Costuma dizer-se que são precisos dois para dançar o tango. Mas foi a solo de Donald Trump encetou uns passos de dança à chegada à Malásia, primeira etapa do seu périplo pela Ásia. O presidente dos EUA repetiu o momento diante dos militares a bordo do porta-aviões USS George Washington, ao largo do Japão. Ia acompanhado pela nova primeira-ministra Sanae Takaichi, mas manteve a dança solitária. Ontem na Coreia do Sul, todos os olhos estiveram noutro tipo de coreografia: a que rodeou o seu encontro com o presidente chinês, Xi Jinping. E se não sabemos quem deu música a quem, os dois lado parecem ter saído do encontro satisfeitos. E o mundo respirou de alívio ao ver adiada uma guerra comercial entre as duas primeiras potências mundiais que iria afetar a economia global.Com os EUA mergulhados num shutdown sem fim à vista e milhões na rua ainda há dias contra as políticas da sua Administração, Trump decidiu atravessar o Pacífico em busca de conforto. E foi isso que encontrou. Da Malásia trouxe a assinatura do acordo de paz entre Tailândia e Camboja, uma saída para a recente violência entre os dois países na fronteira que deu a Trump a hipótese de pôr termo a mais uma guerra. A oitava, segundo a contagem do próprio. De Kuala Lumpur, seguiu para o Japão, onde não só teve direito a um encontro com o imperador Naruhito, como foi recebido com pompa e circunstância pela nova primeira-ministra. Primeira mulher no cargo no Japão, Sanae Takaichi não poupou esforços para agradar ao convidado - depois de um almoço de arroz e carne importados dos EUA, ofereceu ao presidente dos EUA um taco de golfe que pertencerá a Shinzo Abe, antigo primeiro-ministro assassinado em 2022, seu mentor e próximo de Trump. De Tóquio, o presidente americano trouxe dois acordos comerciais, o compromisso de mais gastos em defesa, a promessa de uma nomeação para o Nobel da Paz e uma amiga nova.Mas a pièce de résistance da visita teve lugar na Coreia do Sul onde foi reforçar a aliança e onde decorreu a cimeira com Xi. Os dois já tinham estado juntos cinco vezes e se a base militar junto ao aeroporto de Busan não ofereceu o glamour da Cidade Proibida, em 2017, serviu os propósitos. Trump voltou para casa não só com a coroa de ouro oferecida pelo presidente sul-coreano à chegada como com um entendimento com Xi para redução de tarifas à China e sobre as terras raras. Por vezes descrito como isolacionista, Trump mostrou nesta visita à Ásia que consegue mesmo dançar com os vizinhos da China. E temos de admitir que é difícil imaginar Xi Jinping a conseguir o mesmo na vizinhança dos EUA. Editora-executiva do Diário de Notícias