Na sessão plenária de 6 a 9 de outubro do Parlamento Europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enfrenta não uma, mas duas moções de censura. A primeira foi apresentada pelo grupo Patriotas pela Europa, que junta populistas de direita e soberanistas como o Reagrupamento Nacional francês, o Fidesz húngaro, o Vox espanhol ou o Chega português, e a segunda pelo grupo A Esquerda, onde estão o Die Linke alemão, o Podemos espanhol e os portugueses PCP e Bloco de Esquerda. A 10 de setembro, horas após o discurso do Estado da União de von der Leyen, os grupos decidiram questionar a liderança da alemã, desde a sua falta de transparência, à forma como negociou os acordos comerciais com o Mercosul e com os EUA, até, no caso da Esquerda, à “inação” do executivo europeu em relação à guerra em Gaza. Apenas dois meses após ter enfrentado outra moção de censura, von der Leyen volta a estar sob fogo cerrado tanto da esquerda como da direita mais radicais, revelando bem a fragmentação do Parlamento Europeu. Mas também a fragilidade política da mulher que lidera a Comissão Europeia desde dezembro de 2019 e que no ano passado foi confirmada para mais um mandato, mas que é acusada de falta de carisma e tem contra ela não ter currículo de ex-chefe do Governo, ao contrário dos seus antecessores recentes. Aos 66 anos, a antiga ministra da Defesa alemã (nos governos da democrata cristã Angela Merkel) tem apoios no centrão europeu para sobreviver a estas moções de censura. Mas não deixa de ser mais uma mossa na sua liderança. E basta olhar para a sondagem publicada na revista Le Grand Continent no início do mês para perceber que os europeus não estão convencidos com a sua gestão. Questionados sobre o futuro da presidente da Comissão Europeia 39% disseram ser “muito favoráveis” à sua demissão e 21% disseram-se “favoráveis”. Só 8% responderam ser contra. Realizada pelo instituto Cluster 17 nas cinco maiores potências da União Europeia - Alemanha, França, Itália, Espanha e Polónia -, a sondagem revelava ainda que 52% dos inquiridos se sentiram “humilhados” por von der Leyen ter ido até à Escócia, onde o presidente americano inaugurava um campo de golfe, assinar um acordo com Donald Trump sobre as tarifas que muitos na UE viram como uma capitulação. Médica de profissão e mãe de sete filhos, em 2022 von der Leyen foi eleita uma das “100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo” pela BBC, mas hoje, como escrevia há dias Virginie Malingre, correspondente do Le Monde em Bruxelas, a alemã é mais “o rosto da fraqueza da UE”. Uma União a 27 que pode ter um rosto mas continua a falar a várias vozes.Editora-executiva do Diário de Notícias