A presidente da Comissão Europeia sobreviveu esta quinta-feira, 9 de outubro, a duas moções de censura, depois de receber o apoio da maioria dos eleitos do Parlamento Europeu. Esta foi a primeira vez que foram apresentadas duas moções de censura em simultâneo no hemiciclo de Estrasburgo. “Agradeço profundamente o forte apoio recebido hoje. A Comissão continuará a trabalhar em estreita colaboração com o Parlamento Europeu para enfrentar os desafios da Europa e, em conjunto, alcançar resultados para todos os cidadãos europeus. Unidos pelos nossos cidadãos, pelos nossos valores e pelo nosso futuro”, escreveu Ursula von der Leyen no X depois de ser conhecido o resultado final.Na votação da moção de censura apresentada pelo grupo parlamentar de extrema-direita Patriotas pela Europa, foram registados 179 votos a favor, 378 contra e 37 abstenções. Já a moção de censura desencadeada pelo grupo de extrema-esquerda A Esquerda recebeu 133 votos a favor, 383 contra e 78 abstenções. No total, foram contabilizados 594 votos num universo de 720 eurodeputados.A moção da extrema-direita, apresentada por Jordan Bardella, o líder do francês Reagrupamento Nacional, tinha como objetivo criticar Ursula von der Leyen por aceitar um acordo tarifário desvantajoso com os Estados Unidos e por propor um pacto comercial com o bloco sul-americano do Mercosul que ameaça os agricultores, um dos motivos que leva a França a não ser a favor deste acordo, e o ambiente. Dois pactos que serão votados no Parlamento Europeu nos próximos meses.“Mais uma vez, Bruxelas isenta Ursula von der Leyen de responsabilidades. Mas não desistiremos. Patriotas pela Europa, continuem a lutar, pelo futuro da Europa, pelo seu povo, pela verdade”, reagiu o grupo de extrema-direita, ao qual também pertence o português Chega, depois de sair derrotado.A outra foi apresentada por Manon Aubry, eleita pelo França Insubmissa, por causa da inacção da Comissão Europeia em relação à atuação do governo de Israel na Faixa de Gaza, mas também devido ao acordo tarifário com os Estados Unidos e o Mercosul, um ponto em comum com a moção da extrema-direita. “Dos socialistas à extrema-direita, uma união sagrada no Parlamento para manter Ursula von der Leyen no cargo. A presidente da Comissão é cúmplice do genocídio em Gaza e assina acordos de comércio livre como o Mercosul, um após outro”, criticou a também presidente do grupo parlamentar A Esquerda, que conta com os portugueses Bloco de Esquerda e PCP.De notar que, e num claro sinal de que o o acordo UE-Mercosul não é bem visto em França, quatro eurodeputados franceses do Partido Popular Europeu, ao qual também pertence von der Leyen, apoiaram a moção apresentada por Bardella desafiando a indicação de voto da sua liderança e justificando esta rebelião precisamente por causa deste pacto comercial com a América do Sul.Entre estes quatro, todos eles do partido francês Republicanos, destaca-se François-Xavier Bellamy, um dos vice-presidentes do grupo parlamentar do PPE. “Não poderíamos contradizer os compromissos que assumimos durante a nossa campanha e a luta que estamos a travar incansavelmente para proteger, em particular, os nossos agricultores”, referiu Bellamy em comunicado, ressalvando que a moção não tinha “nenhuma hipótese” de ser aprovada.De facto, o chumbo destas duas moções de censura já era esperado, mas o número de votos contra mostra um relativo aumento do apoio dos eurodeputados à presidente da Comissão da Europeia em relação à moção de censura de julho - na altura, o número de votos contra foi de 360, um valor abaixo do registado esta quinta-feira.Mesmo assim, Ursula von der Leyen ainda tem de se preocupar com a sua margem de apoio no Parlamento Europeu, tendo em conta que em julho de 2024 recebeu o voto favorável de 401 entre os 720 eurodeputados para a sua confirmação como presidente do executivo comunitário..Von der Leyen critica moção de censura oriunda de "mundo de conspirações" que tenta "criar divisão" na UE. Ursula von der Leyen vai tremer, mas deve sobreviver a moção de censura