A primeira vez que o mundo a viu foi em 2022, quando acompanhou o pai, Kim Jong-un, num lançamento de mísseis balísticos intercontinentais. Mas desde então, Kim Ju-ae tornou-se presença habitual ao lado do líder norte-coreano. E esta semana a adolescente estreou-se nos palcos mundiais, ao acompanhar Kim na ida a Pequim para assistir à parada militar com que a China assinalou os 80 anos do fim da II Guerra Mundial. Um momento que confirma o seu estatuto de herdeira da dinastia Kim. A existência de Kim Ju-ae foi primeiro revelada pela antiga estrela da NBA Dennis Rodman em 2013. Depois de uma visita a Pyongyang, o jogador norte-americano de basquetebol, que desenvolveu uma inesperada amizade com Kim Jong-un, contou ao The Guardian ter tido a bebé nos braços e revelou o seu nome. “Segurei a sua filha Ju-ae e conversei com a Sra. Ri [Sol-Ju, mulher de Kim] também. Ele é um bom pai e tem uma família linda”, disse Rodman. Passados 12 anos, a verdade é que pouco mais se sabe sobre aquela que Kim Jong-un parece ter escolhido para um dia lhe suceder, tal como ele sucedeu ao pai, Kim Jong-il, em 2011, que por sua vez sucedera em 1994 ao pai, Kim Il-sung, fundador do secretíssimo e hiper isolado regime norte-coreano. Identificada nos media estatais do país como “a filha amada” ou “a filha estimada” - nunca pelo nome - Ju-ae nunca falou em público. Mesmo se, depois do ensaio dos mísseis balísticos, surgiu com o pai noutros momentos, do desfile militar que assinala a fundação do país à recente inauguração de um resort na costa leste. Segundo um relatório de 2017 dos serviços secretos da Coreia do Sul, Kim e Ri Sol-ju, têm três filhos: um rapaz nascido em 2010, uma rapariga nascida em 2013, que será Ju-ae, e, em 2017, uma criança cujo sexo se desconhece. Até agora Ju-ae foi a única a surgir em público no que parece um treino para um dia assumir a liderança. Mas se é para tal que Kim prepara a filha, resta saber como, numa sociedade patriarcal, embora oficialmente comunista desde 1948, o partido e as elites militares reagiriam à ascensão de uma mulher ao cargo de líder supremo. Ora se até agora Ri Sol-ju não teve muito mais do que papel de figurante em raras aparições com o marido, já a irmã de Kim, Yo-jong, é a segunda figura do regime. Vice-diretora do Departamento de Propaganda e membro da Comissão de Assuntos Estatais, Yo-jong mostrou que as mulheres na Coreia do Norte não servem só para cuidar da casa ou trabalhar no campo. Pelo menos se forem da família - e da simpatia - do líder. Irá Kim mais longe e passará mesmo o poder à filha? Será ela o quarto Kim a governar? Veremos.Editora-executiva do Diário de Notícias