John John Kennedy na Casa Branca a espreitar debaixo da secretária do pai John, Amy Carter sentada ao colo do pai Jimmy, à mesma secretária, Chelsea Clinton a segurar no gato Socks enquanto o pai Bill trabalhava, ou Sasha Obama escondida atrás de um sofá e prestes a pregar um susto ao pai Barack. Podem não ser muitas, mas são sempre icónicas as fotografias de crianças na Sala Oval. Talvez pelo contraste que representam entre a inocência das crianças e o peso da responsabilidade que assenta sobre os homens sentados à Resolute desk.Desta vez não foi o presidente a levar um filho para a sala onde se tomam decisões que podem mudar o mundo. Aos 78 anos, Donald Trump tem filhos crescidos e mesmo o mais novo, Baron, faz 19 anos em março. O momento de proximidade familiar ficou a cargo de Elon Musk, que levou o filho X Æ A-Xii, conhecido como Lil’X, para uma conferência de imprensa na Sala Oval da Casa Branca. E enquanto o multimilionário dono da Tesla, da SpaceX e da rede social X explicava o que está a correr melhor e pior do Departamento de Eficiência Governamental que dirige a convite de Trump, o menino de 4 anos foi falando por cima do pai, imitando os seus gestos, metendo o dedo no nariz ou deitando a cabeça sobre o boné MAGA (Make America Great Again) preto que o pai usava quando este o meteu às cavalitas. Pai de 12 filhos (o mais velho, Nevada, morreu com 10 semanas de síndrome da morte súbita infantil) com três mulheres diferentes, Musk é conhecido por ser um pronatalista. Para ele, o declínio demográfico é a maior ameaça à nossa civilização, inclusive maior do que as alterações climáticas. Mas há mais por detrás desta ideia, que tem as suas origens na França de Luís XIV quando os homens que tivessem mais de dez filhos recebiam privilégios do rei. Hoje, os pronatalistas como Musk defendem que nasçam mais crianças, mas não qualquer uma, têm de ser crianças com genes perfeitos e para isso estão dispostos a usar testes genéticos para fazer uma seleção dos “melhores”. O que levanta questões éticas, aproximando-os perigosamente do eugenismo. O próprio Trump referiu-se ao pequeno X como “um indivíduo de QI elevado”. As imagens de Musk e X na Sala Oval podiam ser apenas um pai a levar o filho para o trabalho, como já aconteceu com quase todos nós. Mas quando se trata do homem mais rico do mundo, é difícil acreditar que Musk não conseguisse arranjar quem tomasse conta do filho enquanto ele falava com os jornalistas. O que podia ser apenas um exemplo de normalidade a acontecer na Casa Branca, com Musk e Trump nunca é apenas isso…Editora-executiva do Diário de Notícias