A duas semanas de uma jornada de protesto com o qual a esquerda radical promete bloquear o país a 10 de setembro, o primeiro-ministro francês surpreendeu os deputados ao, numa conferência de imprensa de rentrée, convocar uma moção de confiança no seu governo para o dia 8. À frente de um executivo minoritário, o centrista François Bayrou tem sido confrontado com uma forte resistência ao seu projeto de Orçamento para 2026, que prevê cortes de mais de 43 mil milhões de euros, incluindo quatro mil milhões que devem ser economizados com a extinção de dois feriados.Num discurso de meia hora, Bayrou deixou o desejo de ver a situação política de França “clarificada”, admitindo que o atual contexto é “preocupante e decisivo”. O primeiro-ministro, no cargo desde dezembro de 2024, voltou a alertar para o “risco de sobreendividamento” que pesa sobre França. Segundo ele, a urgência é evidente, uma vez que a dívida francesa ultrapassou os 3, 35 biliões de euros no final do ano de 2024 e que “o peso da dívida se tornará, este ano, o maior orçamento da nação”.França tem vivido um período de instabilidade política desde que o presidente Emmanuel Macron convocou umas legislativas antecipadas na sequência da vitória do Reagrupamento Nacional (RN, ex-Frente Nacional, de extrema-direita) nas europeias de junho do ano passado. Por exemplo, o antecessor de Bayrou na chefia do governo, Michel Barnier, esteve no cargo menos de três meses. Agora, perante a convocação da moção de confiança, a oposição já reagiu, afirmando que votará contra. Do RN à França Insubmissa (extrema-esquerda), passando pelos Ecologistas ou pelo Partido Socialista todos recusaram respaldar o governo. “Obviamente, votaremos contra a confiança no governo de François Bayrou. Apenas a dissolução permitirá agora aos franceses escolher o seu destino, o da recuperação com o Reagrupamento Nacional”, escreveu no X Marine Le Pen, a líder do grupo parlamentar, que conta com 123 deputados, o maior do hemiciclo. Na mesma rede social, Manuel Bompard, coordenador nacional da França Insubmissa, garantiu que “os deputados insubmissos [71] votarão no dia 8 de setembro para derrubar o governo”. O líder do PSF, Olivier Faure, disse ser “inimaginável que os socialistas [66 deputados] votem a confiança em Bayrou”. Já a secretária-geral dos Ecologistas, Marine Tondelier, anunciou o voto contra dos seus 38 eleitos, afirmando que a decisão de Bayrou equivale a uma “demissão”. Neste cenário, o futuro do governo parece, no mínimo, sombrio. François Bayrou recorreu ao artigo 49-1 da Constituição, segundo o qual “o primeiro-ministro, após deliberação do Conselho de Ministros, assume perante a Assembleia Nacional a responsabilidade do governo pelo seu programa ou, eventualmente, por uma declaração de política geral”.Na prática, no dia 8 o primeiro-ministro fará um discurso perante a Assembleia Nacional reunida em sessão extraordinária. No final do discurso sobre o seu programa orçamental e a luta contra o défice, os deputados votarão a favor ou contra (ou podem abster-se). Geralmente, esta votação ocorre após a nomeação de um primeiro-ministro, quando este faz a sua declaração de política geral, mas não é uma obrigação prevista na Constituição. E Bayrou não o fez na altura.Ao convocar um voto de confiança, o primeiro-ministro corre o risco de ver o seu governo cair. De facto, a Constituição prevê que o chefe do governo deve demitir-se se não obtiver a confiança da Assembleia Nacional após uma votação por maioria absoluta dos votos expressos. .Macron elogia coragem da proposta de orçamento de Bayrou.Bayrou quer cortar dois feriados em França para ajudar a combater crise financeira