O que levou Rúben a matar Beatriz?

Rúben Couto é um jovem "charmoso" de 25 anos, que fez voluntariado em Moçambique e se interessa por música e cinema. O principal suspeito da morte de Beatriz Lebre está agora em prisão preventiva.
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Rúben Couto, o principal suspeito do homicídio de Beatriz Lebre, está em prisão preventiva, mas o caso continua a ser investigada pela Polícia Judiciária. O que terá levado o jovem a matar a colega? Ainda há muitas perguntas sem resposta.

Esteve uma semana desaparecida

Beatriz Lebre tinha 23 anos e era oriunda de Elvas. Era licenciada em Psicologia pelo ISCTE (Universidade de Lisboa) e estava agora a tirar o mestrado em psicologia social e das organizações. Trabalhava desde setembro numa loja do centro comercial Colombo. No seu perfil do Linkedin define-se como uma "apaixonada por música, pessoas, cinema, teatro, filosofia e literatura" - tinha estudado música e a sua grande paixão era o piano.

O alerta do desaparecimento de Beatriz foi dado pela família no domingo passado, depois de dois dias sem conseguir entrar em contacto com a jovem que estudava e vivia em Lisboa.

A polícia dirigiu-se então à casa de Beatriz, tendo encontrado no quarto a carteira, o telemóvel ligado e restos de comida. Havia também vestígios de sangue. A porta e a fechadura intactas davam a entender que se alguém ali tivesse estado com Beatriz seria seu conhecido.

Foi analisando as chamadas telefónicas de Beatriz que a polícia chegou a Rúben Couto, de 25 anos, colega de faculdade de Beatriz.

O caso passou então para a Polícia Judiciária que começou a investigar o crime como um homicídio. Rúben Couto foi questionado na quarta-feira e terá confessado que matou Beatriz na sexta-feira, dia 22 de maio, tendo depois atirado o corpo ao rio.

"A Polícia Judiciária, através da Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo, procedeu à detenção de um homem, com 25 anos de idade, por fortes indícios da prática de um crime de homicídio consumado", lê-se no comunicado divulgado na quinta-feira pela PJ.

Quem é Rúben Couto?

Além de estudar psicologia, Rúben Couto também se interessa por voluntariado, por música e cinema e pela escrita. O jovem publicou dois textos na secção "Megafone" do suplemento P3 do jornal Público. O primeiro, publicado em novembro do ano passado, é dedicado ao grupo musical Ornatos Violeta e ao seu vocalista, Manel Cruz, que considera um "ex-líbris da loucura poética". "A ressonância do melhor que há em ti [Manuel Cruz, líder da banda] continua a fazer tremer o monstro que há em mim", escreveu Ruben Couto, numa referência ao álbum de 1999 O Monstro Precisa de Amigos.

A segunda crónica, publicada em janeiro, é sobre o filme Uma Vida Escondida, de Terrence Malick, que conta a história do camponês austríaco Franz Jägerstätter, que se recusa a combater na Segunda Guerra Mundial ao lado do exército nazi e é por isso condenado à morte. "Quando à primeira vista vemos uma batalha contra o regime em que o carrasco é sempre a liberdade de escolher contra a doutrina em vigor, mais profundamente, o filme põe o espectador lado a lado com uma história de livre-arbítrio e de escolha pela dignidade humana, uma luta que deve preencher e ser bússola para qualquer vida até ao seu fim, mesmo que o curso da história demore a encontrar os seus pontos cardeais", escreveu Rúben Couto.

Rúben Couto também esteve em Moçambique como voluntário. A CMTV mostrou um vídeo no qual o jovem contava como aqueles 46 dias em África tinham mudado a sua vida: Rúben revelava como tinha ficado tocado por toda a experiência e por ter conhecido pessoas que davam valor às coisas mais simples da vida. De acordo com os amigos e colegas, citados pela imprensa, ele era um jovem simpático e "charmoso", nada indiciando que pudesse ter comportamentos violentos.

Não se sabe ainda com precisão que tipo de rela​​​​​​ção existia entre Rúben e Beatriz. A polícia acredita que o rapaz estaria obcecado por ela.

Na quinta-feira, Rúben Couto foi internado no Hospital de São José com cortes profundos em ambos os braços. O jovem terá tentado acabar com a vida. Os guardas prisionais da cadeia anexa à sede da PJ, em Lisboa, encontraram-no ferido pouco depois das oito da manhã. Ele admitiu ter cortado os pulsos e foi transportado de urgência, pelos bombeiros Voluntários do Beato, para o Hospital de São José.

Em prisão preventiva

Entretanto, continuavam as buscas no rio. Na sexta-feira, um corpo foi avistado por um homem que avisou as autoridades. Estava no Tejo, junto ao terminal de contentores de Santa Apolónia. O corpo, que se acredita ser de Beatriz, foi removido pela Autoridade Nacional Marítima às 15:30 e levado para o Instituto de Medicina Legal. Além do corpo, a polícia retirou do rio também um objeto cortante que se julga ser a arma do crime.

Ouvido este sábado no Campus da Justiça, em Lisboa, Rúben Couto está agora em prisão preventiva, que é a medida de coação mais grave, segundo explicou o seu advogado, Miguel Matias.

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