Costa: "Se alguém se excedeu, foi o ministro das Finanças da Holanda"

"Agora não se trata de economia ou de empregos, mas de salvar vidas humanas. Por isso é mesmo repugnante o que o ministro das Finanças da Holanda disse", frisou o primeiro-ministro.
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"Se alguém se excedeu, foi o ministro das Finanças da Holanda", disse António Costa, em resposta à pergunta de um jornalista sobre se o primeiro-ministro se teria excedido quando classificou como "repugnante" a declaração do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, sobre verificar as contas de Itália e de Espanha e perceber porque não têm condições financeiras para fazer frente à pandemia. Costa repetiu: "É repugnante, é mesmo repugnante".

Hoekstra afirmou, numa videoconferência com homólogos dos 27, que a Comissão Europeia devia investigar países, como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos, segundo fontes europeias citadas na imprensa europeia.

"Não há nenhum país da UE que esteja preparado, à partida, para enfrentar uma situação como esta pandemia", disse o primeiro-ministro, à margem de uma visita, em Matosinhos, às unidades industriais que adaptaram a sua atividade para produzir equipamentos médicos considerados essenciais para o combate à covid-19, como ventiladores.

"É preciso não ter a menor noção do que é viver no mercado interno para alguém ter a ilusão que pode resolver o problema da pandemia na Holanda se esta não se resolver em Itália ou em Espanha".

"Estar numa União [Europeia] a 27 não é viver por si só, é partilhar com os outros as dificuldades e as vantagens", disse Costa.

"Agora não se trata de economia ou de empregos, mas de salvar vidas humanas. Por isso é mesmo repugnante o que o ministro das Finanças da Holanda disse", frisou.

"Não foi a Espanha que criou o vírus"

"Se não nos respeitamos uns aos outros e se não compreendemos que, perante um desafio comum, temos de ter capacidade de responder em comum, então ninguém percebeu nada do que é a União Europeia", frisou, na sua primeira declaração.

O primeiro-ministro considerou ser "boa altura" de todos na União "compreenderem que não foi a Espanha que criou o vírus" ou "que importou o vírus", salientando que "se algum país da UE pensa que resolve o problema do vírus deixando o vírus à solta noutro país, está muito enganado".

Costa alerta que "ou a União Europeia faz o que tem a fazer ou acabará"

O primeiro-ministro advertiu esta sexta-feira que a União Europeia corre o risco de acabar se não enfrentar corretamente os efeitos económicos e sociais da pandemia da covid-19, sublinhando que "a prioridade das prioridades é salvar vidas".

"A União Europeia ou faz o que tem de fazer ou a União Europeia acabará. Acho que só as pessoas que não têm a menor sensibilidade ou a menor compreensão do que é esta realidade dramática que estamos neste momento a enfrentar - perante dramas como o da Itália ou da Espanha, e em todos os países e na Holanda também - é que é possível dizerem que é preciso ir saber porque é que a Itália e a Espanha não têm condições orçamentais para enfrentar estas situações", frisou António Costa.

O chefe do executivo português reiterou assim as críticas que já tinha dirigido na quinta-feira, no final do Conselho Europeu, ao ministro das Finanças holandês por ter defendido que a Comissão Europeia devia investigar porque não tem a Itália ou a Espanha margem orçamental para lidar com os efeitos da crise do novo coronavírus.

"A última coisa que qualquer político responsável pode fazer neste cenário é não compreender que a prioridade das prioridades é salvar vidas e combater este vírus, é criar condições para tão rapidamente quanto possível as empresas poderem funcionar, os empregos voltarem a ser seguros, as famílias poderem voltar a ter rendimentos. Só assim é que as finanças públicas são sustentáveis", acentuou.

António Costa, que falava aos jornalistas à margem de uma visita ao CEiiA - Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel em Matosinhos, no distrito do Porto, reafirmou que considera "repugnante determinados raciocínios", referindo-se ao facto de Wopke Hoekstra ter afirmado numa videoconferência com homólogos dos 27 países da União Europeia (UE) que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos.

António Costa disse que "não há finanças públicas saudáveis com economias mortas, pessoas no desemprego e colapsos no sistema de saúde", referindo que "isso são ficções dos manuais neoliberais, mas que não existem" e apontou que "um ministro das Finanças, seja de que país for, tem de compreender muito bem as prioridades".

"E quem quer estar numa UE a 27 tem de perceber que estar numa união não é viver em isolamento, por si só, é partilhar com os outros as dificuldades e as vantagens. Um ministro das Finanças que mais beneficia com a existência de um mercado interno e com a existência da zona euro, devia ser dos primeiros a perceber que num espírito de união estamos cá para nos apoiar uns aos outros".

Visivelmente desagradado com o tema, António Costa, que esteve em Matosinhos acompanhado do ministro da Economia, bem como com o do Ensino Superior, recordou que Portugal "mesmo quando estava numa grave crise económica" foi, disse, "dos primeiros a acolher migrantes e refugiados" porque tinha "parceiros na Europa que viviam uma grave crise migratória". "E esta é, modéstia à parte, a boa forma de estar na UE", sublinhou.

Para Costa, "a boa forma de estar na UE não é repetir o comportamento de 2008 e 2009" porque, frisou, além das "trágicas consequências económicas" a "agravante agora" é que além de "salvar a economia e o emprego" em causa está "salvar vidas humanas".

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, registaram-se 76 mortes, mais 16 do que na véspera (+26,7%), e 4.268 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 724 novos casos em relação a quinta-feira (+20,4%).

Dos infetados, 354 estão internados, 71 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.

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