O regresso dos “casos e casinhos” e da tralha costista

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Luís Montenegro teve o seu primeiro e sério caso político de contornos duvidosos. Resolveu-o, rapidamente, com a demissão do secretário de Estado Hernâni Dias, para que, deste modo, o Governo não caísse na armadilha dos “casos e casinhos” que mancharam o Governo de António Costa.

Manter no atual Executivo um secretário de Estado que na sua anterior condição de autarca de Bragança está a ser investigado pela Procuradoria Europeia por, alegadamente, ter faturado obras no valor de 850 mil euros sem as concretizar seria cair no poço dos “casos e casinhos” do Governo de Costa ? Não seria possível, em nome da decência, manter em funções um político com responsabilidades na elaboração da Lei dos Solos que, já no exercício do seu cargo de secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, criou duas empresas de construção civil que vão ter como finalidade última o negócio do imobiliário, justamente a área funcional em que este governante se inseria.

Esta era uma situação de “branco é galinha o põe” que o primeiro-ministro, em boa hora, resolveu, num ápice, com a demissão de Hernâni Dias. Se não o tivesse feito corria o risco de abrir as portas a situações de cariz idêntico que poderiam fazer resvalar o Governo para a senda dos “casos e casinhos”.

Parece que o universo autárquico é profícuo a arranjar complicações aos Governos, sejam eles do PS ou da Aliança Democrática.

Entretanto, esta semana tivemos o regresso da narrativa da tralha costista a propósito de uma entrevista dada por Pedro Nuno Santos ao jornal Expresso. O líder do PS veio reconhecer uma evidência sobre imigração e teve a coragem de “dar o braço a torcer” relativamente à medida do Governo de António Costa que, com a criação da figura da Manifestação de Interesse na entrada de imigrantes, originou uma acumulação de 400 mil processos de imigrantes na AIMA por legalizar.

De imediato dos sofás aveludados de Bruxelas levantaram-se as vozes de Ana Catarina Mendes e Marta Temido em críticas a Pedro Nuno Santos seguidas, por cá, por essa figura política de duvidosa qualidade que é Eduardo Cabrita.

Goste-se ou não de Pedro Nuno Santos (e eu acho que ele não tem condições para a liderança do PS e, muito menos, para, no futuro, ser primeiro-ministro), o atual líder socialista teve uma atitude que todos os políticos deviam seguir, ao admitirem com frontalidade os erros do passado. Pedro Nuno Santos teve essa coragem de sair da gaiola ideológica, assumindo um dos muitos erros dos Governos de António Costa que deixou o país com milhares de imigrantes, indocumentados, alguns deles sem qualquer apoio, presentes na sociedade portuguesa sem uma habitação condigna, com escolas impreparadas para receber os seus filhos e com um Sistema de Saúde a colapsar.

Qual é a dúvida de que os imigrantes que “vêm para Portugal encontram uma cultura que deve ser respeitada” como defendeu Pedro Nuno Santos? O que se passa na cabeça de Marta Temido que ficou “desconfortável” com as palavras de Pedro Nuno Santos? Desconfortável? Desconfortáveis estão os portugueses que, diariamente, têm de se confrontar com as consequências de uma imigração sem regras que hoje, desordenadamente, está visível nas principais cidades, do país, sobretudo em Lisboa e Porto, com um sem número de imigrantes sem abrigo a dormirem nas ruas.

Quais são as dúvidas de Ana Catarina Mendes de que os imigrantes devem vir para Portugal com um contrato de trabalho e com boas condições de inserção na sociedade portuguesa, protegendo-se, assim, das máfias do tráfico da imigração.

Que se passa com Eduardo Cabrita, ex-colega de faculdade de Costa e um dos piores ministros da Administração Interna que passou por Portugal, quando diz que Pedro Nuno Santos “conhece mal” o tema da imigração. Não, não! O problema é que Pedro Nuno Santos conhece muito bem o tema da imigração em Portugal, tomou consciência das consequências nefastas que uma imigração desregulada teve para o país e para os próprios imigrantes e resolveu atirar uma pedrada no charco, passando um atestado de incompetência aos anteriores Governos de António Costa em matéria de imigração, mesmo tendo feito parte deles. Teve uma coragem única que é de assinalar.

Perante isto o que a tralha costista tem a fazer é calar-se e continuar a comer moules e escargots nos restaurantes de Bruxelas.

Jornalista

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