O plano de paz apresentado pelos Estados Unidos prevê um "pacto de não agressão" entre Rússia, Ucrânia e Europa, garantias de segurança para Kiev e a divisão de Kherson e Zaporijia na atual linha da frente. Ainda segundo o plano, Kiev deve ceder as regiões de Donetsk e Lugansk, no leste do país, à Rússia.Estas duas regiões, reivindicadas por Moscovo, e a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, seriam "reconhecidas de facto como russas, incluindo pelos Estados Unidos", segundo o plano que, de acordo com o jornal norte-americano Washington Post, Trump quer ver aprovado antes de quinta-feira, 27 de novembro, Dia de Ação de Graças.E nesse sentido, o mesmo jornal diz que Trump está a pressionar Volodymyr Zelensky para que apoie a proposta, ameaçando retirar o apoio à Ucrânia se não o fizer.O presidente ucraniano já veio dizer que se recusa a trair a nação e anunciou que vai propor alternativas ao plano dos EUA. "Apresentarei argumentos, persuadirei e proporei alternativas", disse Zelensky numa declaração por vídeo à nação, na qual sublinhou que não trairá o seu país.Volodymyr Zelensky avisou que este “é um dos momentos mais difíceis e de maior pressão” da história da Ucrânia, que se confronta com “escolhas muito difíceis” face à proposta norte-americana. “Ou perde a sua dignidade ou corre o risco de perder um aliado fundamental”, declarou, referindo-se aos Estados Unidos.De acordo com o plano de 28 pontos, outras duas regiões do sul seriam divididas ao longo da atual linha da frente de combate, Kherson e Zaporijia.O plano estipula ainda que o Exército ucraniano ficaria limitado a 600 mil soldados, que a NATO se comprometeria a não estacionar tropas na Ucrânia, mas que os caças europeus estariam baseados na Polónia.O plano de paz apoiado pelos norte-americanos prevê a assinatura de um "pacto de não agressão" entre a Rússia, a Ucrânia e a Europa.Kiev renunciaria à adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), outra exigência importante da Rússia, mas seria elegível para se tornar membro da União Europeia.Se a Rússia invadisse novamente a Ucrânia, enfrentaria, de acordo com este projeto de plano, uma resposta militar coordenada e estaria novamente sujeita a sanções internacionais.A proposta de 28 pontos, consultada pela agência France-Presse (AFP), inclui "garantias de segurança" para a Ucrânia, cujos detalhes não são especificados, e um plano de reconstrução.O plano estipula que os esforços de reconstrução liderados pelos EUA serão financiados com 100 mil milhões de dólares provenientes de ativos russos atualmente congelados.A central nuclear de Zaporijia seria reativada sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), sendo a sua produção de eletricidade igualmente dividida entre a Ucrânia e a Rússia.Rússia aconselha Zelensky a negociar já para não perder mais territórioO Kremlin veio avisar Zelensky que deve negociar o fim da guerra, sob pena de a Ucrânia perder novos territórios, na sequência da divulgação do plano de paz norte-americano.“É melhor negociar e fazê-lo agora do que mais tarde. O espaço para tomar decisões para ele [Volodymyr Zelensky] reduz-se à medida que perde territórios” face à ofensiva das forças russas, afirmou o porta-voz do Kremlin.Dmitri Peskov disse também que a Rússia não recebeu oficialmente os detalhes da proposta dos Estados Unidos, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP)..Europa contra plano dos EUA que obriga Kiev a fazer concessões. A presidência ucraniana confirmou ter recebido o que classificou como um "plano preliminar" dos Estados Unidos para pôr fim à guerra com a Rússia, depois de na quarta-feira ter sido noticiado por vários órgãos de informação internacionais, incluindo o portal de notícias norte-americano Axios, uma proposta de 28 pontos de Washington, que implica a cedência do território ucraniano ocupado pela Rússia.Volodymyr Zelensky vincou na quinta-feira que a Ucrânia precisa de "uma paz digna", que respeitem a soberania, independência e dignidade do povo ucraniano".O presidente ucraniano vincou que planeia discutir o assunto "nos próximos dias" com o seu homólogo norte-americano, Donald Trump..Zelensky diz que paz deve respeitar independência e soberania da Ucrânia. Um alto responsável em Kiev lamentou, mais cedo nesse dia, que as propostas de paz tivessem sido preparadas pela Rússia e aprovadas pelos norte-americanos, sublinhando que o que Moscovo deveria fazer em troca era incerto, noticiou a AFP.A alta representante para os Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) rejeitou qualquer plano que não tenha o acordo da Ucrânia, enquanto país invadido, e a participação europeia, recordando a Washington que, neste conflito, "há um claro agressor e uma vítima".Kaja Kallas disse, antes do início de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, em Bruxelas, que o encontro iria debruçar-se sobre as "notícias recentes".Em Washington, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o plano de paz proposto pelos Estados Unidos é bom "tanto para a Rússia, como para a Ucrânia"."O presidente (Donald Trump) apoia este plano. É um bom plano tanto para a Rússia como para a Ucrânia, e nós pensamos que é aceitável para ambas as partes", disse Leavitt aos jornalistas, em resposta às informações de que o plano satisfaria Moscovo em vários pontos importantes.Paulo Rangel critica plano de paz de Trump por não ter ouvido previamente KievPaulo Rangel, ministro português dos Negócios Estrangeiros (MNE), criticou a proposta apresentada pelos Estados Unidos para pôr fim à guerra na Ucrânia por ter sido feita sem ouvir previamente as autoridades de Kiev.Esta proposta “deveria resultar de uma audição prévia da Ucrânia, que não foi feita. Isso é um aspeto que nós, obviamente, criticamos”, disse o chefe da diplomacia portuguesa.Ressalvando que não conhece exatamente os termos da proposta, Paulo Rangel adiantou ter estado em “troca intensa de comunicações com os seus homólogos da União Europeia” sobre a questão.“A ideia é que existem, no plano, alguns princípios que são positivos e que a Ucrânia estará disposta a explorar, e outros que, eventualmente, não são aceitáveis para a Ucrânia” adiantou o ministro, que falava no Portugal Internacional Summit, conferência organizada no âmbito do 4.º aniversário do canal CNN.O chefe da diplomacia portuguesa criticou ainda que a proposta não faça uma distinção entre o país agressor e o agredido. “A Rússia é o agressor e isso deveria ser claramente sublinhado”, mas, “aparentemente, não está feita na proposta a distinção entre o país que agrediu e o país que teve uma invasão de tipo agressão particularmente violadora do direito internacional”, alertou.Ainda assim, Paulo Rangel mostrou-se otimista, considerando que desde a tomada de posse da nova administração norte-americana, no início deste ano, foi observada alguma evolução sobre o conflito iniciado em fevereiro de 2022. “Temos visto que, nesta matéria, tem havido sempre alguma evolução”, frisou.Defendendo que o facto de a proposta da administração liderada pelo Presidente Donald Trump contemplar novas sanções à Rússia é positivo, Rangel sublinhou que se trata de “um processo”.“O que eu posso dizer e penso que mesmo assim já estou a ir um pouco para lá daquilo que devia, é que há pontos da proposta que foram bem recebidos pela Ucrânia e há pontos da proposta que não foram bem recebidos e, portanto, que existe margem para trabalhar pontos relevantes”, afirmou, garantindo que Portugal e a União Europeia estão totalmente solidários com a Ucrânia.“Não vemos a guerra na Ucrânia como um problema da Ucrânia, mas como um problema da Europa, como um problema da NATO, como o problema do eixo euro-atlântico, como um problema do mundo”, concluiu.