Copenhaga virou mais à esquerda para castigar Mette

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Pela primeira vez em cem anos, Copenhaga não vai ser governada por um ou uma social-democrata. Depois das eleições locais e regionais da passada terça-feira o partido da primeira-ministra Mette Frederiksen perdeu o controlo de 15 câmaras do país, inclusive a da capital. Depois de o atual presidente da Câmara, Lars Henrik Weiss, ter deixado claro que não se candidatava (assumiu em 2024 a liderança interina da autarquia devido à saída de Sophie Hæstorp Andersen para ocupar um cargo no governo), as esperanças dos sociais-democratas residiam em Pernille Rosenkrantz-Theil, segundo o Le Monde uma escolha pessoal de Frederiksen. Mas nem a carta enviada pela candidata aos habitantes da capital a alertar contra uma vitória dos partidos “vermelhos”, impediu que Sisse Marie Welling, a candidata do Partido Popular Socialista (agora Esquerda Verde) fosse a mais votada e passasse a governar a cidade a partir de 1 de janeiro de 2026.

Apesar de terem sido o partido mais votado, a nível nacional, em termos de percentagem geral, com 23,2%, os sociais-democratas recuaram 5,2 pontos percentuais em relação às eleições locais de 2021. Um recuo maior do que a formação da rosa estava à espera, apesar das baixas expectativas, ficando apenas a governar três dezenas das 98 câmaras do país, enquanto o Partido Liberal, seu parceiro de governo, controla quatro dezenas.

Para Carsten Rasmussen, mayor cessante da cidadezinha de Naevstved, outro bastião social-democrata há mais de um século e que, neste caso, virou à direita, os resultados revelam “uma forma de lassitude para com o governo”, mas também, como disse ao Politiken, “uma vontade de punir Mette”.

Esta é a segunda vez que os dinamarqueses castigam o partido da primeira-ministra nas urnas. A outra foi nas europeias de 2024, quando os sociais-democratas tiveram de se contentar com o segundo lugar e 15,5% dos votos. Na altura, o resultado foi visto como uma rejeição a Frederiksen, que optou por governar com os liberais e os moderados (centro-direita) após as legislativas de 2022, em vez de com os aliados tradicionais da esquerda. Desde então a líder dos sociais-democratas oscilou entre reafirmar o seu compromisso com a esquerda, como quando disse que se oporia ao aumento da idade da reforma para além dos 70 anos, e os apelos aos eleitores tentados a votar no Partido Popular Dinamarquês (DF, extrema direita), tendo criticado os muçulmanos, acusando-os de não fazerem esforços para se integrarem na sociedade dinamarquesa.

Com as próximas eleições legislativas a terem de ser marcadas no máximo até 31 de outubro de 2026, Frederiksen tem pouco menos de um ano para reconquistar os eleitores perdidos e para provar que se enganam aqueles que como Christian Jensen, o diretor do Politiken, jornal fundado em 1884, a consideram “mais parte do problema do que da solução”.

Editora-executiva do Diário de Notícias

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