Máscaras: para quem? Como reutilizar? Como fazer uma?
A DGS pediu um parecer sobre a generalização do uso de máscaras em Portugal, mas esta decisão não será tomada já. Autoridades de saúde aguardam indicação da OMS.
A diretora-geral da Saúde disse, esta segunda-feira, que "teremos de aguardar mais uns dias" para saber se o uso de máscaras deverá ser de utilização universal ou não. A decisão depende de um parecer da Organização Mundial da Saúde (OMS), que deverá dar novas indicações sobre a proteção das vias respiratórias ainda esta semana.
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Em Portugal, o uso de máscaras foi alargado na passada sexta-feira, mas, mesmo assim, está recomendado apenas para profissionais de saúde, doentes de covid-19 e imunodeprimidos, bombeiros, cuidadores informais. "O que estamos a fazer neste momento é uma análise dos pareceres da evidência científica. Teremos de aguardar mais uns dias para podermos responder a isso", indicou Graça Freitas, durante a conferência diária no ministério da Saúde, sublinhado que a Direção-Geral da Saúde (DGS) continua a seguir de perto as atualizações da OMS e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.
Quem deve usar máscara?
Nos países ocidentais foram sempre desaconselhadas, ao contrário, por exemplo, do que acontece na Ásia, mas o discurso está a mudar. Em Portugal, a ministra da Saúde, Marta Temido, admite que foi pedido e um parecer sobre esta questão, mas a decisão ainda não está tomada. Ou seja, neste momento, o uso de máscaras é recomendado apenas a profissionais de saúde, infetados com covid-19, imunodeprimidos, pessoas que se tenham de deslocar a uma unidade de saúde, cuidadores informais, bombeiros e funcionários de morgues.
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As autoridades de saúde pública não aconselham que as pessoas saudáveis usem máscaras como forma de se protegerem contra o novo coronavírus, que já fez 11 730 infetados e 311 mortes no país. Pedem apenas que sejam seguidas à risca as indicações de distanciamento social, as medidas de etiqueta respiratória (tossir e espirrar sempre para o cotovelo) e a lavagem constante das mãos.
"A Direção-Geral da Saúde não recomenda, até ao momento, o uso de máscara de proteção para pessoas que não apresentam sintomas (assintomáticas). O uso de máscara de forma incorreta pode aumentar o risco de infeção, por estar mal colocada ou devido ao contacto das mãos com a cara. A máscara contribui também para uma falsa sensação de segurança",pode ler-se no site da DGS.
As máscaras protegem?
As máscaras não garantem uma proteção contra o vírus 100% eficaz, especialmente se não forem tomadas outras medidas de contenção, como acima descrito. Podem ainda dar uma falsa sensação de segurança, tem alertado a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.

Máscaras cirúrgicas.
© Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens
No entanto, vários especialistas têm defendido que estas podem ajudar a reduzir a propagação do vírus. Jaime Nina, infeciologista do Instituto de Medicina Tropical e médico no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, indica que a covid-19 é uma infeção respiratória e o vírus viaja à boleia de secreções faríngicas ou nasais, imerso num líquido que só pode ser visto num microscópio elétrico. Essas gotículas são tão leves que levam algum tempo a cair ao chão. Quanto mais seca na temperatura, mais depressa evaporam. "Se pudermos diminuir a dispersão do vírus, desde o escafandro até uma echarpe ou cachecol colocados em frente às vias respiratórias, estamos a diminuir imenso a quantidade de vírus que andam no ar", explica o infeciologista, em entrevista ao DN.
Quem defende o quê?
A Ordem dos Médicos defendeu, esta segunda-feira, uma reavaliação com caráter de urgência dos critérios de utilização universal das máscaras de proteção individual, sobretudo nos espaços públicos onde a distância de segurança seja mais difícil de manter. Já o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas vai mais longe, exigindo a alteração da norma atual, uma vez que não existe "um grau de maior evidência" contra a utilização de máscaras, escreveram, este domingo, num documento onde pede à DGS que aja, independentemente das indicações da OMS.
Tedros Adhanom, o diretor da OMS, desincentivou sempre a utilização de máscaras desde o início do surto, embora nos últimos dias tenha admitido rever este conselho, abrindo inclusive portas à possível utilização de máscaras caseiras.

Tedros Adhanom, diretor da Organização Mundial da Saúde.
© Fabrice COFFRINI / AFP
Esta tarde, em conferência de imprensa, o diretor-geral da OMS indicou que foram emitidas novas orientações, passando a ser recomendado o uso de máscaras de proteção em países em que o distanciamento social e as lavagens frequentes das mãos não possam garantidos. Tedros Ghebreyesus alertou, no entanto, que nos outros países devem continuar a ser racionadas para não agravar a escassez deste material.
No mundo ocidental, há já países a alterarem as indicações anteriormente dadas, como os Estados Unidos. Num discurso ao país, o presidente Donald Trump aconselhou a proteção das vias respiratórias com uma máscara ou com um lenço, ressalvando que ele próprio não iria seguir este conselho. "É uma grande mudança a posição dos EUA a favor do uso da máscara", diz K.K. Cheng, professor e especialista em saúde publica na universidade de Birmingham, no Reino Unido, à agência France Presse.
Reutilização e cuidados a ter
O vírus SARS-CoV-2 (responsável pela doença covid-19) sobrevive em materiais como ferro, papelão e tecido, segundo um documento elabora pela Comissão de Saúde Ocupacional, Biossegurança e Qualidade do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa. Por isso, a utilização das máscaras durante várias horas comporta um risco e a sua reutilização divide os profissionais.
Em média, a mudança de máscara deve ser feita de quatro em quatro horas, podendo ser de seis horas, dependendo da humidade produzida.
No caso das máscaras cirúrgicas (P1), esta "são feitas para uso único. Quando suja ou molhada com fluidos corporais, ou não possa ser ajustada adequadamente ou se a respiração se torna difícil, a máscara deve ser descartada de imediato para evitar a contaminação por deposição de partículas infecciosas na superfície, como sucede com vírus, nomeadamente o SARS-CoV-2", refere o texto mencionado.
A contaminação da máscara pode ser evitada, colocando uma outra máscara sobre a primeira, usando um protetor facial, podendo ainda ser considerada a esterilização de máscaras usadas. No caso das máscaras artesanais, antes de ser reutilizadas devem ser fechadas no saco de plástico após a utilização e lavadas a 70 graus.
Sobre a colocação deste equipamento de proteção, a Direção-Geral da Saúde acrescenta: "Antes de colocar a máscara, deve lavar bem as mãos. Verifique se a máscara está perfeitamente ajustada ao seu rosto e evite tocar-lhe enquanto está a usá-la. Mude de máscara quando estiver suja ou húmida e lave bem as mãos antes de retirá-la".
Retire a máscara de trás para a frente, segurando nos elásticos e sem nunca tocar na parte da frente do objeto.
Como se fazem máscaras em casa?
A falta de máscaras levou muitas pessoas a fabricar os seus próprios modelos, em casa. A tendência global assumiu contornos tais, que o jornal New York Times decidiu publicar todos os passos que devem ser tidos em conta para se costurar uma máscara de tecido feita em casa - minimamente segura - com base nas informações que a Aliança de Costura e Artesanato tem atualizado constantemente.
Um bocado de tecido de algodão robusto, agulhas e linhas são os materiais fundamentais. Comece por cortar um retângulo e faça os laços com cerca de 45 cm de comprimento cada, costure uma linha reta ao meio para impedir que os laços se desgastem. Fixe as quatro presilhas no tecido, uma em cada canto. Continue a coser a base, juntando-lhe uma segunda camada de tecido, os elásticos e as pregas. Veja aqui o processo, passo a passo: