Enclave. Na mesma rua reabrem bares e outros ficam fechados

Baarle-Hertog, enclave belga nos Países Baixos, não vai poder reabrir os restaurantes e bares, ao contrário dos vizinhos holandeses. Vizinhos com metros de distância.
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A peculiaridade de Baarle tornou-a numa atração turística. A vila holandesa, Baarle-Nassau, junto à fronteira com a Bélgica, tem um enclave belga, Baarle-Hertog. Mas com as restrições levantadas pela pandemia as limitações deste território ficam à vista. Quando os cafés, restaurantes e bares holandeses reabrirem, os mesmos estabelecimentos belgas, alguns a metros de distância, vão permanecer encerrados.

"É realmente uma situação louca. Mas não se pode mudá-la, por isso é preciso seguir as regras. E aceitá-la", disse Monic van der Krogt, proprietária de uma cervejaria e esplanada num dos 16 territórios belgas situados em Baarle, à CNN.

A partir de 1 de junho os estabelecimentos da restauração reabrem por completo nos Países Baixos, mas na Bélgica ainda não foi designada uma data para a reabertura. Daí que Van der Krogt irá observar cafés e esplanadas abertos a 50 metros de distância, mas não possa retomar a atividade -- e nem sequer frequentar os espaços comerciais sob jurisdição holandesa.

O pequeno comércio da vila já estava dividido, com as lojas holandesas abertas e as belgas encerradas, e estes últimos impedidos de fazer compras no mesmo burgo. Uma situação que já foi ultrapassada, com a reabertura do comércio na Bélgica, como se pode verificar neste cronograma do L'Echo.

Com pouco menos de 11,5 milhões de habitantes, a Bélgica regista quase 9 mil mortos devido ao covid-19, ao passo que entre os 17 milhões de habitantes nos Países Baixos, faleceram um pouco mais de 5 600 pessoas, o que explica um calendário diferente do levantamento de restrições entre belgas e holandeses.

O enclave belga é composto por duas dezenas de parcelas de terrenos, estando a maior parte no centro da vila, e com a particularidade de, nalguns casos, existirem enclaves holandeses dentro daqueles. Para as pessoas saberem onde estão, há divisórias pintadas no chão com cruzes e as iniciais de cada país no respetivo lado da fronteira.

Esta situação remonta à Idade Média, quando terrenos foram divididos entre a casa de Brabante (Hertog é a palavra neerlandesa para duque) e de Nassau. Quando a Bélgica declarou a independência dos Países Baixos em 1831, as duas nações ficaram com um enorme quebra-cabeças para resolver. As fronteiras só foram definidas de forma conclusiva em 1995, quando o último pedaço de terra de ninguém foi atribuído à Bélgica.

O acerto de fronteiras entre a Bélgica e os Países Baixos conheceu outro episódio em 2016, este mais a sudeste. Os belgas transferiram mais de 14 hectares de território, que incluem as penínsulas desabitadas de L'Ilal e de Eijsden, no rio Meuse. Em troca, a Holanda cedeu a península de Petit-Gravier, com os seus pouco mais de quatro hectares.

Na ocasião, o ministro belga dos Negócios Estrangeiros, Didier Reynders, regozijou-se com a civilidade do sucedido. "É talvez único que se consiga fazer uma alteração de fronteiras sem haver uma guerra, uma crise ou um conflito primeiro."

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