Hotel social na Mouraria "é criar sarilho sem necessidade", argumenta autarca de Santa Maria Maior
A intenção da Câmara Municipal de Lisboa de construir um hotel social na Rua das Olarias, na Mouraria, "é criar sarilho sem necessidade". A opinião é do presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS).
A ideia não é nova -- "começou aí há uns nove meses, mais ou menos" --, mas, diz o autarca de Santa Maria Maior, "a junta nunca foi ouvida nem volvida". "E dado o impacto que um equipamento destes tem, a Câmara Municipal podia ter-nos consultado", argumenta Miguel Coelho.
Que "impacto" é este? O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maior explica: "A Rua das Olarias é uma zona calma, dentro de um território complicado. Construir um hotel social, destinado a albergar pessoas que vivem na rua, é criar sarilho. A cerca de 100 metros, há uma sala de consumo assistido. Construir isto é pedir que haja uma série de pessoas que se acumulem ali à porta à espera de uma vaga, passando a haver, entre outras coisas, seringas no chão, etc."
Por isso, a junta de freguesia organiza esta quarta-feira, às 17h00, uma concentração para tentar alertar para esta situação. Isto já depois de ter dinamizado um abaixo-assinado contra a criação deste hotel social. Na opinião de Miguel Coelho, a solução mais correta para este "fogo desocupado", era convertê-lo num conjunto de casas "de renda acessível".
"Não se pode despejar tudo na Mouraria. Parece que isto serve para o presidente [Carlos Moedas] fazer um número de propaganda. Diz que o hotel social se destina, apenas, a famílias estáveis. Mas, sejamos francos, isso não existe com pessoas em situação de sem-abrigo. Se assim é, a câmara municipal que faça um hotel social na Lapa e que veja se não começam a surgir este tipo de situações", critica Miguel Coelho.
Segundo o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, a câmara municipal foi "questionada em diversas ocasiões" sobre a construção deste hotel social, incluindo "numa reunião descentralizada" que aconteceu na freguesia. A resposta? "Disseram que tinha de ser criado e pronto, nada mais que isso."
Por isso, a concentração desta tarde servirá, também, para "demonstrar a insatisfação" dos fregueses -- e do próprio autarca -- com a criação da infraestrutura. E, no futuro, alerta Miguel Coelho, "se tudo ficar extremado", depois "podem existir reações que não serão as mais corretas e que podem ser condenáveis".
A Mouraria, recorde-se, é uma das zonas de Lisboa onde a insegurança tem aumentado. Em julho do ano passado, vários moradores queixavam-se ao DN, entre outros, do "ambiente péssimo", de alguns conflitos entre pessoas, do consumo de drogas e, até, de assaltos.