado é desprezado"
Marques Mendes considera que, embalado pelos resultados das europeias, o PS voltou a sonhar com a maioria absoluta nas legislativas de outubro. A atitude política é "positiva" e revela "profissionalismo", mas as críticas vêm a seguir: "Uma vez mais o PS está a dividir o país em dois. O país da função pública tem tudo e o país do setor privado é desprezado."
O comentador da SIC referia-se neste domingo à noite às medidas que constam do programa eleitoral dos socialistas conhecidas neste fim de semana: aumentos salariais e mais entradas para a função pública. Durante a semana foi também conhecido que os trabalhadores do Estado têm direito a faltar ao trabalho para acompanhar os filhos no primeiro dia de aulas.
"Há trabalhadores de primeira e trabalhadores de segunda, filhos e enteados", afirmou, questionando: "Quem é o partido que olha para o setor privado?"
O antigo líder do PSD deu como exemplos o "valor" que é atribuído aos funcionários públicos a proteção na saúde, através da ADSE, o salário mínimo mais alto e o facto de estarem protegidos dos despedimentos. Tudo isto em contraste "com o desprezo" que é dado aos trabalhadores do privado.
Esta liderança do espaço político que o PS está a aproveitar foi mote para criticar "o vazio no plano de ideias" que caracteriza o PSD de Rui Rio. "Ninguém percebe o que se passa com o PSD. Perdeu as europeias e precisava de estar ativo e está desaparecido em combate." Até o CDS, lembrou, nesta semana apresentou propostas no âmbito da fiscalidade.
A consequência, "como a política tem horror ao vazio", é que o espaço começa a ser preenchido: Jorge Moreira da Silva surgiu numa entrevista e Pedro Duarte vai apresentar o Manifesto X, com o seu programa alternativo para o país, enquanto Luís Montenegro mantém-se na pole position para a liderança.
No entanto, Mendes não antevê um futuro fácil a quem venha a ser o novo líder social-democrata se os resultados das legislativas forem muito baixos. Por isso, considera que devam estar todos unidos em torno do partido.
Sobre Vítor Constâncio, ex-presidente do Banco de Portugal, Marques Mendes foi perentório: "Fez-se de vítima, mas não é vítima, vítima é o país da sua incompetência, por exemplo, no BPN."
Com a nova ida de Constâncio ao Parlamento, na próxima terça-feira, Marques Mendes espera que esclareça porque se esqueceu de que o BdP tinha autorizado a Joe Berardo o reforço da posição no BCP (para o que contraiu um empréstimo de 350 milhões de euros à CGD). E espera também que explique por que razão "patrocinou" reuniões com acionistas em 2007 - quando se deu o "assalto" à liderança do BCP - para se encontrar uma lista para gerir o banco privado. "É uma suspeita política muito forte. Tem de dar explicações que clarifiquem."
Por último, Mendes entende que sabendo que a operação de reforço de capital era especulativa, uma vez que Berardo dava as ações como garantia e o valor destas oscila em baixa ou em alta, Vítor Constâncio deve também explicar porque a aprovou.