Em novembro de 2015, dois anos depois de ter sido eleito líder do Partido Liberal, Justin Trudeau tomava posse como primeiro-ministro do Canadá. Aos 43 anos, o antigo professor do Secundário, pugilista amador e pai de três filhos pequenos surgia como uma lufada de ar fresco depois de quase uma década de governos conservadores liderados pelo bastante cinzentão Stephen Harper. Mas, depois de nove anos no poder, o brilho de estrela de Hollywood desvaneceu-se. Confrontado com as ameaças da futura Administração Trump e perante a demissão da sua ministra das Finanças, Trudeau vê agora a sua popularidade cair à medida que sobem críticas e apelos à sua demissão. Até no seu partido. .A saída de Chrystia Freeland do Governo - por discordar da estratégia de Trudeau para contrariar o America First de Trump e as tarifas de 25% que promete aplicar a bens e serviços canadianos a não ser que Otava reforce a segurança na fronteira - só pode ser má notícia para Trudeau que perde uma das suas principais aliadas - foi ministra do Comércio e dos Negócios Estrangeiros, antes de assumir a pasta das Finanças e o cargo de vice-primeira-ministra nos últimos quatro anos..Mas o que é que fez o filho do também primeiro-ministro Pierre Trudeau passar da Trudeaumania (termo que descreve ao entusiasmo em torno do pai e depois do filho) a líder à beira da demissão? Eleito como o menino bonito das políticas liberais, Trudeau começou por legalizar a morte assistida, a canábis para usos recreativos e conseguiu negociar um acordo de comércio livre entre Canadá, EUA e México. Pediu desculpas aos povos indígenas pelos abusos do passado e abriu as portas a imigrantes e refugiados. Uma decisão que mudou a demografia do Canadá - os imigrantes são hoje oito milhões, 20% da população, contribuindo para o salad bowl, essa sociedade multicultural, onde todos se integram mas mantendo a sua identidade, de que o Canadá se orgulha. Mas a chegada de tanta gente traz problemas, a começar pela crise na habitação que aumentou a pressão para uma política migratória mais restritiva. .Com a popularidade abaixo dos 30%, Trudeau vê a oposição ansiosa por antecipar as eleições previstas para outubro de 2025. Afinal as sondagens dão o seu Partido Liberal 25 pontos atrás dos conservadores de Pierre Poilievre. Prova de que os canadianos se deixaram seduzir pela retórica certeira de Poilievre, um perito em comunicação de 45 anos, pró-petróleo e anti-woke, casado com uma refugiada venezuelana e pai de dois filhos pequenos. A política, como o país, está a mudar no Canadá..Editora-executiva do Diário de Notícias