Quando as portas do festival de cerveja de Qingdao se abriram, milhares de pessoas - na China é sempre aos milhares - esqueceram as máscaras, brindaram em conjunto e sentaram-se em longas mesas corridas. Ao fim de sete meses, o país onde surgiu o novo coronavírus e que foi até fevereiro o centro mundial da doença, anseia pela normalidade (como aliás, o resto do mundo). E os grandes eventos sucedem-se: em Xangai, por exemplo, realizou-se este fim de semana mais um ChinaJoy e os amantes do gaming responderam à chamada. Foi também nesta cidade que a gigante sueca do mobiliário abriu a Ikea City, a sua primeira loja outlet no território..Está o país que anunciou a covid-19 ao mundo a chegar à normalidade? Certo que com o maior número de habitantes no planeta (1 402 509 320) terá mesmo que se esforçar para tal. Desde 17 de maio que as autoridades não anunciam uma única morte - há cerca de dois meses que o número de vítimas mortais se mantém nos 4 634. Aliás, se recuarmos até 27 de abril, os números são praticamente idênticos, 4 632, o que quer dizer que só foram contabilizados dois óbitos em 20 dias..Atualmente, a China depara-se com dois surtos ativos: um na região oeste de Xinjiang e outro na província nordeste Liaoning, centrado na cidade portuária de Dalian. O país registou na terça-feira, 4 de agosto, 27 novos casos, 22 dos quais contágios locais na zona de Xinjiang, onde um surto surgiu há três semanas, informou esta quarta-feira a Comissão Nacional de Saúde..Todos os casos em Xinjiang ocorreram por contágio local. Já em Liaoning, não foram registados novos casos..Estes números revelam que, pelo o quinto dia consecutivo, a China regista menos de cinquenta infeções, depois de na semana passada ter tido três dias seguidos acima de cem - refere a Lusa..Os números registados na última semana, nestes dois focos, acabam por ser assim os mais elevados desde março, altura em que os chineses começaram a controlar a propagação do coronavírus, que terá tido origem num mercado de animais em Wuhan, na província de Hubei, no final de 2019..Até a meia-noite de terça-feira (17 horas em Lisboa), a China continental tinha 810 casos ativos, 36 deles em estado grave. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, segundo dados oficiais, o país soma 84 491 pessoas infetadas..OMS estuda origem do vírus em Whuan.Enquanto a China tenta controlar uma segunda vaga, a missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) deu, no início desta semana, por concluído o trabalho preparatório da investigação sobre a origem do Sars-Cov-2. Esses estudos vão começar precisamente em Whuan, no sentido de identificar a fonte potencial dos primeiros casos registados, ou seja, perceber se origem em animais e como chegou ao ser humano..A pandemia de covid-19 já foi responsável em todo o mundo pela morte de mais de 700 mil pessoas. Há quase 19 milhões de infetados, sendo que recuperaram cerca de 12 milhões. A procura de uma vacina que trave o novo coronavírus é o grande desafio da comunidade científica - não será, pois, de estranhar que estejam em estudo mais 150 vacinas, sendo que a da Universidade de Oxford é uma das que está numa fase mais adiantada da investigação e suscita alguma esperança..O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, já veio colocar um travão nas expectativas: "Não há nenhuma 'panaceia' e talvez não exista nunca.".As medidas de contenção levadas a cabo pela China - cidades isoladas e uso de máscara massificado, por exemplo - são alguns fatores que poderão justificar a forma como o países conseguiu travar o número de infetados e de mortes. Até meados de fevereiro, quando o foco do vírus se centrou na Europa, nomeadamente na Itália, Espanha e Reino Unido, a China era o epicentro planetário da doença. Os Estados Unidos são agora o país mais afetado com a covid-19, com quase cinco milhões de casos e 160 mil mortes..O dia 23 de maio marca a data em que pela primeira vez desde o início fo surto do novo coronavírus que a China não registou qualquer caso..Não fosse os dois surtos ativos, a situação sanitária na China até parecia controlada - as agências internacionais estão cheias de acontecimentos de grande envergadura, como o festival de cerveja. No evento, que se realiza até final de agosto, os visitantes comem e bebem - há mais de 1500 tipos de cerveja disponíveis - há vários espetáculos e fogos de artifício, tudo atividades que se assistem em conjunto..Xangai foi no fim de semana passado, palco do ChinaJoy, o maior evento de exposição de jogos na China. Apesar das restrições devido ao surto de Covid-19, como o uso obrigatório de máscaras de proteção para os participantes e uma duração mais curta, contou com a presença da maioria das editoras de vídeo-jogos, como a Tencent Holdings, Bilibili, Activision Blizzard, Ubisoft, Epic Games e Bandai Namco..Também em Xangai - e no que não pode deixar de ser uma prova de confiança -a sueca IKEA abriu o seu primeiro outlet. No ano passado, a gigante sueca tinha anunciado a atualização das suas lojas na China, com a abertura de lojas de menor dimensão que esta, num investimento de 1,24 bilhão de euros)..As cheias e a peste suína.Mas há outra situação que está a preocupar as autoridades chinesas, a peste suína africana, que assola o país há mais de um ano - é que a China é o maior produtor de carne de porco do mundo e teme o atraso das exportações, sendo que no final do ano passado havia estudos que apontavam para a perda de 200 milhões de animais..O que está agora a agravar a situação são as chuvas torrenciais e constantes que desde junho causaram enchentes como não se viam há décadas no rio Yangtze..A subida do nível das águas deixou várias propriedades submersas. Além dos estragos materiais, muitos animais morreram afogados, outros tiveram que ser abatidos..Já afastado pelas autoridades foi o risco de uma nova pandemia a partir do vírus da gripe suína.