Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, bem como a líder da diplomacia da União Europeia, mostraram esta quinta-feira, 20 de novembro, o seu desagrado perante as notícias que dão conta de um plano de paz para a Ucrânia desenhado pelos Estados Unidos e que quer obrigar Kiev, entre outras coisas, a ceder mais território e a reduzir as suas Forças Armadas para metade. “Para que qualquer plano de paz tenha sucesso, precisa do apoio da Ucrânia e da Europa. Se a Rússia quisesse realmente a paz, teria aceitado o cessar-fogo incondicional oferecido já em março”, declarou a líder da diplomacia europeia, Kaja Kallas, após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27. “A Rússia tem demonstrado repetidamente um apoio superficial às negociações de paz, e as negociações anteriores falharam porque a Rússia nunca assumiu compromissos reais. A pressão deve recair sobre o agressor, e não sobre a vítima”.Na mesma linha, o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski, elogiou os esforços de paz, mas deixou claro que “a Europa é o principal ator, o principal apoiante da Ucrânia, e é, obviamente, a segurança da Europa que está em causa. Por isso, esperamos ser consultados”.Jean-Noël Barrot, o seu homólogo francês, deixou claro que “o princípio da paz deve começar por um cessar-fogo na linha de contacto, que permita o diálogo sobre as questões territoriais e as garantias de segurança. É isso que sempre dissemos, é isso que a Ucrânia sempre disse. Mas o que vemos hoje é que a Rússia e Vladimir Putin são um obstáculo à paz”. “A paz não pode ser uma capitulação”, acrescentou. Estas críticas tiveram eco também em Londres, com o gabinete do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a afirmar que embora partilhem “do desejo do presidente Trump de pôr fim a esta guerra bárbara. Já deixámos claro vezes sem conta que só o povo ucraniano pode determinar o seu futuro”. “Entretanto, continuaremos a apoiar a Ucrânia e a ajudar a garantir que dispõe do equipamento militar e dos recursos necessários para se defender desta agressão contínua”, disse ainda Downing Street. Kiev confirmou esta quinta-feira que recebeu um “plano preliminar” para pôr fim à guerra com a Rússia, afirmando estar pronta para trabalhar construtivamente com Washington. “O presidente ucraniano recebeu oficialmente um plano preliminar dos Estados Unidos que, segundo a avaliação norte-americana, poderá revitalizar a diplomacia”, declarou o gabinete de Volodymyr Zelensky no Telegram, acrescentando que o presidente planeia discutir nos próximos dias “as opções diplomáticas disponíveis e os principais pontos necessários para a paz”, com o homólogo norte-americano, Donald Trump. “Estamos prontos para trabalhar construtivamente com o lado norte-americano e os nossos parceiros na Europa e em todo o mundo para alcançar a paz”. Contrastando com este tom cordato, fontes governamentais ucranianas, em declarações a meios estrangeiros e a coberto do anonimato, classificaram o documento como “absurdo” e “inaceitável”.Para esta quinta-feira estava marcado um encontro entre Zelensky e o secretário do Exército dos Estados Unidos, Daniel P. Driscoll, que, horas antes, já se havia reunido com a primeira-ministra ucraniana. Falando sobre esse encontro, Yulia Svyrydenko, adiantou que os dois avaliaram “a situação no terreno e testemunhar em primeira mão as consequências da agressão russa”. Já o Kremlin reafirmou esta quinta-feira que um plano de paz para a Ucrânia terá de eliminar as causas profundas do conflito, sublinhando que não estão a decorrer negociações com os Estados Unidos sobre tal plano.“Não temos nada a acrescentar ao que foi dito em Anchorage”, declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, numa referência à cimeira de agosto no Alasca entre Vladimir Putin e Donald Trump. “Sendo assim, as consultas não estão em curso neste momento. Há contactos, claro, mas não há nenhum processo que possa ser chamado de consultas”.Ameaças russasKaja Kallas referiu também que a UE tem um plano de dois pontos para “enfraquecer a Rússia”, apontando a queda na receita fiscal de Moscovo sobre o petróleo como prova de que “as sanções estão a atingir a Rússia em força”. A reunião desta quinta-feira dos líderes da diplomacia dos 27 serviu também para discutir o 20.º pacote de sanções a Moscovo, que deverá incluir a frota fantasma russa, mas, segundo Kaja Kallas, os ministros não discutiram em pormenor a questão do financiamento para a Ucrânia, acrescentando que há um grupo de países que apoiam o empréstimo para reparações e que “reiteraram a urgência de avançar com isto”. “As discussões sobre o empréstimo para reparações também visam ajudar a Ucrânia a defender-se e enviar um sinal claro à Rússia de que não pode superar a Ucrânia em resistência”. Os 27 têm discutido nos últimos meses, sem sucesso, um plano para utilizar os ativos congelados da Rússia para gerar um empréstimo de 140 mil milhões de euros à Ucrânia, nomeadamente devido às objeções da Bélgica. Ontem, o parlamento russo aprovou uma resolução sobre o tema, alertando que esta é “uma apreensão ilegal de propriedade e, por isso, se for implementada, pode ser considerada um roubo”. “Qualquer ataque a ativos russos deve ser respondido com uma ação legal apropriada, começando com pedidos de indemnização, com um pedido de apreensão de ativos como medida de segurança, contra a Euroclear e a Bélgica, onde a maior parte dos fundos soberanos ilegalmente congelados está depositada, em qualquer jurisdição. Os ativos de não residentes de Estados hostis também podem ser utilizados como fonte de compensação”, diz ainda a resolução..“Estamos a lidar com uma escalada”. Rússia acusada de ataque à ferrovia que liga a Polónia à Ucrânia