Um dia depois de ter anunciado que a 8 de setembro vai submeter o seu governo a um voto de confiança, o primeiro-ministro francês garantiu ontem que os 574 deputados franceses (há três lugares vazios na Assembleia da República) têm “13 dias para escolher entre o caos e a responsabilidade”. Mas se François Bayrou promete “lutar como um leão” para salvar o seu governo minoritário, com a oposição a apontar para um voto contra, parece pouco provável que consiga sobreviver à votação. Ora em caso de queda do governo, quais as opções do presidente Emmanuel Macron? Com o país a enfrentar a instabilidade política desde que o chefe do Estado decidiu, em junho do ano passado, convocar legislativas antecipadas após a vitória do Reagrupamento Nacional (RN, ex-Frente Nacional, de extrema-direita) e a duas semanas de uma jornada de protesto, Macron pode simplesmente nomear outro primeiro-ministro. Mas com Bayrou, se assim for, a ser o segundo chefe do governo a ter de se demitir após uma votação na Assembleia Nacional, depois de Michel Barnier que esteve no cargo menos de três meses, o presidente poderá hesitar em seguir este caminho. Já para não falar na dificuldade em encontrar uma outra figura centrista capaz de agradar a todos dentro da minoria de governo. Se optar por um nome mais à direita, uma opção seria o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu. Aos 39 anos, o ex-militantes de Os Republicanos (direita tradicional) é visto como alguém capaz de dialogar com a extrema-direita. Se optar por um candidato à esquerda, as apostas vão para o ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve, mas isso implicaria cedências ao PSF que o presidente pode não estar disposto a fazer.Outra opção em cima da mesa de Macron é voltar a dissolver a Assembleia e convocar novas eleições legislativas. Mas a verdade é que foi assim que o país mergulhou na instabilidade. Além de neste momento, com o eleitorado muito dividido entre três blocos - extrema-direita, extrema-esquerda e um centro que apoia o presidente - nada indica que uma nova ida às urnas viesse desbloquear o impasse ao confirmar um vencedor claro. Mais radical - e provavelmente menos provável - seria o presidente optar por se demitir, levando França a umas presidenciais que neste momento só estão previstas para 2027. O presidente francês já provou que é capaz de surpreender e neste momento aproveitaria o facto de Marine Le Pen, a líder parlamentar e líder de facto da extrema-direita, estar impedida de se candidatar pelos tribunais. Para já está tudo nas mãos dos deputados. Ontem Os Republicanos vieram dizer que votariam a confiança no governo de Bayrou. O seu líder, Bruno Retailleau, garantiu que “votar pela queda do governo seria votar contra os interesses da França”. No mesmo comunicado, o ministro do Interior explica, no entanto, que “essa votação não significa que todas as medidas orçamentais propostas por François Bayrou nos agradassem”.O primeiro-ministro voltou na segunda a alerta alertar para o “risco de sobreendividamento” que pesa sobre França. Segundo ele, a urgência é evidente, uma vez que a dívida francesa ultrapassou os 3, 35 biliões de euros no final do ano de 2024 e que “o peso da dívida se tornará, este ano, o maior orçamento da nação”. Bayrou tem sido confrontado com uma forte resistência ao seu projeto de Orçamento para 2026, que prevê cortes de mais de 43 mil milhões de euros, incluindo quatro mil milhões que devem ser economizados com a extinção de dois feriados.Apesar do sentido de voto de Os Republicanos, as contas parecem pouco favoráveis a Bayrou, com o RN, a França Insubmissa (extrema-esquerda), o Partido Socialista e os Ecologistas a terem todos anunciado que vão votar contra a moção de confiança. Juntos têm um total de 315 deputados, quando a maioria é de 288. .Bayrou convoca voto de confiança que oposição vê como uma “demissão”