Covid-19. Erro no Porto mudou os números? Como é feito o registo dos casos pela DGS
O boletim epidemiológico diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) é o documento mais mostrado por esta altura aos portugueses. Televisões, jornais e rádios esperam todos os dias pelas 12:00, quando a nova atualização chega para informar sobre o número de casos de infeção pelo novo coronavírus no país, o de mortos e o de recuperados entre outros indicadores que podem ajudar a traçar a cronologia da pandemia. Esta terça-feira - depois de uma duplicação dos dados de alguns municípios - o registo dos casos passa a ser feito de forma diferente: recolhendo as informações através de apenas um canal - o SINAVE [Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica].
Depois de confirmado um infetado, o profissional de saúde que o está a acompanhar deve abrir uma ficha no portal SINAVE para comunicar às autoridades de saúde o caso. "O SINAVE é o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica que existe há alguns anos em Portugal para doenças infecciosas que consideramos de notificação obrigatória. Este sistema não avalia a evolução clínica dos doentes. É um sistema de notificação de um caso suspeito, que depois tem o resultado validado ou invalidado pelos laboratórios", explicou o subdiretor-geral da Saúde, Diogo Cruz, esta terça-feira, durante a conferência de imprensa diária.
São estes dados que chegam às autoridades de saúde e que permitem ter uma perspetiva nacional da evolução da covid-19 em Portugal, que já provocou 160 mortes e 7443 infetados. Uma vez na posse da DGS, as notificações enviadas do terreno são processadas pela equipa de epidemiologia, que preparara os boletins da situação diária.
Mas se a primeira parte do boletim foi sempre apresentada a partir dos dados do SINAVE, a que diz respeito ao número de casos por município não. Era uma mistura de duas fontes, o que provocou alguns conflitos entre as estatísticas, fazendo com que o modelo fosse revisto.
Até aqui o relatório dos dados por município era feito com base no SINAVE e nas informações recolhidas pelas Administrações Regionais de Saúde (ARS do norte, centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, no caso do continente), que depois de comunicarem com os profissionais de saúde mantinham também o seu registo. Muitas vezes com mais casos do que os reportados pelo SINAVE que pressupõem, como dito anteriormente, que um profissional de saúde preencha logo a ficha. A notificação das ARS`s permitia completar alguns dados em falta no primeiro registo do SINAVE. No entanto, foi também a duplicação das fontes que fez com que alguns municípios surgissem com mais casos do que na realidade têm.
Foi o que aconteceu com as estatísticas referentes ao Porto, esta segunda-feira. Os dados da DGS, entretanto corrigidos, apontavam para um crescimento exponencial do número de infetados nesta região. No boletim de ontem o concelho registava um aumento de 524 casos em 24 horas, passando de 417 para 941 infetados. Quando o número total neste momento é de 462 doentes. A restante diferença entre casos pode ter sido notificada em instituições de saúde na zona do Porto, embora digam respeito a pessoas residentes noutros concelhos ou tratar-se simplesmente de duplicações, explicou a DGS ao DN.
"Houve uma tentativa de dar o maior número de números possíveis e houve duplicação de valores no número de ontem [segunda-feira], porque houve uma confluência dos dados reportados pela região e dos dados via SINAVE e como se percebeu acabou por haver uma duplicação de números já corrigidos", explicou o subdiretor-geral da Saúde, de manhã, tendo apresentado logo a solução.
Foi feito um reset à informação sobre a residência dos doentes e preenchida novamente de acordo com os dados da plataforma SINAVE, tal como irá acontecer daqui para a frente. Esta renovação de método, fez com que locais onde há dias tinham sido notificados casos, como por exemplo Vila Nova de Foz Côa, agora não estejam sequer na tabela. No entanto, desde que correspondam à realidade local surgirão nos próximos dias na tabela, garante a DGS.
"Isto significa que estão agora disponíveis 78% dos dados por concelho, que são os que foram registados na plataforma SINAVE. Os restantes serão colocados nas atualizações subsequentes, quando for feita essa notificação", diz a autoridade de saúde.
O engano diz só respeito à terceira página do boletim, ou seja, à tabela de número de casos por municípios e, por isso, não altera o número total de infetados no país, uma vez que este último indicador foi sempre contado pelo SINAVE. "Estas mudanças em nada alteram os dados nacionais, que estão na primeira página do boletim e que estão e têm estado corretos", reafirma a DGS.
Confira aqui os dados atualizados do número de infetados por município.