Macron de impasse em impasse

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O mais jovem (Gabriel Attal), o mais velho (Michel Barnier), o primeiro homossexual assumido (Attal de novo) e o menos duradouro (Sébastien Lecornu). Os primeiros-ministros de Emmanuel Macron são pródigos em recordes, ou não tivesse o presidente francês igualado o também recorde de François Mitterrand ao chegar aos sete chefes de governo desde o início do mandato. A diferença? No tempo de Mitterrand os mandatos presidenciais duravam sete anos e o socialistas cumpriu dois, enquanto Macron vai a pouco mais de meio do segundo mandato de cinco anos.

Com a demissão de Sébastien Lecornu, na segunda-feira, ao fim de apenas 27 dias na chefia do governo e poucas horas depois de ter anunciado a composição do executivo, França voltou a mergulhar um pouco mais na crise política que se arrasta desde que Macron convocou legislativas antecipadas na sequência da vitória da extrema-direita nas europeias de junho do ano passado. O presidente acabou a dar um prazo ao seu primeiro-ministro cessante até quarta à noite para estabilizar a situação, findo o qual Lecornu disse acreditar que o fantasma da dissolução da Assembleia foi afastado e que Macron irá nomear novo chefe do governo. Resta saber por quanto tempo, porque poucos acreditam que a crise fique por aqui.

Olhando para os cenários que se apresentam ao presidente, a verdade é que nenhum parece particularmente animador para a segunda economia da UE. Afinal, se Macron optar, como tudo indica, por nomear um novo primeiro-ministro - o oitavo! - nada garante que dure mais do que Lecornu, com o Reagrupamento Nacional a já ter ameaçado, através da sua líder de facto, Marine Le Pen, que irá “censurar tudo”. E se o oitavo cair, irá nomear o nono, e o décimo e por aí fora até maio de 2027? Impasse.

Na oposição, a pressão é para o presidente convocar novas legislativas. Mas aí também nada garante que o resultado não seja uma repetição do de 2024, com três grandes blocos - extrema-esquerda, extrema-direita e centristas do presidente - quase empatados, sem nenhuma maioria clara de governo. Impasse de novo.

A outra alternativa - que Macron tem rejeitado - seria a demissão do próprio presidente e a antecipação das presidenciais. Impossibilitado de se candidatar, Macron já viu alguns dos candidatos a candidato do seu campo político - a começar por Attal e pelo também ex-primeiro-ministro Édouard Philippe - começarem a distanciar-se dele. Mas as sondagens estão longe de garantir a vitória a um centrista, seja um ou o outro, numa muito provável segunda volta frente a Jordan Bardella, o atual líder do RN, empurrado para uma candidatura por Marine Le Pen estar impedida pela justiça de avançar. Impasse outra vez.

Rodeado de impasses, não espantam as imagens que circularam de Macron, de soturno sobretudo negro, a passear a solo nas margens do Sena depois da demissão de Lecornu. Como é solitário o papel do presidente que, como escrevia a Economist, se revelou mais Ícaro do que Júpiter.

Editora-executiva do Diário de Notícias

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