A liderança contra a pandemia também se faz no feminino. E com sucesso
De Alemanha à Nova Zelândia, de Taiwan à Finlândia, há mulheres a destacar-se na chefia de governos que têm registado bons resultados no combate à crise que assola o mundo.
O que têm em comum Taiwan, Alemanha e Nova Zelândia? Por razões diferentes, os três são apontados como casos de sucesso no combate à pandemia causada pelo novo coronavírus. E os três são liderados por mulheres. Coincidência?
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O controlo dos contágios ou o baixo nível de letalidade registado em alguns países dificilmente terão uma causa única, mas há medidas que podem ter feito a diferença.
Em Taiwan, um território que à partida seria particularmente vulnerável à propagação do novo coronavírus, face à proximidade com a China, a reação rápida poderá ter sido decisiva. Quando, no final de dezembro, a China notificou a Organização Mundial da Saúde dos casos de pneumonia em Wuhan, o território começou imediatamente a controlar quem chegava daquela cidade e, pouco depois, tornou a medida retroativa, monitorizando todos os que chegaram de Wuhan desde 20 de dezembro. Quem mostrasse sintomas ficava de quarentena.
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Em meados de janeiro, o território liderado pela presidente Tsai Ing-wen mandou uma equipa de especialistas à zona mais afetada pela nova doença. "Não nos deixaram ver o que não queriam que víssemos, mas os nossos especialistas perceberam que a situação não era para otimismos" , afirmou à NBC News Kolas Yotaka, porta-voz do governo. Após o regresso desta equipa começaram a ser feitos testes que permitiram detetar os primeiros doentes e mapear os seus contactos. A 20 de janeiro, foi acionado um Centro de Comando Central para lidar com a doença.

Jacinda Arden, primeira-ministra da Nova Zelândia
© REUTERS/Edgar Su
Na Nova Zelândia, um país onde o turismo tem um peso considerável na economia, a primeira-ministra Jacinda Ardern mandou fechar as fronteiras a 19 de março. Quatro dias depois, quando havia apenas seis infetados no país, instituiu uma quarentena de quatro semanas, com todos os habitantes a recolherem a casa, com exceção dos que trabalham em serviços essenciais. Com uma aposta massiva nos testes de deteção de covid-19, o país tem cerca de 1300 casos e menos de dez mortos.
Também a Alemanha regista níveis de mortalidade bem abaixo da média, próximo dos 2%,, quando Itália está nos 12% e Espanha nos 10%. O forte sistema de saúde alemão e uma clara aposta na realização de testes de deteção têm sido apontados como fatores-chave para estes números, com os alemães a dar boa nota ao desempenho da chanceler: o nível de popularidade de Angela Merkel tem vindo a subir. E não se deve a uma abordagem soft da chefe do governo: desde o início que Merkel tem dados aos seus concidadãos uma perspetiva severa da pandemia, avisando desde cedo que 70% da população poderia vir a ser infetada. "Isto é sério e é preciso que levem isto a sério", pediu a chanceler.

Uma das mais destacadas líderes mundiais, Angela Merkel faz parte da minoria de 7% de mulheres que chefiam governos em todo o mundo
© EPA/ARD / POOL
Embora as mulheres representem apenas 7% das lideranças, a nível mundial, há mais exemplos de primeiras-ministras com um desempenho aplaudido pelos seus concidadãos na gestão da crise pandémica que assola o mundo. Na Finlândia, a mais jovem chefe de governo do globo, Sanna Marin, de 34 anos, recolhe a aprovação de 85% dos finlandeses, segundo uma sondagem recente citada pela CNN. A Islândia, dirigida pela primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir já testou 5% da população e faz testes grátis aos islandeses que se deslocarem ao hospital, sem qualquer outra exigência (o facto de se tratar de uma ilha com 364 mil habitantes ajudará bastante à implementação desta medida).
A liderança destas mulheres tem vindo a merecer destaque na imprensa internacional, da CNN à Forbes. No caso da estação televisiva norte-americana, com uma comparação caseira pouco simpática - com "homens incompetentes e negacionistas da ciência" como Donald Trump e Jair Bolsonaro.
De acordo com a CNN, em janeiro deste ano apenas dez dos 152 chefes de Governo eleitos no mundo eram mulheres. Os homens representam também a esmagadora maioria - 75% - dos eleitos para os parlamentos.