O ex-fuzileiro é apontado pelo Ministério Público como o cabecilha do assalto. O processo de Tancos, recorde-se, encontra-se neste momento na fase de instrução e a sua libertação só poderia ter sido adiada se tivesse havido já uma decisão sobre quais dos 23 arguidos acusados e por que crimes serão julgados. Mas este processo, durante o qual são ouvidas as defesas dos arguidos, vai prolongar-se até final de fevereiro..Na audição do passado dia 22, João Paulino remeteu-se ao silêncio durante a inquirição do juiz de instrução Carlos Alexandre, o magistrado responsável por esta fase instrutória. A defesa de João Paulino queria ter acesso às operações encobertas que a PJ terá realizado para tentar recuperar o material roubado - uma delas com um inspetor a fazer-se passar por um operacional do IRA - mas tal não lhe foi autorizado..O caso tem 23 acusados. Entre eles encontra-se o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira, bem como vários operacionais e responsáveis da PJM e da GNR..Nesta altura estão ainda em prisão preventiva cinco dos arguidos que são acusados de terem participado no furto..O designado 'cabecilha' do grupo dos assaltantes, é natural de Ansião, mas passou a sua infância e juventude em Albufeira - onde fez amizade com Bruno Ataíde, que se tornou militar da GNR e viria a ser uma peça chave para a devolução do material de guerra. Regressou à terra depois de ter cumprido o serviço militar nos Fuzileiros. Tinha um gosto especial por armas e tiro, tendo até participado em algumas provas. Estava inscrito da federação portuguesa de tiro (FPT). Era conhecido pelas autoridades como sendo traficante de droga - a outra operação encoberta envolvia a rede por si liderada..O que contesta a defesa?.No requerimento de abertura de instrução, a defesa de João Paulino exigia ter acesso às ações encobertas da PJ relacionadas com o caso e que, no seu entender foram ilegais. "A omissão da verdade é a afirmação de uma mentira", sublinha Melo Alves no documento em que até cita o poema "Nesta Hora" de Sophia de Mello Breyner Andersen: (...) O demagogo diz da verdade a metade; E o resto joga com habilidade; Porque pensa que o povo só pensa metade; Porque pensa que o povo nada sabe"..Melo Alves assinala que a PJ já sabia que o assalto se ia concretizar pois teve essa informação, dois meses antes do furto, através do informador Paulo Lemos, conhecido por 'Fechaduras', a quem João Paulino pediu ajuda técnica para abrir os paióis, tendo em conta que essa era a especialidade dele.."Está bem evidente que, na lógica da acusação, o comportamento de Paulo Lemos - Fechaduras foi determinante para o sucesso da abertura dos Paióis Nacionais de Tancos (PNT) e, logicamente do furto", conclui o advogado, que não duvida que este depois da denúncia agiu sempre "de acordo com as instruções da PJ"..Terá sido também Fechaduras, de acordo com o que se pode ler no requerimento, "a apresentar uns indivíduos, alegadamente amigos e intitulando-se elementos do IRA, para adquirirem armas, por intermédio de outrém, a João Paulino". Melo Alves queria saber se se tratou de e uma ação encoberta ao abrigo da lei..A defesa do antigo fuzileiro alega ainda que as conversas de "índole ambiental" que foram gravadas pela PJ têm "sinais de terem sido programadas" com o objetivo de "plantar provas"..O acordo com a PJM e o governo.A defesa de João Paulino vem dar força aos factos descritos na acusação do MP no que diz respeito "acordo" que terá sido feito entre este arguido e as autoridades portuguesas. "Dos factos imputados na acusação e da sua lógica processual resulta que foi acordado entre o arguido João Paulino, a Polícia Judiciária Militar, a GNR e o Governo Português, que a entrega do material furtado nos PNT implicaria que o arguido não viesse a ser responsabilizado criminalmente", é assinalado no requerimento de abertura de instrução..Melo Alves confirma que João Paulino "estabeleceu o aludido acordo com as autoridades que se apresentaram como investigadoras do furto aos PNT" e que "essas entidades estavam representadas ao mais alto nível". Diz a defesa que o arguido "não tinha nenhum motivo para duvidar da idoneidade dos seus interlocutores", que "agiu de boa fé e que "as autoridades de polícia criminal criaram expectativas legítimas ao prometerem ao arguido João Paulino que não seria responsabilizado criminalmente"..Por tudo isso, o ex-fuzileiro "jamais poderá ser prejudicado por desentendimentos - diga-se controvérsia sobre a competência da investigação - entre os vários órgãos de polícia criminal", sublinha, referindo-se à recusa do diretor da PJM em aceitar a decisão do MP em delegar a investigação na PJ.