“Um país são não mata bebés como passatempo”. Antigo líder militar ataca governo de Netanyahu
Yair Golan, antigo vice-chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF) e atual líder do partido de esquerda Democratas, afirmou esta terça-feira que o Israel “está a caminho de se tornar um Estado pária, como foi a África do Sul, se não voltarmos a agir como um país sensato”. Em entrevista à emissora pública Yan, o major-general referiu ainda que “um país são não luta contra civis, não mata bebés como passatempo e não tem como objetivo expulsar populações”. Palavras que lhe valeram as críticas de vários quadrantes políticos, desde primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, à oposição, e até o exército.
Golan prosseguiu as suas considerações, acusando o governo de estar “cheio de vingativos, sem moral e sem capacidade para governar um país em tempos de crise”, sublinhando que isso “põe em risco a nossa existência”.
Netanyahu não poupou críticas a Golan, que se reformou das IDF em 2018 após 38 anos de serviço militar no ativo, dizendo condenar a sua “incitação selvagem” contra os militares e o país. “Numa altura em que travamos uma guerra em várias frentes e lideramos complexos esforços diplomáticos para libertar os nossos reféns e derrotar o Hamas, Golan e os seus amigos da esquerda radical estão a apregoar os mais desprezíveis libelos de sangue antissemitas contra os soldados das Forças de Defesa de Israel e o Estado de Israel. Não há limite para a decadência moral”, referiu o primeiro-ministro israelita, acrescentando ainda que “Golan, que encoraja a recusa em servir e comparou Israel aos nazis quando ainda estava no exército, atingiu agora um novo nível quando afirmou que Israel está a 'matar bebés como um passatempo'”.
O líder do governo referia-se ao polémico discurso feito por Golan no Dia do Holocausto de 2016, então vice-chefe do Estado-Maior das IDF, quando disse que “processos horríveis” que ocorreram na Alemanha nazi também eram percetíveis em Israel. Já depois de ter deixado de ser deputado, cargo que ocupou entre 2019 e 2022, juntou-se aos protestos contra a reforma judicial, defendendo a desobediência civil e pedindo aos soldados que se recusassem a prestar serviço. A par da sua vida política, Golan tornou-se um herói aos olhos do público a 7 de outubro de 2023, quando se juntou aos militares, tendo ajudado a resgatar muitos sobreviventes do festival atacado pelo Hamas, usando as suas localizações telefónicas.
Também o chefe do Estado-Maior das IDF, tenente-general Eyal Zamil, condenou as declarações de Yair Golan, sem referir o seu nome, garantindo que “os militares das IDF operam e continuarão a operar, dia e noite, em todas as frentes, com determinação e moralidade, como sempre fizeram”.
Ainda do lado do governo, o ministro da Justiça, Yariv Levin, pediu que fosse retirada a Golan a sua patente militar, o responsável pela Defesa, Israel Katz, disse que este deveria ser “excluído da vida pública”, e o titular da pasta das Comunicações, Shlomo Karhi, apelidou-o de "terrorista".
Já o líder da oposição, Yair Lapid, notou que qualquer alegação de que os soldados israelitas matam bebés “é um presente para os nossos inimigos”, enquanto que o presidente da Unidade Nacional, Benny Gantz, classificou as declarações de Golan como “ultrajantes, falsas e extremas”.
Horas depois da sua entrevista e desta chuva de críticas, Yair Golan usou a rede social X para esclarecer as suas declarações, escrevendo que os militares das IDF são “heróis”, mas que o “governo é corrupto” e que “a guerra precisa de acabar, os reféns devem ser devolvidos e Israel deve ser reabilitado”.