Operação repatriamento. Proteção máxima, risco muito elevado
"Esta operação foi planeada ao detalhe, com grande preocupação com a segurança dos polícias, no sentido de evitar qualquer contacto com os passageiros", assinala um oficial da PSP que esteve envolvido na inédita operação esta terça-feira: a transferência dos passageiros do navio cruzeiro MSC Fantasia para o aeroporto de Lisboa e daí para os respetivos países de origem.
Ainda bem fresco na memória o caso do Diamond Princess, que ficou atracado no Japão vários dias depois de terem sido detetados passageiros infetados com o novo coronavírus, Portugal concordou em receber um cruzeiro de luxo, por motivos humanitários, que saíra do Brasil dia 9 de março e tinha Génova, em Itália como destino. A operação foi classificada de "alto risco".
O perigo da exposição ao covid-19 aumentou exponencialmente para todos os envolvidos, desde que foi confirmado que um dos 27 portugueses que viajava no navio, estava infetado. Trata-se de um cidadão de Sátão, Viseu. Segundo fontes policiais que acompanharam o processo, o homem está em sua casa, com a mulher, em tratamento e isolamento obrigatório. Todos os outros portugueses foram sujeitos a testes de despistagem e deram negativo, mas terão que cumprir quarentena.
Apesar disso, as autoridades portuguesas não viram necessidade de sujeitar todos os passageiros e tripulação a testes. A diretora do SEF chegou a dizer que todos os passageiros iriam ser sujeitos a testes, mas a Diretora-Geral de Saúde (DGS) veio depois retificar, afirmando que tal nunca estivera previsto. "Todos os cidadãos que estão a bordo deste navio para poderem desembarcar terão que ser objeto de testes de despistagem e isso é feito pela Direção Geral da Saúde e serão feitos à medidas que houver possibilidade de proceder ao seu embarque para que regressem aos países de origem", assegurou a responsável do SEF, Cristina Gatões. "Não estava previsto fazer testes a todos os passageiros", esclareceu Graça Freitas na conferência de imprensa diária.
Sujeitos apenas a medição da temperatura corporal, os turistas do navio de cruzeiro, ainda pisaram fugazmente o solo português, mas já em despedida, num regresso aos países de origem.
Segundo o ministério da Administração Interna (MAI), os passageiros foram divididos em quatro voos, de acordo com as respetivas nacionalidades: dois voos para a Alemanha, pelas 08h30 e pelas 16h05, cada um com capacidade para 189 pessoas; um voo para o Brasil, pelas 14h00, com capacidade para 453 pessoas; um voo para o Reino Unido, pelas 14h05, com capacidade para 309 pessoas - um total de 951 passageiros.
Não foi divulgada informação sobre os restantes 360 estrangeiros que não estão incluídos nestes voos. O MSC tem uma tripulação de 1.247 membros da tripulação, de 50 nacionalidades. De acordo com informação divulgada pelo MAI, já esta quarta-feira, "realiza-se hoje mais um voo, pelas 14h00, com destino a Marselha, que transportará 152 pessoas, 62 das quais elementos da tripulação".
O comandante da PSP de Lisboa, Paulo Pereira garantiu que a transferência do primeiro grupo de passageiros foi organizada por várias colunas."Esta deslocação é sujeita a medidas de segurança, desde logo os passageiros vão nos autocarros em número muito mais reduzido, cerca de um terço da sua capacidade, e também são adotados procedimentos para que os passageiros não utilizem nenhuma área pública no aeroporto de Lisboa".
Os autocarros foram escoltados do Porto de Lisboa até ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, para os voos de regresso aos seus países de origem. De forma ordeira, com um espaço temporal de cerca de três segundos entre cada um, para garantir a distância de um metro, os passageiros entraram nos autocarros com os vidros espelhados, assegurando ao máximo a privacidade dos turistas.
No terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, no porto, quatro carrinhas da PSP entraram na zona de desembarque do navio pelas 10:45, para avançar com o transporte dos passageiros para o aeroporto Humberto Delgado, onde embarcaram em voos "charter" para os diferentes países de origem.
Junto ao navio de cruzeiro, estavam a meio da manhã 11 autocarros estacionados numa zona restrita onde, pelas 11:00, os passageiros começaram a colocar as bagagens. Estavam também no local duas ambulâncias do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e motas da PSP, para escoltar as viaturas até ao aeroporto.
Sem que os jornalistas conseguissem acompanhar de perto a operação de repatriamento, que está a ser monitorizada por uma unidade especial da PSP, a imagem dos passageiros foi preservada ao máximo.
Ocupados com cerca de um terço da capacidade, para garantir a distância de segurança entre passageiros, os autocarros começaram pelas 12:50 a sair do Porto de Lisboa, numa nova viagem em direção ao aeroporto, de forma discreta.
Recorde-se que se encontravam no navio, que acostou no Porto de Lisboa no passado domingo, 1.338 passageiros, de 39 nacionalidades, maioritariamente da União Europeia, Reino Unido, Brasil e Austrália.
Destes, 27 cidadãos (20 portugueses e 7 titulares de Autorização de Residência em Portugal) desembarcaram segunda-feira.
Esta operação, que decorre em articulação com diversas embaixadas dos vários países, envolveu a Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, o SEF, a PSP, a Autoridade Nacional da Aviação Civil, a DGS, a Polícia Marítima, a Autoridade Tributária e Aduaneira e a ANA - Aeroportos de Portugal.
Notícia atualizada quarta-feria, 25/3/2020, pelas 11h18, com nova informação do MAI