A revirar os olhos a Emmanuel Macron, a ser recebida de joelho no chão pelo primeiro-ministro da Albânia ou a segredar a sua estratégia com os media ao ouvido de Donald Trump, Giorgia Meloni tem sido o centro das atenções em quase todas as suas deslocações ao estrangeiro. Em Sharm el-Sheikh, há dias, na Cimeira para a Paz em Gaza, o presidente americano pode ter causado algum desconforto ao enfatizar a sua beleza, mas não deixou de destacar como a primeira-ministra italiana é também “muito bem-sucedida”. Agora que se assinalam os três anos da sua chegada ao poder - o que faz do seu o terceiro governo mais duradouro de Itália (1098 dias) depois de dois do seu antigo aliado Silvio Berlusconi - Meloni tornou-se no rosto da estabilidade política num país onde esta tem escasseado. E num documento de 68 páginas, o seu executivo, que junta o seu Irmãos de Itália, a Liga, de Salvini, e o Força Itália, do falecido Berlusconi, destacou os seus maiores sucessos. A começar pela descida do desemprego (hoje nos 6%, o aumento do investimento público (mais 61% face a 2022) ou o controlo do défice, que deve ficar nos 3% previstos no Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE. Em 2021 estava acima dos 8%. Com um crescimento de 3,2% do PIB previsto para 2025 (segundo os últimos números do FMI. Portugal deve ficar-se pelos 1,9%), Itália vai receber 194 mil milhões do PRR - o cheque mais gordo passado pela UE. Um valor que já mereceu críticas da oposição, que denuncia um crescimento fictício, à boleia dos fundos europeus.É verdade que nem tudo são rosas: a dívida continua nos 135% do PIB, a produção industrial caiu e a crise demográfica, aliada à emigração crescente, obrigou o governo a rever as políticas de imigração - chegou a ter um plano para enviar migrantes para centros na Albânia, travado pelos tribunais - a abrir as portas a meio milhão de imigrantes. Aos 48 anos, a filha de um conselheiro fiscal com simpatias comunistas, que deixou a família quando ela tinha 11 anos, educada pela mãe num bairro da classe trabalhadora de Roma e que aos 15 anos entrou na política, na juventude do neofascista Movimento Social Italiano, mostrou nestes três anos que afinal não é o bicho-papão que a Europa chegou a temer. Não só a mulher conseguiu romper com o machismo instalado na política italiana como conquistou o respeito dos restantes líderes europeus - e não só - ao moderar algumas posições, provando que a sua figura mignonne não a impede de jogar na liga dos grandes. Não falta, claro, quem a acuse de não estar a fazer as reformas estruturais de que Itália precisa, mas basta olhar para as sondagens para perceber que os italianos confiam na sua primeira-ministra, cujo Irmãos de Itália continua acima dos 30% de intenções de voto, bem à frente do Partido Democrático, de centro esquerda. As próximas eleições só estão previstas para 2027, mas neste momento Meloni parece bem lançada para bater 1412 dias de Berlusconi.Editora-executiva do Diário de Notícias